A LUZ QUE VEM DE DENTRO NA MEDITAÇÃO VIPASSANA: 10 DIAS EM SILÊNCIO MEDITANDO 10 HORAS POR DIA(DESCRIÇÃO COMPLETA)
A luz vem de dentro – 10 dias em silêncio meditando 10 horas por dia (completo)
Uma energia intensa descia pelo topo da minha cabeça. Era muito forte. De repente comecei a enxergar tudo branco. Uma sensação de paz e prazer enormes. Seria a iluminação? Claro que não, pensei. Ainda tenho muita coisa para aprender nessa vida. Será que estou ficando louco? Também não, estou mais lúcido do que o normal. Já passou das 18:30 e estamos em julho. É inverno. De onde vem essa claridade toda? Será que abro o olho para conferir? Se abrir pode ser que corte “o barato”. Bom, então vou permanecer de olhos fechados e continuar aqui “curtindo esse negócio”! Que coisa mais linda! Como faço para ter isso de novo? Será que se eu contar para outras pessoas elas vão acreditar? Como descrever sensações muito mais amplas do que as palavras dão conta? Quero continuar neste lugar. O corpo está leve e meu mundo está em paz.
Seria a iluminação? Claro que não, pensei. Ainda tenho muita coisa para aprender nessa vida. Será que estou ficando louco? Também não, estou mais lúcido do que o normal.
São 19h. Pausa para intervalo rápido antes da palestra do professor. Olho para os outros participantes. Teriam eles sentido as mesmas sensações que eu tive ou ainda estariam presos no inferno das dores dos primeiros dias? Ainda tenho que esperar mais 2 dias e meio para poder perguntar.
Eu ainda estou aqui.
Meu corpo já não dói tanto.
Minha mente tagarela já não reclama mais.
Eu estou em paz.
A preparação
Sempre tive o desejo de fazer um retiro em silêncio e ter um espaço onde pudesse realmente me observar sem ter todas as distrações da vida cotidiana, mas achava uma ideia quase impossível. Também pensei em fazer um processo menos radical, como um retiro de Yoga, com várias práticas corporais, meditação e alimentação vegetariana. Ficar zen! Este era o principal objetivo.
Foi então que um amigo me falou sobre uma técnica milenar chamada Vipassana. Segundo dizem, foi transmitida pelo próprio Buddha há mais 2300 anos atrás e é praticada na íntegra até hoje. Para dizer o mínimo, aquilo ali me pareceu bem exótico e sectário ao mesmo tempo. Contudo, pensem comigo, se o Buddha demonstrou a técnica de meditação e milhares de pessoas passaram pelo processo durante milênios, eu devo, pelo menos procurar saber do que se trata.
Quando mais eu lia e assistia documentários, mais eu ficava intrigado. Eu via os relatos e depoimentos, depois as pessoas com os olhos fechados, mas não explicavam exatamente qual era a técnica e o que elas estavam fazendo. Teriam mantras? Visualização? Para onde estaria voltada sua atenção?
Já vinha praticando algumas meditações por conta própria há mais ou menos um ano e meio. Mas não tinha um técnica definida e cada dia fazia um pouco diferente. Apesar da aparente inconstância, eu conseguia manter a prática quase diária (5 a 6 vezes por semana). Queria aprofundar, mas não sabia exatamente que caminho seguir. Já estava no mês de abril de 2016 e o retiro aconteceria em julho. Fiquei sabendo que era comum as vagas se esgotarem rápido e logo fiz minha inscrição.
A chegada
Fui para um centro de meditação Vipassana no município de Caeté próximo a Belo Horizonte. O local era uma pousada e foi alugado para a realização deste curso durante o período de julho de 2016. Chegando lá meu primeiro choque: imaginava encontrar um monte de pessoas mais velhas com cara de monges tibetanos (sim, eu também tenho meus preconceitos!) e o que vi foram várias pessoas jovens e bonitas!
25 homens e 50 mulheres foram os participantes, com apenas 2 desistências no final. O local era afastado da cidade e foi adaptado para seguir a técnica: homens e mulheres deveriam ficar separados e sem contato algum durante todo o período do curso. Para isto, a organização utilizou tecidos e tapumes separando os 2 blocos, impedindo assim o contato visual entre os membros do sexo oposto.
Preenchi os papéis e um termo de compromisso contendo 5 preceitos básicos:
- Não matar qualquer criatura (nem mesmo um inseto)
- Não roubar
- Não realizar nenhuma atividade sexual (Nem mesmo sozinho no chuveiro, hahaha!)
- Não mentir
- Não utilizar nenhum tipo de intoxicante (drogas, álcool, remédios, etc.)
A partir dali não tinha mais volta, agora era eu comigo mesmo e meu companheiro de quarto com o qual eu não poderia me comunicar.
Em seguida, veio o meu segundo choque e a realização de onde eu estava entrando. Peguei todos os meus pertences que pudessem gerar algum tipo de distração e coloquei dentro de uma sacola confiscada na entrada. Foram eles: carteira, celular, câmera fotográfica, caderno de anotações, caneta e um livro (nem sei porquê eu levei). A partir dali não tinha mais volta, agora era eu comigo mesmo e meu companheiro de quarto com o qual eu não poderia me comunicar.
