Roteiro de viagem para a Índia espiritual
Nos meus primeiros meses na Índia, eu me perguntei muito sinceramente (e para as pessoas que conviviam comigo) de onde veio essa ideia de que a Índia é um país espiritualizado, zen e tudo mais.
Ok, estamos falando de um país que é berço da ioga, da medicina ayurveda e muito marcado pela religião. Mas, o indiano que conheci no dia a dia, assim como as grandes cidades de uma maneira geral, não tem nada a ver com a minha ideia de um povo com elevação espiritual: sujeira, uma confusão de filas, gente fazendo as necessidades no meio da rua, cuspindo em todos os cantos, gritos, buzinas, confusão, burocracia excessiva, machismo extremo… Sério, isso para mim é o oposto de zen.
Após essa introdução caótica, que foi o meu grande choque cultural com a Índia, pude finalmente conhecer algumas cidades onde, de fato, a espiritualidade falava mais alto e era possível sentir essa aura diferente que os turistas esperam encontrar por lá. Então, caso você esteja planejando uma viagem para a Índia espiritual, não deixe de colocar os cinco lugares abaixo no seu roteiro.
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Sugestão de trajeto (partindo de Delhi)
Amritsar
Amritsar fica no norte da Índia, no estado do Punjab. Lá fica o principal templo do sikhismo, a sexta maior religião do mundo, com 20 milhões de seguidores, a maioria deles indianos. O Golden Temple dos Sikhs, ou Harmandir Sahib, é uma construção linda, enorme e que atrai mais visitantes por dia do que o Taj Mahal, em Agra.
Para entrar no templo, que foi fundado no século 16, junto com a cidade, é preciso cobrir os cabelos (homens e mulheres), tirar os sapatos e lavar os pés. Qualquer pessoa, independente da religião ou nacionalidade, pode entrar lá. Além disso, como Amritsar é sagrada, na cidade não é permitido fumar, consumir bebidas alcoólicas ou carne.
O Templo Dourado dos Sikhs em Amritsar
O Sikhismo é a quinta maior religião do mundo em número de adeptos e a maioria dos fieis está na Índia, como a gente já explicou aqui. Eles acreditam em um Deus único e nunca cortam os cabelos ou qualquer outro pelo do corpo. É por isso que usam turbantes.
O que talvez a gente não tenha contado é que um dos monumentos mais visitados e bonitos da Índia só existe graças aos Sikhs. O Golden Temple, ou Templo Dourado, em Amritsar, está para os Sikhs assim como Meca está para os Islâmicos e atrai milhares de peregrinos todos os anos, além dos turistas que, como eu, querem conferir a beleza e o clima do lugar.
Eles se purificam entrando no lago
O Templo Dourado e a guerra
A história do Templo, em hindi chamado de Harmandir Sahib, não inspira tanta paz quanto a que existe no local atualmente. Foi fundado em 1577, pelo quarto Guru dos Sikhs, e a construção terminou em 1604. No centro de uma grande piscina eles construíram o Templo e colocaram, em um sacrário, o Adi Granth, um conjunto de escrituras que contém valores, ensinamentos e filosofias dos Gurus Sikhs. Porém, em 1761, o Templo foi atacado e destruído por um exercito afegão. Foi reconstruído em 1764, mas somente em 1802 ganhou essa cobertura com placas de cobre dourado, passando a ser conhecido como Templo Dourado.
Nos anos 80, o Golden Temple entrou para história como palco de conflitos. Um grupo separatista Sikh, liderado por um missionário acusado de assassinato pelo governo, se instalou no Templo com seus militantes armados. Em junho de 1984, Indira Gandhi, então Primeira-Ministra da Índia, temendo o movimento e sua aproximação com o Paquistão, autorizou a Operação Estrela Azul.
Além de bloquear todas as comunicações, censurar a imprensa e fechar as fronteiras do estado de Punjab, os militares cercaram o Templo e o atacaram. Muitos civis, incluindo idosos e crianças, estavam lá dentro, celebrando o Festival Anual do Sikhs. Os números oficiais do governo indiano registram 493 militares e civis mortos. Mas, segundo agências de notícias internacionais e livros sobre a operação, os números passam da casa dos mil. Além disso, o Templo foi parcialmente destruído.
Considerada até hoje um dos maiores desastres políticos da história indiana – e alvo das críticas dos Sikhs, que tiveram seu templo profanado – a Operação Estrela Azul resultou também no assassinato de Indira Gandhi, quatro meses depois, pelos seus próprios guarda-costas, que eram Sikhs.
Um pouco de paz
A estrutura do Golden Temple foi pensada para que homens e mulheres de qualquer posição social e religião possam ir rezar e adorar a Deus. O santuário possui quatro entradas que simbolizam a importância da aceitação e da abertura. A arquitetura é uma mistura dos estilos hindu e islâmico, e o domo dourado, segundo dizem por aí, é coberto de 750kg de ouro puro.
O domo tem o formato de uma flor de lotus invertida, simbolo do desejo dos Sikhs de viver uma vida pura.
Para entrar no complexo do tempo, ou seja, toda a área que circunda o lago com prédios feitos de mármore branco, é preciso estar vestido adequadamente, em sinal de respeito. Isso significa que todos os visitantes tem que tirar os sapatos e lavar os pés na água que fica na entrada (e tem gente que bebe essa água, eca!).
Além disso, é preciso cobrir a cabeça. Aí fica o grande truque. Perto da entrada, alguns vendedores tentam te convencer a comprar os lenços, dizendo que é obrigatório cobrir o cabelo. Não compre, mesmo que você não tiver levado nada com você. Na entrada há lenços disponíveis para empréstimo. E se você não quer ficar parecendo um micareteiro com essa bandana laranja ou branca, faça como eu e leve sua própria echarpe.
Onde ficar em Amritsar
Nós não fizemos isso, mas é possível ficar hospedado dentro do próprio templo, onde também são servidas algumas refeições. Mais informações no site oficial. Se preferir, procure um hotel ao redor do templo. Existem muitos, que permitem que você visite o lugar a qualquer hora do dia. Clique aqui e veja uma lista com opções de hospedagem.
Os Sikhs, a religião dos turbantes
Eu segurava um pano preto com os dentes e lamentava não ter um espelho por perto. “São seis metros e meio”, me explicou Amarpreet, indiano de pouco mais de 20 anos, para logo depois acrescentar que existem alguns maiores e mais complicados de vestir. Diz o clichê que nunca nos esquecemos das primeiras coisas. De fato, jamais vou me esquecer do meu primeiro turbante.
Tudo bem que o turbante não era meu – foi um empréstimo que durou uns oito minutos, metade do tempo gasto para colocar os seis metros e meio de pano em minha cabeça. “Eu gasto 10 minutos para fazer o meu, todas as manhãs. E olha que faço sozinho, com uma ponta do pano amarrada na porta”, revela, enquanto faz os últimos ajustes.
