Top 10 Livros Indianos de Religião
1- If Truth Be Told, por Om Swami
Essa é a autobiografia do Om Swami, seu livro mais famoso. Quando eu fui para a Índia em agosto de 2017, os livros do Om Swami estavam na lista dos mais vendidos em tudo que é lugar, como lojas de aeroporto e livrarias.
Eu fiz uma resenha gigantesca e detalhada desse livro no meu blog, então aqui eu irei apenas resumir.
Om Swami nasceu na Índia, em 1979. Desde criança ele já era autodidata em várias áreas do conhecimento e muito interessado em religião. Seus pais eram religiosos, sua mãe lhe contava muitas histórias dos livros sagrados hindus quando criança, então desde cedo ele teve contato com esse universo e foi treinado por mestres, particularmente em astrologia.
Ele conta que quando adolescente aprendeu a fundo astrologia védica e fazia o mapa astral de muita gente. Inclusive, ganhou bastante dinheiro com isso. Ele costumava gastar seu dinheiro com livros e guardar outra parte. Também frequentava uma biblioteca perto de casa e retirava inúmeros livros desde criança (acho que ele lia uns cem livros por ano).
Aos 18 anos, desejando estudar fora, Om Swami viajou para Sydney com dinheiro limitado. Parte desse dinheiro era o que havia economizado com a leitura de mapas astrais ao longo dos anos e também de um emprego que teve como colunista para um jornal. Ainda assim, para pagar sua universidade ele teria que arranjar um emprego lá.
Ele conta como seu primeiro ano lá foi difícil. Ainda assim, ele obteve alguns empregos e conseguiu completar seu bacharelado em administração e também seu mestrado na mesma área.
Aparentemente, ele aprendeu sozinho como programar na linguagem C++ (e posteriormente aprenderia a programar em outras linguagens) e conseguiu ótimos empregos como programador. Ele conta no livro em detalhes como foi conseguindo empregos melhores através dos anos. Ele logo fez alguns investimentos (que ele já estava aprendendo a fazer com um parente, quando estava na Índia) e, resumo da história, aos 20 e poucos anos ele já era muito rico e aos 27 anos se tornou um milionário.
Ele conta como viajou para vários países, expandindo seus negócios. Depois da Austrália, também morou no Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e outros países. Comprou um Porsche, só usava ternos de marca (Armani, etc) e conta uma ocasião em que dirigiu a 280 km/h.
Lendo o livro, sinto que ele estava sempre em busca de novos desafios. Ele buscava aprender a fundo sobre uma área do conhecimento ou fazer algo difícil, mas logo se entediava. Após se tornar milionário, o mundo material já não tinha o mesmo brilho e se tornou algo trivial.
Aos 20 anos, quando já havia obtido a maior parte das coisas que desejava atingir, ele conversou com um amigo num restaurante e revelou que aos 30 renunciaria ao mundo. E foi exatamente isso que fez. Ao completar 30 anos, em 2010, deu todo o seu dinheiro (doou uma parte para instituições, outras deu para amigos, família, desconhecidos, etc) e voltou para a Índia sem quase um centavo.
Foi para Varanasi receber iniciação com um monge muito experiente e extremamente rigoroso. Sofreu muito durante esse período, passando fome, sendo picado por escorpiões e em diferentes ocasiões sendo levado para o hospital. Viveu por alguns meses com ele.
Até que ele decidiu deixar esse mestre e ir meditar sozinho em cavernas no Himalaia. Ele vivia no meio de animais selvagens, correndo risco de morrer o tempo todo. Escutava tempestades de chuva e neve ao seu redor, ouvindo a fúria da natureza. Tinha que enfrentar mosquitos, aranhas, ratos e muitos animais passando por cima dele enquanto meditava completamente imóvel.
Comia uma refeição pequena, uma vez ao dia. Nos seus períodos mais intensos, meditava até 22 horas por dia, inclusive períodos seguidos de 10 ou 13 horas sem interrupção. Sua necessidade de dormir era pouquíssima, devido às meditações. E após mais de um ano, correndo grandes riscos, finalmente atingiu a iluminação.