Peguei todos os meus pertences que pudessem gerar algum tipo de distração e coloquei dentro de uma sacola confiscada na entrada.
Depois de acomodar as coisas no quarto fomos receber algumas instruções e em seguida jantar nos lugares demarcados para cada participante. Fiquei pensando em como aquilo ali parecia um acampamento militar e comecei a questionar se eu daria conta até o final.
Ainda estávamos autorizados a falar, pois o regime de silêncio começaria apenas no dia seguinte à partir do primeiro minuto do dia. Mesmo assim, os demais participantes pareciam estar atônitos, quase sem reação. A concentração estava no percurso ainda por vir: 9 dias e meio em silêncio, pois seríamos liberados para falar novamente na metade do último dia.
A abertura dos “portões”
4:15 da manhã tocou o primeiro sino. 4:25 tocou o segundo sino. Todos deveriam estar meditando às 4:30. Cada participante podia escolher entre meditar no quarto ou ir para a sala de meditação nas 2 primeiras horas. Fazia tanto frio na sala de meditação que eu me enrolei como pude no meu cobertor tentando manter minha concentração e calor corporal. Aos poucos, os demais participantes foram chegando e a sala foi se aquecendo. A cada uma hora de meditação, havia um intervalo de 5 mins para esticar as pernas, ir ao banheiro e tomar uma água. A cada retorno olhávamos para uma placa na porta com o escrito:
DIA 1
Até o final manteríamos a contagem regressiva com os dias na porta. Sem televisão e nenhum dos itens pessoais seria fácil de esquecer que dia estamos. Para falar a verdade, eu nunca tinha pensado isto. Apenas olhava para a placa e achava graça.
Fazia tanto frio na sala de meditação que eu me enrolei como pude no meu cobertor tentando manter minha concentração e calor corporal.
Depois do café da manhã, comecei a lembrar que, durante minhas práticas em casa, eu tinha conseguido meditar no máximo 1 hora direto, sem mexer e sem interrupções. Já considerava aquilo um grande feito. Contudo, agora eu estaria meditando 10 horas por dia durante 10 dias. É como um corredor inexperiente resolver correr uma maratona. Vai ser difícil, mas se ele souber dominar sua mente, tudo é possível, não é não?!
Na parte da tarde eu já estava um pouco mais agitado. Alguns incômodos de ficar muito tempo assentado começavam a surgir. Será que se eu trocasse a almofada ou mudasse a posição seria melhor?
Parabéns! Agora podemos ir embora. Esta era a minha resistência falando e eu estava apenas no início da montanha
Depois da palestra do professor e a última meditação eu só pensava em ir para cama. Uma voz dentro de mim dizia: você já fez o suficiente, já veio aqui e já viu como funciona. Não tem nada demais. Parabéns! Agora podemos ir embora. Esta era a minha resistência falando e eu estava apenas no início da montanha. O pior ainda estava por vir. Mesmo tendo conseguido superar todas as dificuldades e ter tido experiências maravilhosas, não sei precisar o que me manteve ali.
DIA 2
Acordo no segundo sino desesperado e grito no escuro com meu companheiro de quarto: “É o segundo sino?” Ele demora alguns segundos, chocado com a cena e responde baixinho: Sim…
Não peço desculpas pois entendo o que acabei de fazer. Nós 2 rimos sem nos olhar e seguimos com a rotina.
Carregando a mulher no rio
Ainda fico pensando sobre o meu erro de ter falado. “Mas foi sem querer…” – eu pensava em seguida. Este é o eterno dilema de pessoas muito perfeccionistas: ficarem presas no erro passado e arriscarem pouco no futuro por medo de errar novamente. Me lembro daquela história dos 2 monges que tem que atravessar o rio carregando uma mulher.
Dois monges viviam em um monastério e eram muito amigos, fazendo sempre seus afazeres em conjunto. Devido ao seu voto celibatário havia uma regra de que um homem nunca deveria tocar uma mulher.
Certo dia, os dois se depararam com uma mulher jovem e bonita que estava com dificuldades para atravessar o rio. A mulher, humildemente pede ajuda e um dos monges diz:
– Infelizmente não podemos ajudá-la pois fizemos um voto de que não poderíamos tocar em mulher alguma.
O outro monge, após refletir um pouco replica:
– Entretanto, também fizemos voto de ajudar a todas as pessoas e criaturas deste mundo, sem haver distinção.
O outro monge, após refletir um pouco replica:
– Entretanto, também fizemos voto de ajudar a todas as pessoas e criaturas deste mundo, sem haver distinção.
Em seguida, ele coloca a mulher nas suas costa e atravessa o rio.
Os dois seguem caminho e permanecem durante um bom tempo em silêncio. Após algumas horas, ainda pensando sobre o acontecimento, o primeiro monge diz:
– Você não devia ter carregado aquela mulher…
O segundo monge ri e calmamente responde:
– Eu a carreguei e a deixei na outra margem do rio quilômetros atrás. E você ainda a está carregando.
