Viagem à Índia – Nos Passos de Buda
Viagem cultural e espiritual pela Índia, com um grupo de budistas (e não só) sob orientação deSagarapriya, em Fevereiro de 2011.
Partimos de Lisboa em direcção a Deli (com escala no aeroporto de Londres Heathrow).
Ainda não tinha chegado à Índia e já no avião comia um delicioso prato indiano de comida vegetariana picante.
Chegámos a Deli ainda o dia não tinha nascido, passámos pelos procedimentos habituais no aeroporto. Já do lado de fora com o dia a nascer, constatei que haviam bastantes corvos. Fomos de autocarro em direcção ao hotel mas o descanso teve de ficar para mais tarde, só foi possível entrar nos quartos algumas horas depois de termos chegado, uma vez que não estávamos no horário de check-in.
Mais tarde, quando chegou a hora de tomarmos o pequeno-almoço, tínhamos como opção o hotel ou irmos procurar algum estabelecimento por Deli. Como essa refeição não estava incluída no preço que pagámos pelo hotel, eu e mais alguns companheiros de viagem decidimos ir procurar algo por Nova Deli. Foi também a primeira oportunidade de termos um maior contacto com a Índia.
Depois de umas voltas encontrámos um café e comemos a primeira refeição picante com os pés em solo indiano.
Durante a tarde apanhámos um auto-rickshaw para irmos até à Velha Deli. É impressionante andarmos nessas coisinhas com o transito caótico da cidade. Quase que parecia que estávamos a andar em carrinhos de choque.
Em Velha Deli estivemos no exterior do imponente Forte Vermelho e seguimos depois para a zona onde fica a maior e mais importante mesquita da Índia, a Jama Masjid.
De avião, partimos de Deli para Lucknow.
Atravessámos de autocarro a cidade e seguimos em direcção a Sravasti percorrendo a Índia rural.
Fizemos a primeira paragem no café do Buddharesort, local simples e acolhedor para descansar um pouco e tomar um Masala chai.
Ao longo dos nossos percursos entre os locais a visitar, fizemos paragens nos “cafés” para ir ao WC (mas muitas vezes era mesmo no mato), lanchar, tomar chá e descansar. Também parávamos para piqueniques, e almoçámos no autocarro em andamento várias vezes. Nestas deslocações vivenciámos muitos bons momentos.
Chegámos a Sravasti na parte da tarde. Sravasti foi a capital do antigo Reino de Kosala, serviu de abrigo a Buda durante 24 estações da chuva nos jardins Jetavana.
Alguns acontecimentos associados a Sravasti:
- A generosidade de Anathapindika
- A conversão de Angulimala [Angulimala Sutta]
- A tentativa de difamar o Buda e o Sangha
Depois de visitarmos as antigas ruínas, lemos o Maha-Mangala Sutta (Wiki) e meditámos no jardim debaixo de uma grande e antiga árvore que precisava de “muletas”. Essa árvore foi plantada porAnanda. Foi o primeiro momento mais contemplativo.
Estivemos também em contacto com alguns monges da região e monges que estavam a visitar ou a passar temporadas no local.
Na manhã seguinte fomos visitar uma Stupa onde se encontra um mosteiro feminino. Fomos muito bem acolhidos por uma das responsáveis do local.
De Sravasti deslocámo-nos para Kushinagar.
Alguns acontecimentos associados a Kushinagar:
- Local onde Buda faleceu e entrou em Parinirvana
Em Kushinagar visitámos o Templo do Parinirvana (onde se encontra uma grande estátua do Buda deitado), visitámos a Ramabhar Stupa que marca o local onde Buda foi cremado e lemos parte doMahaparinibbana Sutta (Wiki).
No Templo do Parinirvana, tivemos também a oportunidade de assistir a uma cerimonia de oferenda de um manto a Buda por parte de um grupo de monges e leigos tailandeses.
Esta deslocação a Patna foi uma bela aventura. Devido a um acidente (ou obras), tivemos de sair do percurso previsto, entretanto o nosso motorista também se perdeu.
Foi um percurso pela Índia rural que demorou bastante tempo, com velocidade muito reduzida por estradas de terra batida ou em mau estado.
Apesar da duração longa do percurso (10h), o grupo fantástico, um motorista excelente, e os locais incríveis por onde passámos, tornou esse percurso inesquecível.
Encontrámos uma stupa por acaso enquanto andávamos perdidos, a Kesariya Stupa, queassinala o local onde foram expostos os ensinamentos do Kalama Sutta (Wiki).