Alguns trechos do livro:
“Você sabe, irmão, a vida é como um menu. Temos que fazer escolhas, não podemos ter tudo. Mesmo que possamos pagar tudo, mesmo que desejemos comer tudo, simplesmente não podemos. Devemos escolher o que nos agrada e não apenas pedir o primeiro item no menu. Hoje também fiz uma escolha”.
“Minha mente tranquila e concentrada deu origem a um fenômeno incomum. Percebi que poderia desligar o coração à vontade. Eu não fiz yoga, não estava buscando fazer isso; simplesmente aconteceu naturalmente como resultado de minhas meditações extremamente poderosas. Eu ganhei um controle significativo sobre as funções involuntárias do meu corpo, incluindo a regulação da pressão sanguínea, temperatura corporal e frequência de pulso”.
“Meu relógio mostra 5:08 a.m. Eu orei alto e chorei de coração; eu até ri. Por um tempo, eu alternava entre rezar, chorar e rir. Gradualmente, percebi onde eu estava e o que acabava de ocorrer. Para o não-crente ou para o resto do mundo, minha experiência pode ser descartada como uma alucinação ou o produto de uma mente esquizóide. E isso está perfeitamente bom porque, se alguém me dissesse sobre esse tipo de coisa antes, eu também não acreditaria. Pode haver uma imaginação bastante vívida para capturar minha experiência, mas certamente não há palavras suficientes para descrever o que vi”.
“Por que o Buda levou seis anos para alcançar a libertação? Se fosse uma coisa instantânea, ele poderia ter tido isso no primeiro mês. Mahavira levou dez anos e Ramakrishna Paramahamsa doze anos. As experiências, lições, insights se somam, trazendo finalmente o ponto de realização. A água ferve a 100 graus Celsius, mas demora um pouco para chegar a essa temperatura. A chama que aquece a água já tem o potencial de queimar tão poderosamente quanto o sol, mas é a água que precisa chegar a ferver. A alma ou consciência é sempre pura; é a mente consciente que precisa alcançar o ponto de ebulição, enquanto o subconsciente tem que absorver os insights e a aprendizagem”.
“A iluminação não significa que você precisa viver como um indigente. Não significa que você se sujeite a uma vida de dificuldades e abstinência. Pelo contrário, ser esclarecido significa viver à luz do amor, da compaixão e da veracidade. Significa aprender a viver sem reservas e inibições”.
“Uma sensação de satisfação vem de caminhar pelo seu próprio caminho. Para alguns, pode ser meditação, para outros pode ser música, dança, pintura, escrita ou leitura. Encontre o que o faz feliz e persiga-o”.
“Não deixe a vida escorrer por você. Você é um mestre de infinitas possibilidades. Eu lhe dei a minha verdade. Vá, descubra a sua”.
“Não deixe a vida escorrer por você. Você é um mestre de infinitas possibilidades. Eu lhe dei a minha verdade. Vá, descubra a sua”.
2- Autobiografia de um Iogue, por Paramahansa Yogananda
Esse é um clássico. Li esse livro pela primeira vez quando eu era adolescente. Eu estava fazendo um curso de inglês e havia livros para retirar na biblioteca. Eu já conhecia esse livro desde criança e sempre tive vontade de ler, então agarrei a oportunidade.
Sendo assim, minha primeira leitura dele foi em inglês. Muitos anos depois eu compraria a versão em português e o leria de novo, pois eu já não lembrava de muita coisa.
Como é um livro muito conhecido, acho que não preciso explicar o conteúdo. Pensando bem, eu poderia ter colocado esse e o primeiro da lista no meu Top 10 Biografias. Nem me lembrei.
Já vi o documentário baseado na vida do Yogananda também. O livro quase parece uma história de ficção, de tão extraordinárias que são as histórias que o autor conta. Mas é lindo! E o Yogananda é um querido. Também dá para ver que ele sabe muito.
3- Am I a Hindu?, por Ed. Viswanathan
Esse era outro livro que estava em destaque nas livrarias quando viajei.