Quantas vezes na vida não continuamos carregando a mulher do rio? Nessa hora me veio o insight que o mais importante não era não falar e ficar em silêncio. O mais importante era usar a ferramenta do silêncio verbal para silenciar a mente. Não adianta nada ficar calado se a sua mente não para de falar! Não adianta você ir para o lugar mais calmo do mundo se você continua carregando todos os seus problemas junto com você!
Continuo o meu dia mais aliviado e menos culpado pelo meu “erro”. Outras preocupações mais importantes e imediatas apareciam ali: a dorzinha do primeiro dia começava a crescer e eu ainda não tinha encontrado uma posição que conseguisse permanecer tanto tempo sem me incomodar. Formigamentos na perna e algumas dores nas costas e ombros começavam a surgir. Conseguia me manter imóvel de 20 a 30 minutos, mas aí a dor surgia e eu acabava mudando de posição.
Formigamentos na perna e algumas dores nas costas e ombros começavam a surgir.
No final do dia, mais uma vez, eu só queria dormir. Não desejava pensar em nada, apenas descansar. Troquei de roupa, me enrolei nas cobertas e em poucos segundos apaguei.
DIA 3
Decido fazer a primeira meditação do dia no meu próprio quarto. Acordo 4:15, escovo os dentes lavo o rosto e 4:30 eu assento em uma cadeira enrolado no meu cobertor. 5:30 faço meu intervalo, bebo água e vou para a sala de meditação. Sem querer, acabo criando uma rotina que me salvou no final: variar minhas posições de meditação para aliviar as articulações.
Durante a maior parte do dia me assento na posição clássica com as pernas cruzadas e assentado sobre uma almofada mais dura. Contudo, descubro que consigo permanecer bastante tempo assentado sobre os calcanhares e com o joelho dobrado, como se estivesse rezando. Para isto, coloco uma almofada abaixo do meu tornozelo e 2 almofadas entre os calcanhares e minha nádega. Vejo outros participantes olharem para mim incrédulos, como se eu estivesse pagando alguma penitência. Apesar de tudo, me sinto bem e a variação me traz alívio de determinadas dores.
DIA 4
Start Again
Finalmente entramos na técnica Vipassana propriamente dita. Até então estávamos praticando ou outra técnica chamada Anapana que era uma espécie de preparação para auxiliar nossa capacidade de manter a concentração. Eu já estava achando aquilo tudo incrível, pois havia ficado horas percebendo o ar que passava pelas minhas narinas e cada vez mais minha percepção do que eu achava que conhecia, se expandia. É claro que em vários momentos eu me desconcentrava e me perdia em outros pensamentos, mas a técnica era clara: comece novamente (start again!).
Comece novamente. É quase um mantra. Errou? Não se preocupe, comece novamente. Boiou? Não se preocupe, comece novamente. Viajou? Não se preocupe, comece novamente. O pensamento é um fluxo e não conseguimos interrompê-lo, mas toda vez que a correnteza toma um rumo inesperado é possível puxá-la de volta para o seu trajeto. Os budistas se referem a isto como The Monkey Mind (a mente de macaco) pois os pensamentos ficam pulando de galho em galho.
Durante as palestras no final do dia, era reproduzido um áudio gravado e traduzido para o português onde eram transmitidos os ensinamentos do grande precursor desta técnica para o ocidente, S. N. Goenka. Sempre irreverente ele discorria sobre alguns ensinamentos do budismo, sem ser dogmático, pois esta não era uma filosofia religiosa e sim uma técnica que todas as religiões poderiam se beneficiar sem romper em nada com suas filosofias.
Criamos uma reação de APEGO ou AVIDEZ em relação as situações prazerosas e uma reação de AVERSÃO ou REPULSA as situações desprazerosas.
O principal ensinamento era: a mente percebe, interpreta e categoriza as diversas emoções / sensações / experiências – desde as mais sutis até as mais grosseiras – e as divide em 2 blocos: aquilo que me gera prazer, bem-estar, satisfação, e aquilo que me gera desconforto, dor, incômodo. A partir desta cisão e tendência dualista, criamos uma reação de APEGO ou AVIDEZ em relação as situações prazerosas e uma reação de AVERSÃO ou REPULSA as situações desprazerosas. Portanto, se eu gosto de uma coisa, eu quero mais dela e desejo permanecer naquilo que é gostoso, se eu não gosto, eu fujo e não quero entrar em contato. E pela vida afora vamos repetindo esse comportamento que Freud chamava de princípio do prazer. Apesar de ter estudado isso na Psicologia, achei tão clara e simples a explicação budista que fiquei impressionado.
Com o tempo, o poder de concentração ia aumentando cada vez mais e mesmo os desconfortos das dores já eram suportados por mais tempo do que no início. O segredo era focar toda a atenção no presente momento sem emitir julgamentos de valor.
DIA 5
Agora já podia ser considerado um meditador Vipassana. Já estava praticando a técnica. Uma coisa era ficar concentrado apenas na região do nariz e ficar prestando atenção no ar que entra e sai. Outra era fazer uma espécie de escaneamento do corpo inteiro e tentar perceber uma gama enorme de sensações que eram emitidas. Era como se eu tivesse aprendido a velejar numa lagoa e de repente tivesse sido apresentado ao mar.
Pode parecer bobo falar assim, mas realmente fui descobrir um universo dentro de mim através da coisa mais elementar: a minha própria respiração.