Ajeita aqui, mexe um pouco ali e pronto. “Você quase parece um Sikh. Só falta a barba”. E a barba faz mesmo toda a diferença para os adeptos do sikhismo, religião fundada no século 15, no Punjab, região atualmente dividida entre a Índia e o Paquistão. Existem cerca de 23 milhões de Sikhs no mundo e mais de 80% deles vivem na Índia. A conta inclui Manmohan Singh, que ocupa o cargo de Primeiro Ministro no país.
Mas por que os sikhs usam turbantes?
O sikhismo é a quinta maior religião do mundo em número de adeptos. Dentre as principais crenças estão a fé num Deus único e sem forma e nos ensinamentos dos dez gurus sagrados. Mas são as duas marcas mais típicas dos Sikh que me fazem parecer simplesmente um ocidental fantasiado com turbante preto. A primeira é o uso do Kara, um bracelete de metal que representa a eternidade e que os Sikhs usam desde o nascimento.
A segunda, mas não menos importante, é o respeito ao Kes, ou ao cabelo. Um Sikh nunca corta os cabelos do corpo. Nunca. “O meu, quando solto, bate aqui”, diz Amarpreet, apontando para a região da cintura. A barba de um Sikh pode até parecer curta, mas é só impressão. É que eles amarram os pelos logo abaixo do queixo.
Os cabelos, sagrados, devem ser preservados, custe o que custar. Por isso o uso do turbante. É uma forma de proteger os fios das impurezas do mundo. Eles podem ser pequenos ou grandes. Coloridos ou no tradicional preto e branco. Existem turbantes que, como um terno chique, só são usados em ocasiões muito especiais. E em outros momentos eles são mal vistos, como nos aeroportos, onde os Sikhs têm sido confundidos com terroristas, principalmente depois de um certo 11 de setembro.
Para dormir, os Sikhs usam turbantes mais simples de colocar. Já o do dia a dia costuma ser maior, principalmente se o pano tiver muito cabelo para guardar. O mais usado é o turbante simples, com forma arredondada e tamanho médio. Mas também existem outros tipos: o pechan é usado por jovens; o round por militares Sikhs.
Uma dúvida ainda estimulava a minha curiosidade. “Existe alguma diferença nas cores dos turbantes? – pergunto. “Fashion”, responde Amarpreet. “Você pode escolher o turbante para combinar com suas roupas. Quando eu estou em dúvida escolho o preto”. Não é por nunca ter cortado os cabelos que ele iria ignorar as tendências da moda.
McLeod Ganj
Subindo para os Himalaias, McLeod Ganj te leva para um pedaço do Tibet no meio Índia. Foi para lá que o governo tibetano, incluindo a Sua Santidade, o Dalai Lama, fugiram em exílio, quando a China invadiu o país (o filme Sete Anos no Tibet mostra um pouco sobre a história do Dalai Lama e da invasão, no anos 50, pós Segunda Guerra Mundial).
Em McLeod, a paisagem tranquila das montanhas do Himalaia é decorada com templos e bandeiras budistas. Nas ruas do vilarejo você vê monges circulando com suas vestes tradicionais. Esse é um excelente lugar para relaxar, praticar meditação budista e experimentar massagens.
Onde vive o Dalai Lama hoje? Em McLeod Ganj!
Cada centímetro do ônibus tremia ensurdecedoramente. Logo percebi que dormir seria impossível – nem mesmo dopado consegui fechar os olhos. É óbvio que eu já esperava uma estrada ruim. Afinal, o que mais explicaria uma duração estimada de 8 horas para uma viagem de pouco mais de 250 quilômetros?
Mas o percurso entre Chandigarh e McLeod Ganj, no norte da Índia, superou facilmente as expectativas. Aquilo ali é prova de resistência, um via crucis metade hindu, metade budista e obviamente sem Cristo. Sorte que o destino final vale cada solavanco do ônibus: McLeod Ganj é um vilarejo fora do comum.
A primeira coisa que você precisa saber sobre essa pequena vila é que ela está no meio do Himalaia. Por trás das casas é possível ver o pico mais alto da região, com quase 5 mil e 700 metros. E neve no topo, claro. Só a vista já tornaria o local parada obrigatória, mas McLeod Ganj é mais: é moradia do Dalai Lama e sede oficial do governo do tibetano, que está no exílio desde 1960, quando a China invadiu o Tibet e milhares de refugiados foram morar no norte da Índia.
O vilarejo de ruas pequenas e chão de terra batida tem um charme difícil de definir. Pode ser por causa dos monges budistas que vivem no local e frequentam o templo de His Holiness, o Dalai Lama, fazendo de McLeod um pequeno Tibet no meio da Índia. Ou quem sabe é pela variedade de estrangeiros, pessoas de todos os lugares que ajudam uma vila perdida no fim do mundo a ser mais cosmopolita do que muita metrópole. E o Himalaia emoldurando tudo dá um toque especial, claro.
Como chegar em Mcleod Ganj
É preciso pegar um ônibus até Dharamsala, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes que fica pertinho da terra do Dalai Lama. Da rodoviária de Dharamsala até McLeod é outra viagem, mas o percurso é bem menor – pouco mais de 30 minutos.
O que fazer por lá
Tsuglagkhang
É o complexo onde fica o Templo e a casa do Dalai Lama. Ótimo local para conhecer um pouco sobre o budismo, observar o dia a dia dos monges e, em algumas épocas do ano, ouvir o próprio Dalai Lama discursar. Ali perto fica o Museu do Tibet, que conta a história dos refugiados tibetanos e sua luta por um país livre.
Baghsu
O templo hindu em Baghsu
Uma vila que fica a poucos quilômetros de Mcleod. Lá é possível ver um templo Hindu e caminhar até uma cachoeira (foto abaixo), local usado como lavanderia por muitos monges tibetanos. Aqui viramos as estrelas do lugar. É que os indianos não se cansam de tirar fotos dos estrangeiros.
St. John in the Wilderness
Na terra do Dalai Lama você também vai encontrar uma igreja anglicana. A Índia foi parte do Império Britânico até 1947 e a igreja em questão foi construída em 1852. Ali está enterrado Sir James Bruce, que ao longo da vida foi o governador britânico de várias províncias do Império: Jamaica, Canadá, China, Japão e, é claro, Índia. Vale mais pela curiosidade, mas passar ali não é essencial – o templo que importa mesmo em Mcleod é o do Dalai Lama.
Dal Lake
Um pequeno lago que, segundo os guias turísticos, é sagrado para a população local. Perto de lá fica uma escola para crianças tibetanas, local de trabalho voluntário para muitos estrangeiros . O lugar é bonito, mas infelizmente o lago estava vazio quando passamos por lá.