Perto dessa stupa tomámos chá e partilhámos alguns biscoitos e bolachas com o povo pobre que vive na zona, oferecemos também uma parte do nosso almoço.
Estava previsto visitarmos as ruínas de VAISHALI antes de chegarmos a Patna, mas devido à demora no percurso teve de ficar de parte.
Vaishali era uma cidade grande, rica e próspera, capital de Licchavi, considerado um dos primeiros exemplos de uma república.
Alguns acontecimentos associados a Vaishali:
- O modelo organizacional dos Licchavis serviu de modelo para a Sangha
- Segundo Concílio Budista passados 100 anos após o Buda ter entrado em Parinirvana
- Ambapali [Ambapali Sutta] e a oferenda do Bosque de Mangas
Em Patna ocorreu o Terceiro Concílio Budista. Também já não foi possível visitarmos o Museu de Patna como estava previsto.
No hotel, fomos convidados para o baile de um casamento.
Seguimos de Patna em direcção a Rajgir.A poucos kms de Rajgir ficam as ruínas de NALANDA.
Considerada a primeira universidade residencial do mundo, Nalanda no seu apogeu teve mais de 10 000 alunos e 2000 professores. Foi a maior universidade na sua época.
Segundo fontes tibetanas, Nagarjuna ensinou aí.
Para além de estudos budistas e de filosofia, também era ensinado ciência, astronomia, medicina, lógica, yoga, vedas, etc…
Em Rajgir pernoitamos num hotel japonês, o hotel da viagem que mais gostei.
Logo pela manhã alguns de nós fomos meditar para o templo do hotel. Durante a meditação, devido à quantidade de abelhas que observámos no chão, reparámos que no teto por cima das nossas cabeças estavam enormes ninhos de abelha… continuámos na meditação.
Rajgir é um dos locais mais antigos da Índia continuamente habitado. Na época de Buda era acapital do Reino de Magadha.
Foi para Rajgir que o príncipe Siddhartha se dirigiu após abandonar o seu palácio, provavelmente para contactar com a grande comunidade de ascetas que frequentavam as grutas, florestas e escarpas à volta da cidade.
Alguns acontecimentos associados a Rajgir:
- Encontro do Bodhisattva e o rei Bimbisara
- Moggallana e Sariputra tornam-se discípulos de Buda
- Ajatasattu e o seu pai Bimbisara
- Os atentados de Devadatta
Logo pela manhã, subimos o Monte Gridhrakuta, conhecido por Pico do Abutre ou Pico da Águia, local onde foram expostos importantes ensinamentos. O Sutra do Lótus, um dos Sutras mais importantes e influentes do Budismo Mahayana, foi proferido nessa montanha.
Próximo a umas importantes termas, subimos mais um monte em direcção às cavernasSaptaparni, zona onde ocorreu o Primeiro Concílio Budista após a morte de Buda. Apreciámos a paisagem, lemos o Jivaka Sutta e sentámo-nos em meditação.
De Rajgir fomos para Bodhgaya
Bodhgaya foi o local mais importante e mais esperado da viagem. Foi também onde mais dias ficámos.
Alguns acontecimentos associados a Bodhgaya:
- O esforço final [Padhana Sutta]
- O Despertar (iluminação) [Ariyapariyesana Sutta e Mahasaccaka Sutta]
- A decisão de ensinar o Caminho [Ariyapariyesana Sutta – Versos 19 a 21]
As jóias de Bodhgaya são o Templo Mahabodhi e a Árvore Bodhi, local onde Buda atingiu a iluminação. Nas proximidades existem vários templos e mosteiros de vários países e tradições do budismo (Theravada – Mahayana – Vajrayana).
Templo MahabodhiLogo de madrugada (cerca das 4:30 / 5.00) íamos para o Templo Mahabodhi. Andávamos à volta do templo e meditávamos debaixo da árvore Boddhi. A partir dessa hora o local começa a fervilhar de actividade. Cânticos, rituais, monges e leigos peregrinos, gente de todo o mundo e muito movimento!
Numa das madrugadas, graças ao monge Anuruddha que conhecemos no Templo Tailandês, oferecemos um manto à estátua de Buda do Templo Mahabodhi.
Devido às dezenas de mosquitos pela manhã e durante a noite, usávamos um lenço para nos protegermos principalmente quando estávamos em meditação, o repelente também ajudou muito.
Este é um local magnifico com um ambiente incrível e impactante, inesquecível e inspirador! Os momentos que passamos nesse templo foram dos mais altos da viagem!