Se meu corpo é meu barco, meu nariz então é meu timão. Para não me perder no meio do oceano de possibilidades que se apresentavam, minha atenção sempre voltava ali: no ar que passa pelas minhas narinas, na ponta do meu nariz. Pode parecer bobo falar assim, mas realmente fui descobrir um universo dentro de mim através da coisa mais elementar: a minha própria respiração. Aquilo ali era a chave de tudo. Se perdeu? Então volte sua atenção para a respiração e observe.
Outra coisa que começava a ficar clara é que algumas dores eram passageiras. Vinham e perduravam pouco tempo e já se despediam. Enquanto isto, outras permaneciam e eu já estava bastante preocupado. Meu joelho doia tanto quanto quando percorri o caminho de Santiago de Compostella.
Confira também o relato desta experiência emocionante:
http://www.felipeataide.com/900km/
http://www.felipeataide.com/900km/
Na palestra o Goenka dizia que todas as dores são passageiras. Tudo é passageiro! Essa vida é passageira. Uma coisa é você entender intelectualmente, outra coisa é vivenciar isto na prática. Experimente conversar com uma pessoa que está agonizando de dor e lhe diga que a dor é passageira e veja o que acontece…
Brincadeiras a parte, tente fazer o contrário: reflita sobre como tudo é passageiro, mesmo a dor (principalmente se você não está sentindo um enorme incômodo neste momento). Medite sobre este assunto. Reflita novamente. Pratique. De repente, você começa a perceber que sua “tolerância a dor” aumenta. A dor não diminiu, nem você ficou mais forte. Mas alguma coisa mudou, pois parece que não está doendo tanto.
Não gosto muito desta palavra “tolerância” pois dá uma conotação masoquista, como se a gente quisesse ficar lá sofrendo, sem fazer nada para modificar aquilo que está gerando desconforto. Entretanto, o que está em jogo aqui é compreender que muitas vezes o incômodo maior não é a dor em si e sim a aversão gerada pela mente, seguida por “falas” incessantes dentro da nossa cabeça.
DIA 6
Dor e sofrimento: o conceito e a experiência
There’s a difference between knowing the path and walking the path (Há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho) dizia o personagem Morpheus do filme Matrix. Posso estudar tudo sobre um assunto mas existe um grande contraste quando eu decido experimentar na prática.
Perceber, sentir, não julgar, não se apegar ou criar uma aversão em relação às experiências era lindo! Permaneça equânime, dizia o Goenka. Mas meu joelho estava doendo muito!
Foi então que tive o que chamo de meu momento Matrix: descobri meus verdadeiros poderes e consegui congelar as balas de revólver no ar. Estava totalmente entregue na meditação, mesmo com as dores quando, de repente, tudo ficou suspenso durante uns 20 ou 30 minutos. Eu juro, foi uma sensação de parar o tempo. Todas as dores pararam. Era como se o corpo estivesse ali, parado e a conexão com a dor tivesse sido interrompida. Foi incrível!
A dor é um mecanismo do corpo enquanto o sofrimento é um mecanismo da mente.
Neste instante, outro conceito budista ficou claro: existe uma diferença entre dor e sofrimento. A dor é um mecanismo do corpo enquanto o sofrimento é um mecanismo da mente. Eu posso sentir dor sem necessariamente estar sofrendo tanto com aquilo. Assim como eu posso estar sentindo pouca dor e gerar um sofrimento muito maior do que o necessário (Se é que algum sofrimento é necessário…). Segundo o próprio Buddha, a técnica Vipassana tem o objetivo de erradicar (é essa palavra mesmo!) o sofrimento, pois trabalha num nível mais profundo da mente.
Hora do intervalo. Volto a atenção para o meu corpo e quase não consigo me levantar. Minhas pernas estão totalmente dormentes. Demoro alguns minutos para retomar a circulação. A dor retorna. Não houve mágica. Contudo, diria que ela volta com 50% da intensidade. Me vem uma certeza que deste momento em diante a dor vai passar. Me sinto confiante de que o pior já passou.
DIA 7
A luz vem de dentro
Sigo minha rotina concentrado. Sem julgamentos: medito assentado na cadeira do quarto, ajoelhado no colchão ou assentado com pernas de índio. No horário de descanso depois do almoço aproveito para deitar e mantenho a mesma concentração. A técnica já está introjetada. Se sinto vontade de cochilar, me autorizo a esta pequena indulgência. Sei que meditar deitado não funciona para mim, pois havia tentado fazer isto no segundo dia e acabei dormindo em 5 minutos. Apaguei de barriga para cima e comecei a roncar tão forte que acordei com meu próprio barulho!
Meditar é igual a qualquer outra atividade física: quando você não ainda aprendeu direito, não é tão divertido.
O dia segue em paz e o corpo dolorido já não incomoda tanto. Meditar é igual a qualquer outra atividade física: quando você não ainda aprendeu direito, não é tão divertido. Depois, quando se vai pegando o jeito é que se vai tomando mais gosto pela coisa. Como tudo, antes de ser fácil, é difícil. O processo de aprendizado é assim. Me lembro, por exemplo, da minha filha começando a andar. No início, apenas se levantar e ficar apoiada na parede já era uma vitória. Nem lembramos mais que caminhar, um dia, foi difícil para nós também. Portanto, procuro sempre ter essa mentalidade comigo: se eu me esforçar o suficiente para aprender aquilo que quero, aquela atividade, um dia, vai se tornar fácil.