O lago pode até ser sagrado, mas estava vazio.
Compras em Mcleod Ganj
Reza a lenda que McLeod é o único lugar do mundo onde não há nada made in China. E garanto que você não vai sentir falta. O artesanato local oferece centenas de alternativas, de elefantes e camelos de madeira a chaveiros do Kama Sutra. Mas lembre-se que McLeod pode até parecer o Tibet, mas aqui vale o primeiro mandamento para turistas na Índia. Pechincharás sempre.
“Quero encontrar minha espiritualidade”
Posso até não fazer parte desse grupo, mas muita gente, muita mesmo, vai a McLeod por conta disso. E a soma budismo + Dalai Lama + natureza exuberante realmente cria essa vibe meio riponga. Pra quem tem preguiça disso, um consolo: McLeod vale o investimento. Renda-se ao local e aproveite para fazer uma massagem. Afinal, a viagem de volta provavelmente será tão cansativa quanto a de ida.
Onde ficar em McLeod Ganj
Vista do nosso hotel lá
A vila é muito pequena e dá para fazer tudo a pé. Quem vai no verão pode ficar também em Daramkot, que tem estrutura turística. Veja opções de hospedagem aqui.
A invasão do Tibet pela China
A primeira coisa que comentei ao chegar em McLeod Ganj foi que parecia que estávamos em outra parte da Ásia. A confusão ali não tem tantos ares de Índia e a comida vendida nos restaurantes é preparada com outros temperos e ingredientes. Até as pessoas na rua eram diferentes: em vez da pele morena e dos cabelos negros dos indianos, cabeças raspadas e olhos puxados espreitavam por toda parte. Os saris coloridos foram substituídos por longas túnicas vermelhas, vez ou outra acompanhadas por faixas douradas.
Eu pouco sabia da história do Tibet antes de chegar ali. De vez em quando, uma notícia ou outra sobre o Dalai Lama e tensões na China apareciam nos sites de notícias que leio diariamente, mas nunca passou disso.
Como vocês podem imaginar, a história é antiga e longa. No entanto, vou contar uma versão bem resumida: Em 1950, a China invadiu o Tibet. Os monges tentaram resistir e um monte de gente morreu, mosteiros foram queimados e muitas aldeias destruídas, mas o exército de Mao Tsé Tung conseguiu dominar totalmente a região.
Nove anos mais tarde, o 14º Dalai Lama fugiu para a Índia seguido por cerca de 100 mil tibetanos. Os refugiados estabeleceram, em McLeod Ganj, a capital do governo no exílio. Enquanto isso, aqueles que não conseguiram acompanhar, ficaram sob domínio chinês e foram oprimidos pela Revolução Cultural. Mais de 6 mil mosteiros foram fechados e mais monges morreram lutando contra a ocupação.
Essa história se estende desde então e, nos dias de hoje, a China continua a oprimir cultural e religiosamente o povo do Tibet, que adota a política da não agressão. Como forma de protesto e numa tentativa desesperada de chamar atenção da comunidade internacional, muitos colocam fogo no próprio corpo.
Em 1995, a China sequestrou o 11º Panchen Lama, o segundo na hierarquia do povo tibetano. O garoto, que na época tinha apenas seis anos, nunca mais foi visto.
Segundo a tradição do povo tibetano, é o Dalai Lama quem reconhece o Panchen Lama e vice-versa. O governo chinês aponta uma outra pessoa como Panchen Lama e isto é visto como uma tentativa de controle no reconhecimento do próximo Dalai Lama e sem dúvida um desrespeito aos costumes e religião do povo do Tibet.
Diversas petições virtuais que buscam chamar a atenção dos principais líderes mundiais para a situação do Tibet está disponível na internet. Já para quem planeja passar uns tempos aqui na Índia, o governo tibetano no exílio disponibiliza várias oportunidades de voluntariado. Turistas também podem ajudar comprando artesanato e souvernirs produzidos pelo povo tibetano.
Rishikesh e Haridwar
Rishikesh é uma pequena vila às margens do rio Ganges, que passa por lá ainda limpo, poucos quilômetros abaixo da nascente. Esse lugar é considerado a capital mundial da ioga e já até recebeu a visita dos Beatles, que passaram um tempo meditando por lá.
O ar hippie de Rishikesh permaneceu. A vila tem ruas calmas e restaurantes com vista para o rio. Não é permitido vender álcool ou carne lá. Vale a pena assistir as cerimônias a beira do Ganges, fazer aulas de ioga, massagens Ayurveda, e meditar num Asharam, que em Rishikesh não são tão rigorosos com horários.
Já Haridwar é a cidade vizinha, onde fica a estação de trem mais próxima. Mas a importância vai muito além disso: Haridwar é uma das cidades sagradas do hinduísmo (juntamente com Varanasi, Ayodhya, Mathura, Kanchipuram, Ujjain e Dwarka). É, sem dúvidas, menos charmosa do que Rishikesh, mas mais importante para aqueles que compartilham da fé hindu. Os Asharams para meditação em Haridwar são bem mais sérios e rigorosos.
Rishikesh: onde o Ganges corre limpo
Ouvi muitos conselhos e pedidos da minha família e amigos antes de sair do Brasil. “Beba água mineral”, “não coma nada da rua”, “não saia sozinha”, “cuidado com as roupas que você vai usar”. De todos eles, talvez o mais incisivo foi o “por favor, não entre no Ganges”.
Não precisa dizer que, com menos de uma semana eu já usava água da torneira para escovar os dentes, almoçava no podrão perto da empresa e ia ao mercado sozinha. Quando fui a Goa, abusei de shorts e vestidos e, em Rishikesh, eu entrei no Ganges.
É verdade que, da primeira vez, foi o frio de 8ºC (que para qualquer brasileiro equivale ao inverno polar), e não a fama do rio, que me fez só molhar minhas mãos nas águas sagradas, ainda que eu soubesse da possibilidade de congelar meus dedos. Pessoas menos tropicais arriscaram um rafting e uma pneumonia.
Quando voltei lá no verão, por outro lado, me joguei nas águas geladinhas do rio.
Leia também: O dia em que eu fiz rafting no Ganges
O rio Ganges não é completamente sujo
É claro que meus padrões de higiene ainda não desapareceram completamente depois de quase três meses vivendo por aqui. O Ganges que passa por Rishikesh vem direto das montanhas e em nada se parece com o rio cheio de corpos que atravessa Varanasi. É limpo e gelado, mas continua sendo sagrado.
Mas praticar esportes radicais perto da nascente de um dos rios mais poluídos do mundo não é a única coisa legal em Rishikesh. Você provavelmente tem um amigo que adora yoga, não come carne, prega um estilo de vida desapegado, busca a elevação espiritual e tem a Índia como destino dos sonhos. Quando eu cheguei aqui, fiquei me perguntando onde essas pessoas conseguiam ver tanta elevação e espiritualidade no meio do caos. Pois é, este lugar é Rishikesh.