De Madrugada (Imagens de Ramiro Fernandes)
Oferta do Manto a Buda (Imagens de Ramiro Fernandes)
Além do Mahabodhi, dos vários templos que visitámos nos dias que estivemos em Bodhgaya, destaco os seguintes:
Templo do ButãoUm templo pequeno mas que nos surpreendeu pelas pinturas fantásticas com a descrição da vida do Buda em relevo nas faces da parede interior.
Templo TailandêsNeste templo assistimos a cânticos dos monges.O monge Anuruddha, um Mestre formidável e super simpático, nos acolheu. Recebemos Ensinamentos, Refúgio e Preceitos.É um dos templos mais bonitos da localidade.
Templo Japonês (Indosan Nipponji)Participei na cerimónia de Refúgio, Recitação do Sutra do Coração (Wiki – Youtube), e Zazen. Outro dos grandes momentos da estadia em Bodhgaya.
Templo ChinêsA ênfase vai para o Paifang (portal).
Templos TibetanosSão vários os templos e mosteiros tibetanos espalhados por Bodhgaya. Gostei especialmente do templo do Mosteiro Shechen e da sua stupa.
Templo Daijokyo / Grande Estátua de BudaA estátua de 25 m de altura é a insígnia do templo.
Existem ainda outros templos relacionados às várias tradições do budismo.
No Museu de Arqueologia podemos observar vários artefactos budistas.
E por fim, destaco também o mercado e a zona envolvente ao complexo do Templo Mahabodhi.
De Bodhgaya fomos para Varanasi.
Varanasi é uma das cidades mais antigas e emblemáticas da Índia e um local de grande importância para os hindus. É uma cidade enorme e absolutamente incrível.
Do hotel fomos de rickshaw até ao cais do Rio Ganges, depois metemo-nos num barco, vimos cremações hindus e assistimos à cerimónia Aarti. Tivemos um excelente guia que falava espanhol.
No dia seguinte, antes de amanhecer alguns de nós fomos novamente até ao Rio Ganges para ver o nascer do sol. O dia estava muito bom, aproveitámos também para fazer uma mini meditação. Novamente fomos de barco até ao local das cremações, saímos mesmo do barco e estivemos a 1 ou 2 metros de distancia dos acontecimentos. Estivemos também próximos da tocha do fogo sagrado (segundo os hindus), conta-se que continua aceso há algumas centenas de anos.
Em busca do Templo Kala BhairavaUm companheiro de viagem tinha a referência de um importante Templo Hindu, sabíamos a localização aproximada, mas não sabíamos exactamente de que templo se tratava. Já depois da viagem é que vi que ao que parece estivemos no Kala Bhairava.
Bhairava significa Terrível, é uma manifestação ferroz de Shiva.
Bhairava significa Terrível, é uma manifestação ferroz de Shiva.
Formámos um grupo de 6 pessoas (3 homens e 3 mulheres) para ir conhecer o templo.
Uma pequena aventura que até podia não ter corrido muito bem…
Saímos do hotel, o grupo dividiu-se por dois auto-rickshaws em direcção ao local pretendido.
O plano correu mal logo no início, o grupo separou-se porque os auto-rickshaws pararam em locais distintos.
Continuámos a pé, percorremos ruelas labirínticas e estreitas e fomos perguntando às pessoas a localização do templo. Chegámos a um checkpoint com elementos da policia armados. Percebemos que não podíamos entrar com máquinas fotográficas e telemóveis. Ficou combinado eu e mais o colega de viagem ficarmos com o equipamento das raparigas, elas entravam e nós ficávamos à espera, depois seria a nossa vez de entrar. Pensava-mos que era uma visita simples, que se entrava e se saía por ali sem complicações.
Elas entraram, nos ficámos à espera… e esperamos, esperamos e nada…. Começámos a achar estranho a demora… decidimos que eu ia lá ver o que se passava.
Logo depois percebi que a entrada era mais complicada do que pensávamos. Essa entrada era só para indianos, e a partir daí fui desviado para outra rua em direcção a outro checkpoint. Passei pelo checkpoint, mas ainda não era a entrada do templo, segui por mais um emaranhado de ruas.