A técnica Vipassana tem uma coisa muito legal: quando você se entrega, de verdade, deixando os APEGOS e AVERSÕES às sensações boas ou ruins apenas passarem, o fluxo de energia vai ficando mais livre. Eu conseguia observar determinadas dores ou tensões surgirem, ficarem poucos minutos e quando eu voltava minha atenção para a mesma região, aquilo já tinha sumido. É lógico que haviam momentos em que eu “agarrava” um pouco, pois o incômodo era maior do que uma simples “dorzinha”. Mas eu ficava ali, imóvel, apenas observando quando aquela sensação iria passar. Foi então que tive a experiência mais prazerosa de todo o retiro.
Uma energia intensa descia pelo topo da minha cabeça. Era muito forte. De repente comecei a enxergar tudo branco. Uma sensação de paz e prazer enormes.
Seria a iluminação? Claro que não, pensei. Ainda tenho muita coisa para aprender nessa vida. Será que estou ficando louco? Também não, estou mais lúcido do que o normal. Já passou das 18:30 e estamos em julho. É inverno. De onde vem essa claridade toda? Será que abro o olho para conferir? Se abrir pode ser que corte “o barato”. Bom, então não vou abrir o olho e vou continuar aqui “curtindo esse negócio”! Que coisa mais linda! Como faço para ter isso de novo? Será que se eu contar para outras pessoas elas vão acreditar? Como descrever sensações muito mais amplas do que as palavras dão conta? Quero continuar neste lugar. O corpo está leve e meu mundo está em paz.
São 19h. Pausa para intervalo rápido antes da palestra do professor. Olho para os outros participantes. Teriam eles sentido as mesmas sensações que eu tive ou ainda estariam presos no inferno das dores dos primeiros dias? Ainda tenho que esperar mais 2 dias e meio para poder perguntar.
Eu ainda estou aqui.
Meu corpo já não dói tanto.
Minha mente tagarela já não reclama mais.
Eu estou em paz.
DIA 8
Permanecer no bom
Ainda impactado pela experiência do dia anterior, fico buscando compreender o sentido de tudo aquilo. Alterno entre pensamentos místicos e científicos. Procuro encontrar respostas metafísicas para documentar na minha memória tudo aquilo que vivi. A sensação de calma e paz permanece juntamente com um grande conforto de estar dentro do meu próprio corpo.
A sensação de calma e paz permanece juntamente com um grande conforto de estar dentro do meu próprio corpo.
Na parte da tarde, procuro repetir o processo para sentir a mesma energia novamente. Depois de algumas tentativas sem sucesso, desisto de ficar forçando a barra. Como todo iniciante, acabo caindo justamente no APEGO à sensação prazerosa. Queria fabricá-la a qualquer custo, pois foi tão intenso e maravilhoso! Mas o mestre já advertia: tudo é passageiro. Tanto o que é ruim quanto o que é bom também. Me senti infantil e bobo por ter caído na pegadinha da minha minha própria mente.
Start again! Foi bom? Foi ruim? Não importa. Apenas comece novamente. E em pouco tempo eu já estava recuperado e já tinha virado a página do apego, frustração ou avidez. Já estava no fluxo novamente, sem me identificar com aquilo que sentia. Era quase como se eu houvesse me tornado um observador de mim mesmo. “Tô ficando bom nesse negócio!” – logo pensei.
Bad Trip
Foi então que, mais no final do dia, na última meditação antes da palestra eu tive uma bad trip (“viagem errada”). Eu comecei a pensar na pior coisa que poderia me acontecer naquele momento. Não era o maior sofrimento, como uma morte de uma pessoa querida, por exemplo. Era uma situação que iria machucar muito o meu ego. Fui observando minha mente criando aquela intriga toda, de como é que a situação aconteceria, com todas as traições e abandonos necessários para gerar tamanha amargura. O mais estranho é que eu percebia que aquilo não era “real”, mas eu tornava aquilo real. Posso dizer que atravessei o inferno da minha própria mente, criado por mim mesmo. Fiquei impressionado e até orgulhoso de ter suportado o meu próprio veneno em tão alta dosagem.
O mais estranho é que eu percebia que aquilo não era “real”, mas eu tornava aquilo real. Posso dizer que atravessei o inferno da minha própria mente, criado por mim mesmo.
A meditação já estava quase chegando ao fim e eu já havia retomado o fluxo de energia pelo corpo. Estava me recompondo de toda aquela toxicidade gerada, quando, eis que minha mente tira lá do fundo algo ainda pior. Não resisto: desabo no choro e cubro o rosto para não ter que olhar os demais participantes.