Cerimônia hindu às margens do Ganges
Além das costumeiras vacas, a paisagem divide espaço com macacos sagrados, estátuas gigantes de deuses Hindus, monges, templos e aulas de yoga. Rishikesh é, aliás, a capital mundial da atividade, título que atrai a maior parte dos turistas que passam por lá. Se você é um destes turistas, pode ser que também curta uma massagem ou participar de uma sessão de meditação. Tudo o que tem a ver com a espiritualidade indiana você acha em Rishikesh.
Para viver a experiência por completo, muitas pessoas escolhem fazer como os Beatles e ficar em um Ashram. Além de ser uma hospedagem barata, os Ashrams oferecem uma espécie de retiro espiritual com os ensinamentos dos gurus. Cada Ashram tem suas próprias regras e apenas alguns aceitam turistas estrangeiros. Muitos deles também estabelecem toque de recolher, mas isso não chega a ser um problema pois você não ia encontrar muita coisa para fazer à noite pela cidade. Em Rishikesh, a venda de bebidas alcóolicas é proibida e impera a culinária vegetariana.
Também é preciso reservar seu lugar no Ashram com certa antecedência, já que eles são a opção número um de excursões internacionais. Como nossa viagem foi planejada em menos de uma semana, ficamos em uma pousada mesmo.
Dicas de viagem para Rishikesh
Como chegar
Para chegar em Rishikesh, só mesmo de carro ou ônibus. A cidade não possui linhas de trem. Algumas cidades possuem ônibus direto, como Delhi, Jaipur, Agra e Pushcar. Também é possível pegar um trem até Haridwar e de lá terminar o percurso de taxi.
Esse Ashram aqui aceita turistas estrangeiros e é bem recomendado, mas você pode pesquisar e escolher um que mais se adapte aos seus objetivos.
Quantos dias ficar
Para conhecer a cidade com calma, bastam 2 dias. Se você quiser fazer um retiro pode ser que queira ficar mais.
Quanto gastar
Com cerca de 1000 Rs por dia (equivalente a mais ou menos R$35) dá para arrumar uma estadia confortável, mas sem luxo, e comer bem.
Onde ficar
Quem tem interesse em ficar num ashram precisa reservar com bastante antecedência e também ficar atento a todas as regras do local. Para quem prefere um hotel, a cidade é pequena, mas tem várias opções. Nós ficamos no Bhandari Swiss Cottage e no New Bhandari Swiss Cottage. Veja esses e outros hotéis em Riskikesh aqui.
O Ashram perdido dos Beatles, na Índia
Dentro de um táxi a caminho de Nova Delhi, John Lennon não estava contente. Depois de fazer as malas e abandonar repentinamente Rishikesh, vila às margens do rio Ganges, Lennon compôs sua última música em território indiano.
O descontentamento do Beatle foi refletido na letra da canção, que dizia “Maharishi — o que você fez? Você fez todos nós de tolos.” Se o Maharishi era mesmo culpado é outra história, mas o fato é que os Beatles não seriam os mesmos se não tivessem visitado Rishikesh. E vice e versa.
Liverpool e a Abbey Road são dois típicos lugares de peregrinação para fãs dos Fab Four, mas Rishikesh também entra na lista. Foi lá que praticamente todo o álbum “The Beatles” – conhecido como o Álbum Branco – foi composto. Se você pensar que são 30 faixas, muito mais do que em qualquer outro disco do quarteto, vai concordar que o tempo na Índia foi inspirador. Mais: foram os dois meses mais criativos da carreira dos Beatles.
A quantidade de músicas que os Beatles escreveram em Rishikesh não é certa – varia entre 30 e 50, dependendo da fonte. Foram tantas que tem produto made in India até no álbum seguinte, o Abbey Road. E em vários trabalhos solo dos artistas, quando o prefixo ex passou a ser usado antes da palavra Beatle. Mas, afinal de contas, o que levou a banda à Índia?
Os Beatles na Índia
John, Paul, George e Ringo desembarcaram na Ásia em fevereiro de 1968, junto com esposas, namoradas e algumas celebridades menores, tipo o Mike Love, dos Beach Boys. E um exército de jornalistas, claro. Mas a visita à Índia não era parte de nenhuma turnê internacional: estimulados por George Harrisson e pela morte recente de Brian Epstein, que era gerente da banda, os Beatles procuravam os ensinamentos espirituais do guru Maharishi Mahesh Yogi.
Sim, o mesmo cara que quase foi imortalizado como charlatão e enganador na música do Lennon. Ficou no quase só por causa do George Harrisson, que obrigou o Lennon a alterar a letra da canção. O resultado é um mantra entoado até hoje por beatlemaníacos ao redor do mundo, muito embora poucos suspeitem que a tal Sexy Sadie era um guru indiano barbudo e cabeludo. Não, o Maharishi pode ter sido muita coisa na vida, mas se você esperava uma garota sexy pode vestir sua troll face.
“Sexy Sadie, what have you done. You made a fool of everyone.”
Criador da Meditação Transcendental, técnica que usa mantras para atingir um estado chamado vigilância tranquila, Maharishi já era conhecido internacionalmente antes de ser o tutor do quarteto mais famoso de todos os tempos. Mas quando os Beatles entraram no Ashram (um tipo de refúgio espiritual de sábios hindus) do guru eles certamente elevaram a fama do Maharishi e por tabela ampliaram o tipo de turismo que até hoje move Rishikesh: o de ocidentais em busca da espiritualidade.
Em Rishikesh os Beatles usavam roupas locais e dividiam seu tempo entre os ensinamentos do Maharishi, leituras e meditações. E compondo, óbvio. Tudo virou tema para canções. Exemplos? Vários! A irmã da atriz Mia Farrow, Prudence, levava tão a sério as meditações que ficava trancada numa cabana a maior parte dos dias. Mia pediu que Lennon resolvesse o problema, e foi prontamente atendida. (“Dear Prudence, won’t you come out to play?”).
Nunca tentei, mas a meditação transcendental não deve ser nada fácil. Prova é que, após algumas sessões mais intensas, Lennon teve uma forte crise de insônia… e aproveitou para colocar isso no papel. (“I’m so tired, I haven’t slept a wink. I’m so tired, my mind is on the blink”).
Quando uma americana e seu filho desembarcaram no ashram em busca da tal da espiritualidade perdida e abandonaram o local pouco depois para caçar tigres (!), também ganharam um lugar no Álbum Branco (“He went out tiger hunting with his elephant gun; In case of accidents he always took his mom”). E até dois macacos fazendo sexo nas ruas de Rishikesh viraram música (“Why don’t we do it in the road? No one will be watching us. Why don’t we do it in the road?“).
