Índia
Uma experiência profundamente impactante.
Relatos de 2016 para reviver em 2018.
Por Tiago Botelho (Lisbon Yoga Festival 2017)
Muito se fala da Índia como o berço de uma das mais antigas civilizações, rica em inúmeras tradições, também elas ancestrais, com uma mística muito própria que a transformam num dos locais mais apetecíveis para visitar.
Foi tudo isto, e muito mais, que me levou, em 2016, a embarcar na aventura desta viagem.
Começar por dizer que a Índia é enorme e que a minha passagem por estas terras foi relativamente curta e limitada, não podendo expressar uma opinião global sobre este país, que é só 35 vezes maior do Portugal e que é o segundo país mais populoso do mundo, com mais de 1 bilhão de habitantes.
Uma das impressões que fica da Índia é que, tudo é muito. Muito diferente, muito grande, muita gente, muito barulho, muito trânsito, muita poluição, muita pobreza e também muito diversificado, muito bonito, muito místico, muito espiritual, muito colorido, muito aromático, muito enriquecedor, muito profundo ... Como se pode perceber, alguns destes muitos até podem parecer opostos. Mas é mesmo assim, uma vida cheia de contrastes, e estes, na Índia, são mais do que muitos.
Na verdade, a Índia parece-me que não deixa ninguém indiferente. Uns por uns motivos outros por outros, mas toca profundamente todos aqueles que por lá passam.
A minha experiência resume-se à zona norte, a 3 dos 28 estados que constituem a Índia (Rajastão, Uttar Pradesh e Uttarakhand) e a locais como Delhi, Jaipur, Pushkar, Agra, Varanasi, Sarnath e Rishikesh.
Em 2018, visitaremos “apenas” Delhi, Pushkar, Varanasi e Rishikesh, para que possamos aprofundar a vivência em cada um destes locais.
Cada um dos locais apresenta experiências únicas e diferenças consideráveis entre si. A chegada a Delhi é o primeiro embate com uma realidade tão diferente da nossa. Uma metrópole com mais de 10 milhões de habitantes, que vive entre a pobreza extrema de alguns e os SUV’s e iPhones de última geração de outros. Entre as pessoas que dormem no passeio junto ao seu riquexó, e aqueles que vivem em zona semelhantes ao nosso Restelo em Lisboa ou Av. da Boavista no Porto. É uma cidade que acorda cedo com um trânsito caótico. São milhares e milhares de carros, motas, riquexós, bicicletas e muitas, muitas buzinas. Aliás a bizuna pareceu-se ser o denominador comum de todos os locais por onde passámos. O tom de fundo quase sempre presente. Ao principio enerva confesso, mas depois, como tudo na vida, habituamo-nos.
Descendo para Pushkar, o berço da criação na mitologia Hindu, deparamo-nos com uma cidade mais pequena e calma, hippie-cool e que é um dos cinco locais sagrados e de peregrinação obrigatória para todo o Hindu. Nós não somos, mas foi um prazer estar por lá.
Fica à beira do lago sagrado, miticamente criado por uma flor de lótus deixada cair por Brahma. Ai encontramos o único templo no mundo dedicado a Brahma, onde se pode participar na cerimónia (puja) diária, em adoração ao criador Brahma. São mais de 50 ghats e cerca de 400 templos (grande parte deles azul celeste) em torno deste lago. A experiência de ver o sol nascer e meditar junto ao lago, foi das mais marcantes de toda a viagem. Sentir os primeiros raios de sol e assistir aos rituais realizados por homens e mulheres de todas as idades, sob o olhar atento e paciente de algumas vacas que vão passeando pelo local, é uma imagem que nunca mais se esquece.
Falando em ghats, é importante explicar a sua importância em vários locais sagrados da índia como Pushkar, Varanasi, Haridwar ou Rishikesh. São basicamente escadarias que ligam a população a um corpo de água sagrado, onde se fazem vários rituais, depositando oferendas como flores, incenso ou velas e se pede a bênção e proteção aos deuses.
Em Varanasi, estes mesmo ghats assumem um papel único, pois são neles, junto ao rio Ganges, que se procedem, dia e noite, às cremações. Algo que é indescritível. Na verdade, sinto que aceitam esse momento como uma passagem, entregando-se ao fluir do rio. Varanasi é definitivamente uma experiência só por si. As ruelas super estreitas, onde convivem vacas, cães, pessoas, lojas, scooters, e muito mais, num labirinto em que muito facilmente perdemos o norte. Como aconteceu algumas vezes. O bom é que tudo acaba por nos levar até ao Ganges e aí, através dos ghats, é mais fácil encontrarmos o caminho para a guest house.
Este é outro assunto sui generis na India – o alojamento. Aquilo que entendemos por limpeza, nem sempre é o mesmo que o indiano. Aquilo que entendemos por água quente, nem sempre é o mesmo que o indiano. Aquilo que entendemos por pequeno almoço, nem sempre é o mesmo que o indiano. Ora bem. Dormir, pode ser uma experiência pouco reconfortante aqui e ali, mas o melhor é colocar os nossos padrões ocidentais de lado, e, se for o caso, pedir para colocar lenções lavados à nossa frente e descansar o melhor que se pode, porque o dia seguinte é sempre longo.
Saltemos para Rishikesh, a nossa última paragem e local que se distingue de todos os outros. Deixámos a confusão das cidades maiores e, apesar da buzina continuar a fazer parte do nosso dia-a-dia, já nem lhe ligamos. Estamos no sopé dos Himalaias, à beira do sagrado rio Ganges, que aqui se apresenta limpo e convida a um banho, não fosse a temperatura da água ser tão baixa. Mas, como nunca sabemos se lá vamos voltar, o melhor é não perder a oportunidade e, descer o rio num barco de rafting, para mergulhar mesmo no meio de um dos rápidos. Entre as duas famosas pontes de Ram Jhula e Laxman Jhula, encontramos, dos dois lados das margens, uma concentração espiritual. Claro que, no meio de muito negócio e comércio, a cada porta ou esquina. Mas de facto, Rishikesh, considerada o epicentro mundial do yoga, é um local muito especial e profundo. Estamos no meio da natureza, com montanhas de uma vegetação densa a todo o nosso redor e somos levados a olhar para o rio a cada passo que damos. O rio é uma presença constante e que nos dá uma serenidade e um fluxo interno impar. Há aqui uma tradição, que tem passado de geração em geração e que tem trazido a este local, grandes pessoas, que marcam a história do yoga, do conhecimento védico e da espiritualidade de forma impar. Poder meditar no pequeno o modesto kutir (local de refúgio) de Swami Sivananda (um dos mais influentes mestres do yoga moderno), sem ninguém a teu lado, apenas com uma enorme fotografia do mesmo à tua frente, é inarrável. É também um local onde hoje coabitam pessoas de todo o mundo, que comungam de um mesmo principio: a união. Seja a união entre as próprias pessoas, seja entre corpo, mente e espírito, seja entre os dois lados do rio. Na verdade, Rishikesh é mesmo isso, um local de profunda união contigo e com tudo o que te rodeia. Na verdade, este é para mim, o espírito profundo da mãe Índia.
Fonte:https://www.portoyogafestival.com/blog/category/iacutendia
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