Pronto, o martírio havia acabado. O choro ajudava a limpar todo aquele tormento causado. O coração amolecia diante do medo do ego de perder todo o seu amor. Era necessária toda aquela experiência. Foi uma aula. A mente que mente. Lembre disto: não confie nela! Ela é ardilosa! Ela é capaz de qualquer tramóia para te provar no final que você está certo. Termino o dia pensando na história do macaco emprestado, conhece? Vou contar:
Um homem teve o seu pneu furado em uma estrada deserta à noite. Ao descer do carro e abrir o porta-malas, ele percebeu que havia perdido o macaco. Então, ele avistou uma casinha um pouco longe e resolveu ir até lá pedir o macaco emprestado. Enquanto caminhava, ficou pensando que o dono da casa não atenderia a porta por já estar um pouco tarde, além disto, poderia pensar que ele fosse um bandido. Em sua cabeça o diálogo continuava:
– Vou dizer que sou uma pessoa honesta e que preciso apenas de um macaco emprestado. Não custa eu arriscar, ele vai entender.
Continuou caminhando e pensando. “Mas, mesmo se ele abrir a porta, não vai querer emprestar o macaco pra um desconhecido, pois vai pensar que não vou devolver.”
– Vou dizer a verdade sobre o que aconteceu, alguém deve ter roubado o meu macaco e eu não vi. Só fui descobrir hoje.
Aos poucos, os pensamentos foram ficando mais intensos. “Ele não vai querer emprestar o macaco de graça vai me cobrar uns 10 reais… Mas como ele vai ver que eu estou aqui desesperado ele vai me explorar, acho que vai cobrar uns 30 reais! Se ele levar em conta que não tem mais nada por aqui e que eu estou perdido, vai ser no mínimo uns 200 reais. É lógico que ele vai achar que eu não vou devolver o macaco e assim ele vai ter que comprar um para ele depois. Então ele tem que cobrar no mínimo o preço de 2 macacos, o meu e o dele.”
Os pensamentos negativos continuaram a tomar conta dele e quando finalmente chegou na casinha, tocou a campainha e o dono apareceu:
– Pois não?
– Pois não o car@#$% !!!! Quer saber? Pega o seu macaco e enfia no @#%*!!!!!
DIA 9
A barraca e o acampamento
Acordo tranquilo, mas com uma certa ressaca moral. Por que é tão difícil viver o presente momento? Por que temos sempre a tendência de nos manter presos em eventos passados ou ficar fantasiando um futuro que ainda não chegou? Ainda permaneço atônito com as intrigas criadas na minha própria cabeça. O que mais me assusta é a constatação de que milhares de pessoas vivem presas nas suas próprias construções mentais, acreditando que aquilo é a verdade, sem nunca ter um vislumbre da separação em o EU SOU e o EU PENSO. Somente um trabalho de introspecção e observação como a meditação é pode proporcionar isto.
Já não sinto o êxtase da luz de dentro, mas sou ocupado por uma paz quase imperturbável. Me sinto como um Dalai Lama, que parece sempre sereno diante as mais adversas situações da vida.
Me observo. Fico atento para qual vai ser a próxima pegadinha escondida em um dos meus pensamentos. Já não carrego mais a mulher do rio comigo. Consigo virar a página. A cada meditação estou presente em cada respiração e cada segundo. Já não sinto o êxtase da luz de dentro, mas sou ocupado por uma paz quase imperturbável. Me sinto como um Dalai Lama, que parece sempre sereno diante as mais adversas situações da vida.
Então, enquanto deixava a energia fluir pelo meu corpo e notava cada detalhe, comecei a sentir um calor brotando do meu 1º chakra e se alastrar por toda a área pélvica e região sexual (2º chakra). Não adiantava fazer nada, a barraca já estava armada! Eu juro que não estava pensando em nada naquele momento! Foi pura energia, energia bruta! (risos) Com uma certa vergonha, tomei minha decisão e assumi minha postura de meditador Vipassana: não me mexeria nem um centímetro, custe o que custar. Me permiti sentir a onda de calor e excitação, tendo a certeza de que aquilo tudo seria passageiro. Tudo que sobe, desce (risos). E assim, com o “acampamento desmontado”, retomei minha viagem rumo ao interior de mim mesmo. O calor diminuiu e voltei a me concentrar novamente.
E assim, com o “acampamento desmontado”, retomei minha viagem rumo ao interior de mim mesmo. O calor diminuiu e voltei a me concentrar novamente.
Animosidade
No final do dia, na última meditação, comecei a ouvir um pernilongo bem próximo ao meu ouvido. Lembra dos 5 mandamentos que nos comprometemos no início do retiro? Pois é, um deles era não matar qualquer tipo de criatura viva. Nem mesmo insetos. Durante toda minha estadia eu olhava para o chão tentando não pisar em formigas que estivessem no meu caminho. Não sou radical assim na minha vida cotidiana, mas uma vez que decidi experimentar a técnica eu iria até o fim.
É claro que eu estava de olhos fechados, mas já “enxergava” o que estava para acontecer. Numa situação normal, qualquer um já teria abanado para tentar espantar o sanguessuga. Neste momento eu o sinto pousar na lateral do meu pescoço e seu ferrão adentrar lentamente na minha pele. “Seu filho de uma @#$%!!!!”, grito em silêncio. Rapidamente começo a ficar com calor e suar. Compreendo mais um dos ensinamentos sempre enfatizados pelo Goenka: não gerar animosidade.