Ringo e esposa deixaram a Índia em poucas semanas. “A comida era impossível pra mim”, contou Starr no documentário The Beatles Anthology (Ringo, desde 1968 meu Beatle favorito. Temos tanto em comum). O Paul ficou um pouco mais – só foi embora depois de escrever 12 músicas. Entre elas Back in the U.S.S.R, Blackbird, Rocky Raccoon e Ob-La-Di, Ob-La-Da.
John e George saíram por último, depois do incidente relatado no início do post. O motivo do rompimento é controverso: há quem diga que Lennon descobriu que o Maharishi, supostamente celibatário, andava ensinando outras coisas às discípulas além de meditação. Outros afirmam que foi o Maharishi quem expulsou os Beatles do retiro, tudo por conta do uso de drogas. E um pedido de desculpas aparece numa música que o Harrisson fez enquanto estava na Índia. (“I’m really sorry for your ageing head. But like you heard me said: not guilty.“)
Em entrevistas, Lennon chegou a dizer que Rishkesh foi o começo do fim dos Beatles e, ao mesmo tempo, o lugar onde ele escreveu suas melhores músicas. Por tudo isso a vila é importante para beatlemaníacos, embora não reste quase nada da presença da banda na cidade.
Alguns anos mais tarde o Maharishi deixou o ashram e foi morar na Holanda, onde morreu, em 2008. O prédio que abrigou os Beatles foi abandonado em 1984. Cercado por uma floresta, hoje o ashram é controlado pelo governo e faz parte de uma reserva nacional.
O governo proíbe a entrada de visitantes (embora o guarda aceite 50 rúpias para deixar qualquer turista passar). Enquanto eu caminhava pela ponte sob o Rio Ganges, saia da rua principal e seguia pela rua de terra, muitas músicas passavam pela minha cabeça. Muitos, inclusive eu, já seguiram os passos dos quatro na Abbey Road. Poucos acompanham o leito do rio Ganges até o local que mudou a história dos Beatles, o ashram perdido no meio da floresta.
Na Índia com George Harrison
A Índia é um soco no estômago. É impossível voltar a mesma pessoa de lá – e isso vale para viajantes comuns, como os blogueiros do 360meridianos, ou para uma das maiores estrelas do mundo. George Harrison, o beatle morto em 2001, esteve lá e sentiu todo o impacto que uma viagem pelo país pode causar. A Índia modificou a música dos Beatles, mas é inegável que o George é também um dos maiores – talvez o maior – responsável por colocar a Índia no mapa turístico mundial.
Quando ele se apaixonou pelo país, nos anos 1960, criou também o turismo da busca pela espiritualidade no gigante asiático. Fãs que somos do George, resolvemos convidá-lo para um guest post. Abrimos as portas do blog para o nosso colunista mais ilustre até agora – mas que fique claro que este post não foi psicografado. Optamos por resgatar entrevistas do George e não incomodar o cara no seu descanso eterno.
Com George Harrison em Delhi
George resolveu aproveitar a viagem de volta das Filipinas, onde os Beatles fizeram um tour, em 1966, para fazer um stopover na Índia. O beatle queria fazer uma parada rápida em Delhi. O objetivo? Comprar uma cítara. Um por um, todos os beatles resolveram que iam parar por lá também, afinal poderiam ter um pouco de tranquilidade. E, nas palavras de George, “ninguém na Índia devia conhecer os Beatles”. Então ia ser uma viagem de boa, na paz.
Assim que chegaram em Delhi, Jonh, Paul e Ringo desistiram de conhecer o país e resolveram voltar para Londres. Só que a British Airways trollou com os beatles já tinha vendido todas as passagens do voo. Por isso, os quatro Beatles tiveram que passar um dia em Delhi. Com a palavra, George:
“Então nós desembarcamos. Era noite e nós estávamos esperando as bagagens quando tivemos o maior desapontamento (…) porque eram tantas pessoas, no meio da noite, todas gritando ‘Beatles, Beatles’ e nos seguindo. Nós entramos num carro, mas todos eles entraram em tuk-tuks e começaram a nos seguir, com sikhs usando turbantes, todos gritando ‘Beatles, Beatles’” (The Beatles Antology).
Os Beatles conseguiram fugir dos fãs. No dia seguinte, agiram como qualquer outro turista e foram conferir a cidade e, claro, fazer compras. Não foi isso, George?
“Delhi foi uma coisa realmente engraçada. Tenho certeza que outras pessoas têm essa mesma experiência quando vão lá. Algumas partes de Nova Delhi foram construídas pelos britânicos, então não existem as pequenas ruas que você esperaria: nós estávamos em avenidas largas, com grandes cruzamentos e rotatórias. O incrível é que tinha tanta gente lá. Multidões de pessoas por todos os lados. E eu pensava: ‘Deus, o que aconteceu? Era como se o Superbowl estivesse acontecendo, ou um grande desastre, com todas as pessoas nas ruas. Então você se dá conta de que simplesmente tem muita gente lá.”
Primeiro choque cultural de George Harrison: tem muita, mas muita gente na Índia. E sim, eles vão te cercar, te oferecer um taxi, um tuk-tuk, 25 hotéis… Eles vagam pelas ruas e estão por todos os lados. Afinal de contas, o país tem um bilhão e 300 milhões de habitantes. Só um bilhão e uns 100 milhões a mais que o Brasil. E George, meu velho, te garanto que não é preciso ser um beatle para ser cercado por indianos em Nova Delhi, mas é claro que sua multidão de fãs devia estar um pouco mais eufórica do que os indianos que nos cercavam.
Com George Harrison em Mumbai
A segunda passagem de George pela Índia naquele ano começou em Mumbai, na época ainda chamada de Bombaim. Era setembro de 1966. Na metrópole indiana, George e Pattie Harrison (a primeira esposa do músico) se hospedaram no Taj Mahal. Não o famoso monumento, que fica em Agra, bem longe de Mumbai, mas num hotel de luxo em estilo vitoriano. O Taj Mahal Palace Hotel fica no Colaba, um bairro descolado de Mumbai, e perto do Portão da Índia. Inclusive, o hotel e o Portão formam o mais conhecido cartão-postal da cidade. Lá, o Beatle teve aulas de cítara e de yoga. George também turistou pela cidade e conheceu alguns templos religiosos.
O Taj Mahal Hotel pode não ser uma maravilha do mundo, como seu xará do norte da Índia, mas nem por isso deixa de ser famoso. O hotel cinco estrelas que hospedou o mais barbudo dos Beatles também é frequentado por presidentes de diversos países do mundo, além de ter sido alvo de um atentado terrorista que deixou cerca de 200 mortos, em 2008. Também é importante para a história do hotel a visita que fizemos por lá, em 2011. Só que não.
