Quem são os adeptos da filosofia de Osho, 30 anos após a morte do indiano 'guru do sexo'
*Laura Suprani
líder espiritual Rajneesh Chandra Mohan Jain, mais conhecido como Osho, era um defensor da meditação, da celebração e da criatividade. Nos anos 70 e 80, a força de seus discursos reuniu legiões de adeptos em um movimento internacional, com "filiais" em diferentes países. Mas o indiano também atraiu a ira de conservadores ao criticar a ortodoxia das religiões, as amarras das tradições e ao pregar a liberdade sexual, o que rendeu a ele o apelido de "guru do sexo". Depois de travar guerras contra seus inimigos e de cair em desgraça, ele morreu em janeiro de 1990. Trinta anos depois, porém, seus ensinamentos continuam atraindo adeptos.
É simples encontrar, hoje, pessoas que abraçam a filosofia proposta pelo guru, cujas palavras circulam com facilidade na era das redes sociais. A organização Osho International conta com 2,4 milhões de seguidores no Facebook e mais de 670 mil inscritos em seu canal no Youtube. A instituição tem aplicativos, newsletters, biblioteca e livraria on-line e uma série de vídeos sobre meditação. No Brasil, as reflexões do indiano também fazem sucesso. O perfil "Osho Brasil" no Instagram tem algo em torno de 890 mil seguidores, que acompanham posts com frases como "A criatividade é a maior rebelião da existência" ou "O amor dá liberdade. O amor é liberdade", ditas por Rajneesh em vida.
Nem todos que curtem ou comentam esses posts se autointitulam "sannyasins", como são chamados os discípulos de Osho. Mas a presença do guru na atualidade não se restringe ao mundo virtual. Somente no Brasil, existem cerca de 30 centros de meditação associados ao pensamento do indiano. No mundo, o número passa de 300. O objetivo, em geral, é transmitir ao público orientações, programas de meditação e a experiência espiritual das comunidades idealizadas por Rajneesh. A instituição Osho International tem sede em Pune, na Índia, onde também funciona um grande resort e um centro que promove cursos de meditação.
Com unidades em Porto Alegre e Rio, o Centro Namastê de Terapia Bioenergética
e Meditação oferece, diariamente, sessões de meditação a partir de técnicas
desenvolvidas por Osho, além de consultas coletivas e individuais de terapia
bioenergética, que utiliza exercícios de respiração a fim de lidar com a expressão emocional. Nesses locais, eles praticam a meditação ativa, com técnicas criadas pelo líder espiritual, que associam atividade e expressão à meditação. A ideia é que você expresse o que está sentindo antes de começar a meditar. Ao extravasar uma emoção, como raiva ou cansaço, ficaria mais fácil abraçar o silêncio.
Os criadores da comunidade alternativa Osho Rachana, em Viamão, perto de Porto Alegre, inspiraram-se nas comunas autossuficientes idealizadas pelo guru. O local, que está ligado ao Centro Namastê, surgiu em 2004 e, hoje, conta com mais de 80 moradores, entre famílias e indivíduos "avulsos", que moram no bucólico sítio de 42 hectares. Eles promovem atividades como terapias em grupo e banhos coletivos, cuidam da horta orgânica local e criam animais como porcos, coelhos e galinhas. A comunidade também recebe interessados em passar alguns dias no convívio entre eles, com direito a luau, caminhadas, sessões de meditação e práticas esportivas.
- A filosofia do Osho é questionadora, ele botava o dedo na ferida de vários assuntos, e por isso não foi bem aceito por algumas pessoas - diz a terapeuta Jani, do Centro Namastê. - Mas é importante ter visão crítica sobre si mesmo e sobre o mundo. Ajuda a abrir os olhos para a realidade e aprender a lidar com ela
Nascido em Kuchwada, na Índia, em 1931, Rajneesh começou a reunir seguidores
quando, nos anos 60, viajou pelo seu país fazendo discursos. Nessas ocasiões, ele enaltecia conceitos como harmonia e amor, criticando a ortodoxia da religião hindu, a maior da Índia, o que não era bem recebido pelo governo local. Para Osho, os dogmas das crenças tradicionais impedem as pessoas de viver em sua plenitude. Em 1974, ele se mudou para a cidade de Pune, onde estabeleceu um ashram (espécie de comunidade terapêutica), que atraiu centenas de estrangeiros. Entretanto, no fim dos anos 70, as rusgas entre Osho e o governo indiano ficaram insustentáveis.
Em junho de 1981, Osho e seu séquito se mudaram para uma propriedade de 260 quilômetros quadrados em Oregon, nos Estados Unidos. Nesta época, crescia no movimento a figura controversa de Ma Anand Sheela, secretaria pessoal e porta-voz de Rajneesh. Foi ela quem negociou a compra do terreno no condado de Wasco para fundar uma grande comunidade, conhecida como Rajneeshpuram, cujos integrantes viveriam segundo os preceitos do guru. Os problemas começaram porque moradores locais, na maioria idosos querendo sossego, não gostaram dos novos vizinhos, seguidores do "guru do sexo", e deram início a uma série de ofensivas. Com o tempo, a tensão entre o Rajneeshpuram e autoridades atingiu níveis perigosos.
Advogado defende Osho e diz que "Sheela era uma criminosa"
Às vésperas de eleições para o condado de Wasco, em 1984, Sheela e um grupo de seguidores de Rajneesh contaminaram a comida de dez restaurantes locais com a bacteria salmonela. Eles queriam impedir eleitores de votar, dando mais chances, assim, aos candidatos da comunidade do guru. Como resultado, 751 pessoas ficaram doentes. Quando o crime foi descoberto, Osho disse que não tinha nada a ver com aquilo, já que estava em isolamento espiritual. Ele culpou Sheela pelo bioterrorismo e outras infrações. O reinado do indiano começava a ruir. Sheela foi condenada, e o guru chegou a ser preso e processado. Ele foi deportado para a Índia, onde viveu no ashram de Pune até morrer, em 19 de janeiro de 1990.
O brasileiro Nirava Prabhodi, de 75 anos, viveu na comunidade no Oregon de 1982 a 1986. Ele descreve o cotidiano de Rajneeshpuram como “absolutamente fantástico”. Segundo ele, era como estar num oásis, onde todos usavam suas expertises em prol do coletivo, trabalhando muito, mas também desfrutando. A filosofia do indiano pregava que o mundo material e o espiritual não eram excludentes e, portanto, seus seguidores estavam livres para usufruir de prazeres como sexo e dinheiro. O próprio líder era dono de muitas jóias e de uma coleção de 90 automóveis luxuosos da marca Roll´s Royce.
- Osho uniu o Ocidente ao Oriente, espiritualidade e materialidade; dança, música, e artes com tecnologias avançadas. Cada discípulo expressa isso de forma única, livre e pessoal - conta o sannyasin Nirava. - O convívio era harmonioso, e a relação com as obrigações era eficiente e livre de estresse.
Para muitos, as palavras de Osho oferecem uma alternativa às tradições que os
limitam. Uma via para fugir do descontentamento com a rotina e as relações
cotidianas, assim como métodos de terapia convencionais.
- O Osho, pessoalmente, era absolutamente incrível - conta Nirava - Sua presença causava, por si só, algo próximo do êxtase, e, ao mesmo tempo, uma paz, uma percepção de amor e aceitação.
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