Rapidamente começo a ficar com calor e suar. Compreendo mais um dos ensinamentos sempre enfatizados pelo Goenka: não gerar animosidade.
A animosidade é essa excitação, ardor ou calor intensos gerados por fortes emoções. O que não percebemos muitas vezes é que a animosidade pode ser uma estratégia da nossa própria mente para manter o controle do nosso ego. Isto é Vipassana: compreender o funcionamento mais profundo da mente, sem paliativos, sem distratores. A erradicação do sofrimento só é possível quando estamos 100% presentes no momento, entregues à experiência, seja ela qual for. A animosidade parece ser uma reação natural, mas, na verdade, ela te rouba o presente e te joga na AVERSÃO de onde você não quer estar. Ficamos presos na emoção daquilo que não queremos.
Permaneço imóvel. Dentro dos meus parâmetros, passei no teste. Não matei nem mesmo o pernilongo que me picou. Contudo, observo como a raiva que eu senti gerou tanto calor no meu corpo. Percebo que meu autocontrole acontece dentro de um setting (uma configuração) de retiro de meditação e imagino em quantas mil situações não cedemos a raiva e agimos de acordo com o primeiro impulso.
DIA 10
Anitchaaaaaaaa
Momentos finais de silêncio. Durante as instruções, ficamos sabendo que após às 11h poderíamos nos comunicar com os outros participantes – fora da sala de meditação! Sinto um certo receio pois gostei muito de ficar todo este tempo calado. Fico com medo de perder toda a calma e paz conquistadas. Mais uma vez a mesma lição: “Tudo é passageiro, não se apegue a nenhuma experiência.”
Assim que escutamos a liberação, minutos antes das 11, um dos homens sai correndo para ser o primeiro a chegar lá fora e grita do fundo da alma: Anitchaaaaaaa*! Todos caem na gargalhada em seguida.
* Anitcha é uma palavra que o Goenka repetia sempre no final das instruções e significa impermanência. Sua origem vem do sânscrito – anitya – e é anterior a existência do próprio budismo. Tudo é impermanente. Enquanto nos apegarmos as coisas materiais haverá sofrimento, este é o ensinamento.
Fico mais alguns minutos me preparando para sair. Escuto o burburinho crescente fora da sala de meditação. Me apronto para a batalha da “vida real” fora desta zona de segurança que eu criei. A partir de agora, o fluxo de energia seria muito mais intenso e difícil de controlar.
Saio da sala e encontro com meu amigo de outras vidas que assentou-se ao meu lado durante todo o retiro. Nos abraçamos fortemente, agradecidos pela presença silenciosa e companheira um do outro.
Outros participantes vem nos cumprimentar e muitas das histórias ficam guardadas para serem compartilhadas em um momento posterior. Começo a falar e escutar. Fico impactado com o prazer que sinto em ouvir minha própria voz! Acho engraçado meu egoísmo e egocentrismo, mas não me culpo. A cada conversa uma alegria enorme de me escutar e poder utilizar o meu corpo para produzir sons. Estava me sentindo como um alienígena que havia acabado de ganhar um corpo humano. Era tudo muito sensorial e puro naquele instante.
A partir dali as meditações seguintes foram marcadas por uma agitação que se percebia por pequenos movimentos e barulhos constantes. Era como se houvéssemos retornado ao primeiro dia. Impressionante como o simples fato de poder falar gerava tanto ruído.
DIA 11
O regresso
Cada participante devia organizar seus pertences, tomar café da manhã e partir. Apesar da vontade de conversar, eu tinha uma família com mulher e filha me esperando em casa. A saudade só apertou ainda mais quando liguei meu celular e começaram a chegar vídeos pelo Whatsapp. O sinal estava muito fraco, mas consegui assistir à minha filha (com 2 anos e meio na época) perguntando: “Cadê o papai, mamãe? Eu estou com saudades…” Chorei e aumentei a velocidade da arrumação para sair mais rápido.
Com tudo pronto e amarrado na moto, coloquei fone, capacete, jaqueta e luvas. Voltei pela estrada que liga Caeté a Belo Horizonte passando por Sabará. Já tinha uma trilha de músicas empolgantes preparada. Cantava com uma imensa felicidade. Me sentia como um explorador retornando de uma expedição para as regiões mais inóspitas da Terra, trazendo consigo importantes informações capazes de alterar o rumo de sua própria existência.
Fonte:http://www.felipeataide.com/10-dias-em-silencio-meditando/
Galeria de Imagens
Fotos tiradas no último dia após a liberação da segregação entre os participantes. Clique em qualquer miniatura para ampliar e navegue com as setas do teclado.
Site Official do Vipassana Mundial
Ótimo para consultar datas e localidades dos próximos cursos. O grupo do Facebook que participo é fechado para ex-alunos.
https://www.dhamma.org/pt-BR/about/code
https://www.dhamma.org/pt-BR/about/code
Eliane Brum (Jornalista)
Texto maravilhoso sobre a experiência dela! Queria escrever algo deste nível. Me inspirou antes e depois do Vipassana.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR80874-8055,00.html
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR80874-8055,00.html
The Dhamma Brothers
Documentário fantástico falando sobre a implementação da meditação Vipassana em uma prisão nos Estados Unidos.