Em Mumbai, George queria paz, tranquilidade e todas aquelas coisas que um bicho-grilo beatle procurava. Para isso, o casal se registrou com nomes falsos no hotel: Mr and Mrs Sam Wells. É claro que os beatlemaníacos descobriram. Mesmo assim, o George continuou adorando a Índia:
“É Inacreditável. Você pode andar por uma rua e tem alguém dirigindo um ônibus ou um taxi, ou andando de bicicleta, e tem uma galinha e uma vaca, alguém de terno e uma mala, e um sannyasi (um religioso) vestindo uma túnica. Tudo isso misturado. É um lugar incrível, com camadas e camadas e camadas de sons, cores e barulhos, tudo bombardeando os seus sentidos. Foi fantástico. Me senti como se tivesse voltado no tempo”.
Segundo choque cultural do George Harrison na Índia: explosão de cores, barulhos e pessoas. Mais ou menos o que contamos nesse post aqui.
Com George Harrison em Varanasi
Nenhum mochilão pela Índia está completo sem Varanasi, cidade às margens do rio Ganges e um dos mais importantes lugares para os hindus. George passou por lá, embora ele chame a cidade de Benares:
“Eu fui para a cidade de Benares, onde acontecia um festival religioso chamado Ramlila. Acontecia num espaço de uns 300 a 500 acres, e lá estavam milhares de homens santos para um festival que duraria um mês. Lá estavam todos os tipos de pessoas, muitas delas cantando, uma mistura de coisas inacreditáveis. E veio o Marajá, montado num grande elefante e levantando uma grande camada de poeira. Aquilo me deu uma boa vibração”.
O Ramlila é um importante festival religioso. Milhares de fiéis encenam uma batalha entre deidades hindus. No caso de Varanasi, tudo é encenado às margens do Ganges. Os milhares de fiéis devem deixar a cidade ainda mais impressionante. Vale lembrar que Varanasi é a definição perfeita para impacto cultural: milhares de fiéis se banham nas águas poluídas do Ganges. O mother Ganga tem papel fundamental na fé hindu, e não são poucos os que querem ter seus restos mortais despejados por lá. Isso possivelmente foi o que aconteceu com o George, cujas cinzas foram dispersas num rio indiano, em 2001.
Nós visitamos Varanasi em 2012. Leia mais sobre uma das mais impressionantes cidades da Índia aqui.
Com George Harrison na Caxemira
Na mesma viagem, em 1966, George também passou pela Caxemira, região no norte do subcontinente indiano que é disputada por Índia e Paquistão desde a independência dos dois países. A Caxemira é uma das principais causas das várias guerras entre os vizinhos, assim como da corrida armamentista entre eles, ambos com algumas bombas atômicas no arsenal. Motivos suficientes para afastar qualquer turista de lá, certo? Errado. É que a Caxemira, garantem os que já pisaram lá, é um dos lugares mais bonitos do mundo. Nós tentamos ir, mas infelizmente a combinação ameaça de terrorismo + estradas congeladas impediram nossa passagem por lá. Fica para a próxima. Ainda bem que o George nos conta como foi a visita dele.
“Foi um tempo fantástico. Eu saia para visitar templos e fazer compras. Nós viajamos por todo o país e eventualmente chegamos na Caxemira. Ficamos numa casa-barco no meio do Himalaia. Foi incrível. Eu acordava de manhã e um companheiro Kashmiri, Mr Butt, nos trazia chá e biscoitos.”
Com George Harrison em Rishikesh
Ainda em 1966, George passou um tempo em Rishikesh, pequena vila ao norte de Nova Delhi. A cidade é separada em duas partes, cada uma delas de um lado do Rio Ganges, que naquele trecho ainda é limpo. George não contou para a gente o que ele achou dessa primeira passagem pela cidade, mas sabemos que ele gostou. Afinal de contas, em 1968 ele voltou, levando Jonh, Paul e Ringo.
Os Beatles ficaram algumas semanas por lá, aprendendo meditação e compondo músicas. Durante esse tempo, o mais produtivo da carreira do grupo, eles ficaram num ashram, atualmente desativado. Já fizemos um post inteiro descrevendo como foi a experiência dos Beatles por lá. E, ao olhar para as fotos da Rishikesh que conheceu os Beatles, temos certeza que pouca coisa mudou. Ótimo motivo para visitar a cidade, que definitivamente não deve faltar em nenhum roteiro bem feito pela Índia.
Lá, o George dividia o tempo entre a meditação e o violão, por isso é a Pattie Harrison, esposa dele, quem conta algumas das coisas que o casal viveu:
“Um dia fomos num passeio de barco descendo o rio Ganges, enquanto dois homens santos cantavam. Então o George e o Donavan (músico britânico) começaram a cantar, e todos nos cantamos, numa mistura de musicas inglesas e alemãs. Foi tão bonito, com as montanhas e as árvores cercando três lados do nosso barco. E com o pôr do sol, o lado oeste se coloriu com de uma cor rosa muito profunda.”
Com o tempo, todos os Beatles deixaram a Índia. O Ringo, que tinha problema com a comida apimentada, foi embora primeiro. Depois foi o Paul. John e George deixaram Rishikesh por último, depois de uma confusão com o guru Maharishi Mahesh Yogi. De lá, Jonh voltou para Londres. Já George deu um pulinho até Chennai, cidade onde também estivemos e garantimos que não tem nada de muito especial.
Outras Viagens
George esteve muitas outras vezes na Índia – provavelmente poucos viajantes estrangeiros conheceram tão bem o país como o beatle, que foi do Taj Mahal (dessa vez estamos falando do monumento mesmo) ao Rajastão, por exemplo. E ele nunca deixou de se impressionar com a pobreza de lá:
“Um dia nos fomos numa pequena vila, em uns cadillacs. Estávamos com câmeras da Nikon, e foi lá que pela primeira vez eu me dei conta da pobreza. Havia muitas criancinhas vindo até nós e pedindo dinheiro. Nossas câmeras deveriam valer mais dinheiro do que a vila inteira poderia ganhar durante a vida. Foi um sentimento estranho: nossos cadillacs e a pobreza do lugar.”
Como eu disse no começo do post, a Índia é uma baita soco no estômago – em você ou num beatle. Uma experiência para a vida inteira, capaz de mudar completamente qualquer viajante e, como gostava de falar o George, “abrir os olhos”.
*Todos os relatos deste post foram retirados do livro “The Beatles Anthology” (2000). As fotos eram do arquivo pessoal do músico, sendo que muitas delas foram feitas pelo próprio beatle.
Varanasi
O hinduísmo foi fundado na Índia, tem 900 milhões de fiéis e é a terceira maior religião do mundo. Varanasi é a mais importante das cidades sagradas para a religião, além de também ser considerada especial para os budistas e jainistas, afinal, essa é uma das cidades mais antigas do mundo.