Um dos melhores livros que já li com explicações sobre hinduísmo. Há muitos capítulos que tiram praticamente qualquer dúvida que alguém possa ter. Ele até me tirou dúvidas que eu nem sabia que tinha. E ele vai desde o princípio. Respostas claras e detalhadas.
Na verdade, esse livro foi escrito com a intenção de um pai indiano que passou a morar nos Estados Unidos poder tirar as dúvidas de um filho pequeno americano que tivesse perguntas sobre a religião de seu povo.
Falo mais sobre esse livro nesse vídeo. O outro livro mostrado nesse mesmo vídeo será o próximo da lista.
4- Kundalini, por Om Swami
Livro do mesmo autor da primeira biografia. Na verdade eu li esse primeiro: uma boa parte dele durante um voo de Calcutá para Nova Délhi.
Nessa obra o autor explica passo a passo como acordar a fonte da kundalini, assim como seu significado esotérico e prático. Ele também trata do sistema dos sete chakras, apresentando a simbologia clássica e também o próprio sistema que ele desenvolveu com base em diversas escrituras e desvendou em suas meditações.
As informações são claras, diretas e muito úteis. O autor explica num tom divertido, adequado ao leitor ocidental contemporâneo. Eu diria que o Om Swami está para o hinduísmo assim como o Thomas Merton está para o catolicismo: ele deixa o leitor à vontade, sem fazer parecer que religião é algo antiquado, mas totalmente adequado à nossa época, usando analogias inteligentes e linguagem moderna.
5- The Chronicles of Hanuman, por Shubha Vilas
Assim que vi a capa desse livro em destaque numa livraria de um shopping de Nova Délhi, eu sabia que queria tê-lo. Meus parabéns ao designer da capa e ao ilustrador, pois o truque funcionou para me fazer comprar, hehe. Não que seja muito difícil convencer uma turista apaixonada pela Índia.
Falo um pouco sobre o livro nesse vídeo.
Eu visitei um templo do Hanuman em Nova Délhi e inclusive comecei a ver uma novela sobre ele pelo Youtube, que estreou na época que eu estava lá. Esse é o episódio 1, haha. Também vi os primeiros episódios de uma novela sobre o Ganesha.
O Hanuman me atraiu por ser um Deus que é um servo fiel (do Lorde Rama) e isso me traz lembranças da humildade de Jesus.
Ele é um dos personagens mais importantes do Ramayana. As histórias contadas nesse livro são simplesmente fascinantes e inspiradoras!
6- Understanding Sikhism, por Teja Singh
Comprei esse livro na lojinha de um templo sikh de Nova Délhi.
Antes eu pensava que o sikhismo era uma mistura de hinduísmo com islamismo, mas pelo jeito é mais parecido com confucionismo. Ele defende religião como meio para a moralidade, com o mínimo de ritualística possível. Voltaire iria gostar. E Bertrand Russell gostou bastante.
É difícil achar livros sobre essa religião, então achei que valia a pena mencionar pelo menos um.
7- Os Versos Satânicos, por Salman Rushdie
Uma obra de 1989. Não é exatamente um livro sobre religião, mas é uma obra de literatura que aborda fortemente o tema religioso, incluindo cristianismo, hinduísmo e islamismo.
Esse livro deu ao autor o Whitbread Prize e uma sentença de morte promulgada pelo aiatolá Khomeini. Felizmente o autor está vivo e escrevendo mais livros.
É um livro divertido, mas que também trata de temas bem sérios. Os dois personagens principais são o completo oposto um do outro. Gibreel é um ator indiano bastante orgulhoso de seu país, que admira apenas produções nacionais e é bastante alegre. Saladin, outro ator indiano, vai morar na Inglaterra, casa-se com uma inglesa e tenta tornar-se inglês em tudo, sendo de temperamento mais discreto. O avião em que os dois viajavam é vítima de um ataque terrorista e, antes de atingirem o solo para a morte, Gibreel transforma-se em anjo e Saladin em demônio.