Reportagem especial do Hypeness
O QUE É A MEDITAÇÃO VIPASSANA
Vipassana, que significa ver as coisas como realmente são, é uma das mais antigas técnicas de meditação da Índia. Foi redescoberta pelo Buda Gotama há mais de 2500 anos e ensinada por ele como um remédio universal para males universais, ou seja, uma Arte de Viver. Esta técnica não sectária visa a total erradicação das impurezas mentais e a resultante felicidade suprema da libertação completa.
Vipassana é um caminho de autotransformação através da auto-observação. Focaliza-se na profunda interconexão entre a mente e o corpo, que pode ser experimentada diretamente pela atenção disciplinada às sensações físicas, que formam a vida do corpo e que se interconectam continuamente e condicionam a vida da mente. É esta jornada de autoconhecimento baseada na observação à raiz comum da mente e do corpo que dissolve as impurezas mentais, resultando numa mente equilibrada, cheia de amor e compaixão.
As leis científicas que acionam os pensamentos, sentimentos, julgamentos e sensações tornam-se claras. Pela experiência direta, compreende-se a natureza de como se progride ou regride, como se produz sofrimento ou se liberta do mesmo. A vida começa a caracterizar-se pelo aumento da consciência, libertação de ilusões, autocontrolo e paz.
A Tradição
Desde o tempo do Buda, a Vipassana tem sido transmitida, até ao presente momento, por uma ininterrupta cadeia de professores. Embora de origem indiana, o atual professor nesta cadeia, Sr. S.N. Goenka, nasceu e foi criado na Birmânia (Myanmar). Enquanto viveu lá, ele teve o privilégio de aprender Vipassana com o seu professor, Sayagyi U Ba Khin que, naquela época, era um alto funcionário público. Depois de ser treinado pelo seu professor durante catorze anos, o Sr. Goenka estabeleceu- se na Índia, iniciando os seus ensinamentos de Vipassana em 1969. Desde então, ele tem ensinado dezenas de milhares de pessoas de todas as raças e religiões, no ocidente e no oriente. Em 1982 ele começou a nomear professores assistentes para ajudá-lo a corresponder à demanda crescente por cursos de Vipassana.
Os Cursos
A técnica é ensinada em cursos residenciais de dez dias, durante os quais os participantes seguem o Código de Disciplina recomendado, aprendem os conceitos básicos do método e praticam o suficiente para experimentar os seus resultados benéficos.
O curso requer trabalho sério e árduo. Há três passos no treino. O primeiro passo é abster-se — durante todo o curso — de matar, roubar, manter atividade sexual, mentir e tomar intoxicantes. Este simples código de conduta moral serve para acalmar a mente que, de outra forma, estaria muito agitada para executar a tarefa de auto-observação. O próximo passo é desenvolver o domínio da mente aprendendo a fixar a atenção na realidade natural do fluxo da respiração, sempre em mudança, enquanto entra e sai das narinas. Ao quarto dia, a mente está mais calma e mais focada, estando melhor preparada para empreender a prática de Vipassana em si: observar as sensações por todo o corpo, compreender a sua natureza e desenvolver a equanimidade ao aprender a não lhes reagir. Finalmente, no último dia os participantes aprendem a meditação do amor ou boa vontade face a todos, na qual a pureza desenvolvida durante o curso é partilhada com todos os seres.
Toda a prática é, na verdade, um treino mental. Tal como como usamos exercícios físicos para melhorar a saúde do nosso corpo, a Vipassana pode ser utilizada para desenvolver uma mente saudável.
Porque a técnica é considerada genuinamente benéfica, é dada muita ênfase à preservação da sua forma autêntica, original. Ela não é ensinada comercialmente, mas é pelo contrário oferecida gratuitamente. Nenhuma pessoa envolvida neste ensino recebe qualquer remuneração material. Não se cobra nada pelos cursos — nem mesmo pelos custos de alimentação e alojamento. Todas as despesas são cobertas por doações de pessoas que, tendo completado um curso e experimentado os benefícios da Vipassana, desejam dar a outros a oportunidade de também se beneficiarem.
Claro que os resultados vêm gradualmente pela prática contínua. Não é realista esperar que todos os problemas sejam resolvidos em dez dias. Durante esse tempo, contudo, o essencial da Vipassana pode ser aprendido de forma a ser aplicado na vida diária. Quanto mais se pratica a técnica, mais se é libertado do sofrimento, e mais se está próximo do objetivo final da libertação completa. Mesmo dez dias podem dar resultados vívidos e obviamente benéficos para a vida quotidiana.
Todas as pessoas sinceras são bem-vindas a participar num curso de Vipassana para ver por si mesmas como a técnica funciona e para sentir os seus benefícios. Todos os que experimentam, acham que a Vipassana é uma ferramenta inestimável para atingir e repartir com os outros a verdadeira felicidade.
Fonte:https://www.dhamma.org/pt/about/vipassana
Meditação Vipassana _ com legenda em português
RETIRO DE SILÊNCIO - MEDITAÇÃO VIPASSANA
RELATO DE MINHA EXPERIÊNCIA COM VIPASSANA
Comentários
Postar um comentário