Também às margens do Rio Ganges, acredita-se que Varanasi foi consagrada a Shiva, um dos principais deuses da religião, que representa a destruição e a perspectiva de recomeço. Por isso, milhares de hindus vão para lá todos os anos para morrer em paz ou se banhar num dos Ghats (escadarias que levam ao rio) para se purificar.
Muitos acreditam que quem morre em Varanasi liberta sua alma e não precisa mais reencarnar. Por isso, diariamente acontecem cerimônias de cremação de corpos às margens do rio. Lá, você pode observar cerimônias religiosas ao nascer e pôr do sol, ver a população se banhando nas águas e sentir todo esse forte clima espiritual que Varanasi evoca.
Varanasi, a cidade mais sagrada da Índia
Varanasi é tudo aquilo que você ouviu falar. É suja, fedorenta e espiritual. O Ganges, principal razão da fama da cidade, é uma mistura de água, cadáver, lixo e bosta, nem sempre de animais. Diz-se que em muitas partes do rio, não existe mais nenhuma molécula de oxigênio e, consequentemente, nenhum ser vivo. O rio é morto e, ainda assim, cheio de vida devido às celebrações religiosas que acontecem diariamente dentro e fora dele.
Consagrada a Shiva, principal deus Hindu, a cidade às margens do Ganges representa a destruição de tudo o que existe e a perspectiva de um novo começo. É ali que a maior parte dos indianos deseja morrer. Muitos acreditam que quem morre em Varanasi não precisa mais reencarnar.
O destino de todos os turistas que chegam a Varanasi é a cidade velha, uma região formada por ruelas estreitas e labirínticas que se entrelaçam até chegar ao rio. A impressão que tive por ali é que todos os caminhos levam ao Ganges.
Grandes escadarias se estendem ao longo do rio. São elas que recebem as diferentes celebrações religiosas. Batizadas de Ghats pelos Hindus, cada uma é devotada a um deus e possui sua própria história e finalidade. Em uma delas, por exemplo, não é comum que as pessoas tomem banho, pois acredita-se que as águas daquela parte do rio causam brigas no casamento.
Um dos maiores Ghats, o Dasaswamedh, recebe um ritual de agradecimento diário, sempre após o pôr do sol. Durante a cerimônia, centenas de pessoas vão até o rio para agradecer e soltar oferendas no Ganges, enquanto sacerdotes conduzem a celebração com incenso, velas e músicas em uma das demonstrações de espiritualidade mais intensas que eu já presenciei. Você pode assistir a tudo das escadarias ou de dentro de um barco e até soltar sua própria oferenda em agradecimento. Não vai ser difícil comprá-la das mãos de um dos muitos vendedores ambulantes que percorrem os Ghats.
Um tradicional passeio de barco pelo Ganges vai te ajudar a entender melhor a história daquele local sagrado e como a presença do rio afeta a vida dos indianos. Além de ver os Ghats destinados à lavação de roupa, banho de búfalos, banho de gente e meditação, de dentro do rio também é possível ver os locais reservados à cremação dos mortos, os shmashan ghats.
É possível chegar nesses Ghats também por terra, mas é preciso ter cuidado com o assédio de alguns sacerdotes em busca de doações (em dólar) e para não desrespeitar a dor das famílias que muitas vezes viajaram quilômetros até ali para se despedirem de seus mortos. Por mais exótico e interessante que tudo aquilo possa parecer para você, a cerimônia continua sendo uma espécie de velório. Exatamente por este motivo, é proibido e desrespeitoso tirar fotos das fogueiras.
No principal Ghat funerário, de 100 a 300 corpos são cremados por dia, mas para ter a honra de se despedir do mundo ali é preciso que sua família pague cerca de 2000 rúpias (R$70) pela madeira oleada que disfarça o cheiro da cremação. Parece pouco, mas esse valor, somado a outros gastos do velório e da viagem até Varanasi, torna este um sonho impossível para a maior parte dos indianos. Para atender a população mais pobre, fogueiras menores, algumas elétricas, estão disponíveis na cidade.
Os corpos são colocados em macas, enfeitados e lavados no rio. Macas cobertas com saaris vermelhos pertencem a uma mulher jovem, se a cor é dourada, a mulher era mais velha. O branco enfeita as macas dos homens. Apenas crianças, consideradas puras, e as mulheres grávidas, que carregam um ser puro, não são cremadas.
O luto dos indianos dura um ano. Durante esse período, eles não participam de nenhum dos famosos festivais do país, não frequentam festas ou celebram casamentos. Apesar disso, a morte é encarada como um recomeço e muitos deles escolhem ir morar em asilos em Varanasi quando sentem que o fim da vida se aproxima, só para terem a honra de encerrar mais um ciclo às margens do rio sagrado.
Informações turísticas sobre Varanasi
Quantos dias ficar em Varanasi
Um dia é suficiente para ver tudo se você estiver com pressa, mas para aproveitar melhor o lugar e a atmosfera, é recomendável reservar ao menos 3 dias.
Quanto gastar
Se você se encaixa na categoria “econômica”, como nós, é possível ficar em hotéis razoáveis e comer em restaurantes bons (e baratos) com menos de 1.000 rúpias (R$35) por dia. Aqui vale a regra, quanto mais perto do Ganges e quanto mais bonita a vista, mais dinheiro você desembolsa. Nós pagamos 600 rúpias por um quarto triplo na Leela Guest House.
Onde Ficar
Old City. Nem pense em outro lugar! Após uma corrida de tuk-tuk pela parte “nova” da cidade, é preciso descer e encontrar seu hotel à pé pelas ruelas. A princípio, pode parecer terrível andar por aquelas ruas caóticas carregando sua bagagem, mas uma vez alojado você vai ver como valeu a pena. O motorista de tuk-tuk que te levou até a entrada vai ficar mais que feliz em ajudar você a encontrar o lugar, por uma pequena comissão, óbvio. Leia nosso post com opções de hospedagem e os melhores lugares de Varanasi.
Aonde ir
Bodhgaya
Crédito: Ben Snooks (CC BY-SA 2.0)
Bodhgaya fica no noroeste da Índia, num dos estados mais pobres do país, Bihar. Foi ali, no século 5 a.C., que Siddhartha Guatama se sentou embaixo de uma figueira e passou 49 dias meditando até atingir a elevação espiritual, o Nirvana. Para quem não percebeu, estamos falando de Buda.
Essa árvore (ou uma revitalização de uma de suas mudas) ainda está plantada no mesmo lugar – é Árvore de Bodhi. Ela fica dentro de um templo, o Mahabodhi, considerado o mais sagrado dos templos budistas. Todo ano, o Dalai Lama, assim como vários monges, vão visitar Bodhgaya, que também tem outros templos budistas. Só é preciso ter bastante cuidado para chegar na cidade, já que as estradas e linhas de trem costumam ser alvos de ataques violentos por parte de gangues.