A partir daí, os dois irão se envolver numa série de acontecimentos fantásticos, num estilo de realismo mágico. Admirável o capítulo que descreve a peregrinação para Meca, com o intuito de o anjo abrir o Mar da Arábia. Enquanto a maior parte está peregrinando a pé no sol, um deles está de carro e com ar condicionado. Há muitas outras passagens memoráveis e profundas.
Li esse livro há dois anos. Eu o comprei em uma livraria de Florianópolis. Sempre fui muito curiosa a respeito dele, exatamente devido à controvérsia que gerou. Se um cara é jurado de morte ao escrever um livro, no mínimo você precisa ficar com vontade de ler a obra para descobrir o que há de tão grave nela.
8- O tigre branco, por Aravind Adiga
Um dos mais famosos livros de literatura indiana contemporânea. Também não é um livro sobre religião, mas aborda o tema religião em alguns capítulos.
Comprei esse livro numa livraria de rua de Nova Délhi porque me foi recomendado pelo motorista do tuc-tuc (hindu) que costumava me levar pela cidade. Cada dia ele dizia: “Você precisa ler esse livro”, então eu acabei comprando.
É um livro ótimo, com reflexões profundas. Em especial, me marcou a parte em que o protagonista critica o Deus Macaco Hanuman exatamente por esse aspecto de servidão que ele possui, que, segundo ele, se reflete no comportamento de muitos indianos. Porém, é exatamente a humildade de Hanuman que me encanta.
9- Saman Suttam
O livro mais importante do jainismo, pois reúne escritos aceitos pelas duas principais seitas: Svetambara e Digambara.
Quando eu tinha 19 anos eu estava lendo e praticando o jainismo e para isso eu conversava com alguns indianos pela internet para me orientar. Esse foi um dos livros que um amigo me enviou pelo correio.
Eu o li e reli muitas vezes, provavelmente mais de cinco. Essa é uma foto que tirei do interior do livro, que é metade em inglês e metade em Prakrit:
Buda e Mahavira foram contemporâneos. Na verdade o fundador (ou reformador, pois segundo a lenda o jainismo é ainda mais antigo) do jainismo nasceu antes do Buda. Dizem que os dois nunca se encontraram diretamente, mas seus discípulos se viam com frequência e era comum que budistas se tornassem jainas e que jainas se tornassem budistas.
Tanto o budismo como o jainismo são religiões que tiveram origem no brahmanismo (que deu origem ao hinduísmo), ou surgiram paralelamente a ele, tendo fortes influências da cosmologia, metafísica, dentre outros elementos. Essas religiões são as chamadas sramanas, como também o é a Yoga e o materialismo indiano (carvaka).
Conceitos importantes do jainismo são: Ahimsa (não-violência); Anekanta (a doutrina dos múltiplos pontos de vista) e Syadvada (cada um pode estar certo sob seu ponto de vista). É uma religião complexa, com conceitos difíceis e bem originais.
10- Gender and Salvation, por Padmanabh S. Jaini
Esse livro é tão underground e “de nicho” que por um momento pensei que nem encontraria uma capa na internet. A minha edição é de 1991 e eu encomendei em 2005 de uma livraria de livros usados da Índia.
Para minha surpresa, o livro tem até na Amazon e essa edição vai ser lançada daqui duas semanas.
Para a seita Digambara do jainismo, uma mulher só pode atingir a iluminação se renascer como homem. Nessa obra, o autor debate essa questão, numa análise profunda das escrituras aceitas pelas duas seitas.
Eu mesma já tive debates desse tipo com vários praticantes do jainismo, tanto homens quanto mulheres, e com certeza é um tema quente.
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Não incluí livros de budismo nessa lista porque, embora eu já tenha lido dezenas de livros sobre o tema, a maior parte dos autores eram tailandeses, ou às vezes cingaleses ou birmaneses (ou mesmo americanos ou europeus), já que li mais sobre budismo Theravada, embora também um pouco sobre budismo tibetano, zen e terra pura.
Ah, sim, também já li alguns livros do Krishnamurti e gosto do autor. Enfim, tem tantos autores indianos bons que é difícil selecionar apenas alguns.
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