Já em outro checkpoint, conferiram o passaporte e perguntaram se era hindu, tive a sensação que os estrangeiros não eram muito bem-vindos. Parecia que estava num filme seguindo por ruas obscuras…. Finalmente cheguei próximo da real entrada do templo. Tinha de entrar descalço, por isso tive que deixar os ténis e meias numa espécie de pequeno quiosque, tive também de lavar as mãos, um acto de purificação. Passei por mais um checkpoint na entrada do templo. A entrada é uma porta normal, como se fossemos entrar numa simples casa. Finalmente estava dentro do templo.
O chão do templo estava com água imunda, mas lá tive de seguir descalço… Pessoas no templo faziam rituais, macacos deambulavam e saltavam de um lado para o outro.
Não estava a conseguir encontrar as raparigas, mas quando me preparava para sair, encontro-as a elas e aos outros 2 companheiros que iam no outro auto-rickshaw.
Ufa!! estava tudo bem! Contaram que fora do templo tentaram levá-las a uma casa para fazer sabe-se lá o quê…
Já de noite tentámos ir para o local onde o outro companheiro tinha ficado, demos várias voltas, passámos pelos mesmo sítios várias vezes, mas não conseguimos ir lá dar… aquelas ruas estreitas são mesmo um autentico labirinto! Decidimos ir para o hotel, passado um pouco ele também chegou!
Come referi, nós não pudemos captar imagens, mas deixo aqui um vídeo que encontrei no youtube sobre esse templo:
A actividade na cidade e principalmente junto ao rio Ganges é impressionante! Por todo o lado vemos Sadhus, peregrinos, muito comércio e claro as vacas sagradas. Uma cidade cheia de sons, cheiros, ruas labirínticas, ruelas e becos. Há sempre qualquer coisa a acontecer. Foi um dos locais mais admiráveis e impactantes da viagem!
Junto a Varanasi fica SARNATH.
Alguns acontecimentos associados a Sarnath:
- Local do primeiro ensinamento de Buda
- O inicio da Sangha
Em Sarnath existem vários templos e ruínas budistas. A Stupa Dhamekh é o monumento mais importante, marca o local do primeiro ensinamento. Foi mandada construir por Ashoka.
No jardim junto à stupa lemos o Dhammacakkapavattana Sutta (Wiki) e meditámos debaixo de uma árvore, quando nos levantamos reparámos que também tinha sido plantada por Ananda.
Também junto à stupa fica um templo Jainista onde fomos recebidos por um asceta sem roupa.
De Varanasi fomos de avião para Deli e seguimos depois de autocarro para Agra.
No percurso de autocarro passámos por zonas em Deli bastante desenvolvidas, com vários edifícios modernos.
Existem bastantes obras por toda a Índia, constata-se um país em evolução e a se modernizar. É notório os grandes contrastes sociais, de um lado muita pobreza, do outro muita riqueza.
Em Agra visitámos o icónico Taj Mahal e o Forte da cidade.
Após vários dias a comer comida indiana, fui a uma pizzaria ocidental.
Curiosamente, a pizza e a deliciosa sobremesa não me caíram lá muito bem… Na manhã seguinte percebi que não devia ter feito bem a digestão, e em vez de ter tomado qualquer coisa mais leve ao pequeno almoço, como um chá, fui comer um pequeno prato de cereais. Claro que mais tarde tive que vomitar.
Novamente com os pés em Deli, visitámos o Templo de Lótus (religião Fé Bahá’í), famoso pela sua arquitectura moderna.
De seguida, tendo o nosso motorista como guia, visitámos o templo Bangla Sahib Gurudwara, um dos mais importantes do Siquismo.
Terminada a visita, fomos a um bom restaurante onde comemos a ultima refeição em solo indiano.
E por fim, seguimos para o aeroporto onde apanhámos o avião com destino a Portugal.
Esta viagem para além do lado espiritual mostrou-nos a Índia profunda e a sua cultura. O povo indiano foi sempre bastante simpático e atencioso.
Uma viagem inesquecível e impactante!
Ricardo Sousa2011
Reportagem no programa Caminhos da RTP2:
Cada Sutta que é referido neste texto possui um link para o Sutta completo em Português.Cidades, locais, nomes, conceitos, etc, têm o link para uma página da Wikipédia com a respectiva descrição. O link aponta para a versão em inglês pelo simples facto de estar mais completa, no entanto, há que ter em mente os possíveis erros.
Exceptuando as fotos e vídeos com a identificação do seu autor, todas as outras são da minha autoria.
Exceptuando as fotos e vídeos com a identificação do seu autor, todas as outras são da minha autoria.
Fonte:https://olharbudista.com/2016/04/08/viagem-a-india-nos-passos-de-buda/#jp-carousel-2802
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