Fonte:https://www.360meridianos.com/2014/05/roteiro-de-viagem-para-india-espiritual.html
O meu roteiro na Índia
Souvenier em Agra, escultura de uma Marajá. |
Enfim consegui realizar meu sonho de encaixar a Índia no pouco tempo que tenho disponível para as minhas férias. Foi a minha primeira vez no país, e procurei fazer um roteiro que englobasse destinos turísticos como destinos não tão turísticos assim.
Minha maior vontade era percorrer o país viajando EXCLUSIVAMENTE EM TREM, tinha apenas 10 dias e obviamente percorrer um país com dimensões continentais como a Índia inteiro dessa maneira não seria possível! Sendo assim, fiz um bom planejamento e decidi escolher uma pequena parte que se encaixasse na minha disponibilidade e pude realizar essa minha vontade! Todo o material deste planejamento, comentando sobre vistos, bilhetes, hotéis, assim como o dia-a-dia de viagem foram/estão sendo publicados neste Guia para o Mochileiro na Índia, aqui no The World by Fon.
Uma prática que adoto sempre nas minhas viagens via transporte terrestre - principalmente nos casos em que entro e saio pelo mesmo destino - é deixar a cidade de chegada (que também será a saída) para o final, ou seja, chego e no mesmo dia já voo para o destino da "outra ponta". Adoto essa prática simplesmente por segurança. Caso tenha qualquer problema durante o decorrer da minha viagem, ainda tenho tempo de readequar meu roteiro e chegar a tempo do meu voo de volta, dessa maneira o destino mais longínquo será o primeiro e a partir disso as distância só vão diminuindo. Seguindo este costume, assim que cheguei em Nova Delhi já voei para Calcutá, de onde parti em trem "devolta" para Delhi fazendo uma série de paradas.
Memorial à Raina Victoria, em Calcutá |
Calcutá foi o primeiro contato, uma cidade de extremos, certamente um choque cultural que me deixou sem reação num primeiro momento. Posso afirmar com grande certeza, que mesmo quem já viajou bastante se impressiona quando cai na Índia pela primeira vez. E isso é bom! No primeiro dia fiquei no receio de gravar, de mostrar a câmera e chamar a atenção de todo mundo, mesmo assim o resultado ficou legal: Choque cultural em Calcutá - Índia TWBF Youtube #2.
Aspectos de uma manhã de domingo pelas ruas de Calcutá. |
De Calcutá embarquei num trem noturno que chegou bem atrasado e que estava com o meu lugar ocupado, com destino a Bodhgaya, onde minha meta era conhecer o lugar onde Sidarta Gautama atingiu a iluminação e se tornou o Buda. Está pequena cidade é uma das quatro cidades sagradas do Budismo, tive a sorte de ser acompanhado de um monge budista que me explicou muitas coisas sobre o tema e que me permitiu publicar um material bem completo neste vídeo aqui.
Nós dividimos Tuk-tuk juntos! |
Na perna seguinte da viagem, me desloquei para Varanasi! Uma das sete sagradas do Hinduísmo, à beira do Rio Ganges (não confunda com o grande líder Mahatma Gandhi). Aqui as coisas realmente impressionam: os rituais de puja e cremação à beira do rio, o constante caos pelas ruelas labirínticas e uma quantidade imensa de vacas! Foi a minha cidade preferida e ainda tive a oportunidade de vivenciar o Holi, o verdadeiro festival das cores indiano! Aqui também aprendi muita coisa sobre o Hinduísmo, a religião mais complexa que tive a oportunidade de conhecer. Te convido à sentir um pouquinho desse clima neste vídeo aqui: A coisa mais impressionante que vi na Índia - Índia TWBF Youtube #4.
Meio pornográfico né!? |
Khajuraho foi a seguinte parada. Aqui fica um complexo de tempos que é Patrimônio da Unesco. Chama muito atenção, pois são conhecidos como os Templos do Kama Sutra. As fachadas estão repletas de monumentos retratando posições sexuais! No mínimo curioso! Recomendo essa parada!
Puja no fim do dia, à beira do Rio Ganges |
Agra não podia ficar de fora, precisava ver o Taj Mahal, uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno e o a tumba mais famosa do mundo! Além do Taj, o Mini-Taj, a tumba de Akbar e o Forte Vermelho de Agra completam muito bem a visita nessa cidade! Aqui a coisa se torna bem mais fácil para o turista! Foram tantas coisas que precisei dividir o conteúdo em dois capítulos: As melhores vistas do Taj Mahal - Índia TWBF #6 e um vídeo específico Taj Mahal - Índia TWBF #7.
Eles parecem meio ranzinzas, mas os indianos sempre fazem fotos sem sorrir! Inclusive foram eles que me pediram pra fazer a foto! |
Por fim, cheguei em Delhi, onde finalizei minha viagem visitando a maioria dos pontos turísticos da capital, mas no meu curto espaço de tempo, deixei muita coisa pra trás. Sei que ainda voltarei para a Índia, e Delhi sempre será um destino acessível dentro do país! Fiz questão de guardar um pouquinho para depois! Neste momento já tinha entendido a mensagem principal que Índia queria me passar, e gostaria de compartilhar contigo no último capítulo desta série: Entenda porque eu gosto tanto da Índia! - Índia TWBF #9.
Neste artigo, tudo foi comentando de maneira resumida, venho comentando de maneira bem detalhada através através destes diários que fiz enquanto viajava. A série completa tem 9 episódios, e está disponível neste link. .
Durante os vídeos procurei comentar pontos chaves tais como o visto, idioma, e em vários momentos fiz pequenas introduções, buscando contextualizar temas sobre o Hinduísmo e sobre o Budismo. Mostrei alguns lugares onde fiquei e fiz um guia especial comentando todos os aspectos que precisamos saber antes de viajar nos trens da Índia.
O roteiro descrito anteriormente, posicionado no mapa, ficaria da seguinte forma:
Espero que este material seja útil e quero que saibam que o preparei com muito carinho e dedicação. Acho que esta é a melhor maneira de retribuir tudo que aprendi nessa viagem!
Quem viaja pela Índia, em pouco tempo acaba captando a mensagem. O choque inicial impressiona, mas a magia e o encanto logo florescem e a Índia inesquecível brota diante dos seus olhos!
Um lugar que te ensina o real significado da palavra tolerância, um lugar onde você descobre o que significa convivência e acima de tudo, um lugar que te transforma. Acredite, a ÍNDIA TEM A INCRÍVEL CAPACIDADE DE TE ENSINAR A SER MAIS HUMANO! Obrigado e até breve!
Abraço maior que o Atlântico!
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