História e costumes da Índia – Fotos da Índia, castas e cultura.
História e costumes da Índia
Não há dúvidas que a Índia é um dos países mais interessantes e curiosos do mundo. Sua cultura chama a atenção de todos e pode ser considerada única.
Só no território indiano existem pelo menos 18 línguas oficiais, isso sem falar nos milhares de dialetos e variações. O povo é muito apegado à tradição e a mantém viva há milênios.
Economicamente e socialmente a Índia é um país bastante desigual. Enquanto cidades como Nova Dheli impressionam pelo desenvolvimento e são consideradas de 1º mundo, ainda existem vilarejos onde nunca houve energia elétrica e o povo morre de fome.
A expectativa de vida também pode variar até 15 anos de um estado para o outro e o sistema de castas faz com que a população seja dividida e ganhe “rótulos” logo ao nascerem. Mas esse assunto é muito relevante para ser apenas citado, portanto, confira a síntese que preparamos:
Castas
Existem na Índia 4 classes de hierarquia social ligadas ao nascimento ditadas pelo hinduísmo, sendo elas:
- Brâmanes: Sacerdotes
- Xátrias: Reis e guerreiros
- Vaixás: Mercadores e produtores
- Sudras: Servos
Havia ainda um grupo de pessoas excluído dessa hierarquia, os Dálits ou Intocáveis. Eles eram considerados tão impuros que tocá-los ou sequer pisar em sua sombra era uma desgraça. Por isso eram reservadas aos Dálits as piores tarefas como limpar excrementos, sem falar no fato de serem proibidos de entrarem em templos ou coletarem água num mesmo poço que pessoas de outras castas. Não são atendidos por médicos e recebem comida no chão.
Cultura
Os indianos têm uma série de crendices e tradições que a primeira vista parecem muito estranhas, especialmente para os ocidentais.
Um bom exemplo são as vacas. Fonte de alimento em muitos países ela é venerada na Índia. Já o couro, muito usado comercialmente em todo o mundo é desprezado e considerado impuro pelos hindus.
O modo como tratam as mulheres também é bastante diferente. Ao se tornarem viúvas, as elas devem raspar a cabeça e se vestir sempre de branco, como manda o hinduísmo. Ter uma filha na Índia é considerado um fardo pois ao se casarem elas deixam a casa e ficam atreladas a um novo clã. É necessário ainda desembolsar um bom dinheiro para o dote, uma série de presentes dados à família do noivo.
O favoritismo masculino é tão grande que a sociedade indiana é considerada por muitos extremamente machista. As mulheres têm a função de executar as tarefas domésticas sendo que a minoria sabe ler. Até dentro de casa elas têm que ser submissas, que em algumas regiões a esposa só começa a comer quando seu marido já terminou.
A concepção do sexo na Índia também já sofreu fortes mudanças. Antigamente ele era tão liberal que muitos o indicavam para a salvação da alma. Foi nesse período que foi criado o Kama Sutra. Hoje, mesmo casais casados não demonstram qualquer tipo de afeto em público para evitar recriminações.
A Índia é realmente um país bastante diferente. Seu trânsito é considerado caótico e a religião gera inúmeros conflitos. O importante é saber reconhecer as diferenças principalmente culturais e respeitar os ritos e costumes desse povo.
Fonte:http://www.essaseoutras.com.br/india-historia-castas-cultura-fotos-costumes-tudo-sobre-pais/
Curiosidades sobre a Índia (e que o vão fazer entender melhor o país)
A índia está cheia de lugares comuns mas de muitos mistérios também. Eis algumas Curiosidades sobre a Índia e que o vão fazer perceber melhor o país. Num artigo anterior já lhe mostramos os melhores conselhos para viajar no país. Agora é hora de lhe mostrar algo para o perceber um bocadinho melhor.
1. Na parte frente dos autocarros há um mantra escrito em vez do destino da viagem
Os autocarros indianos na generalidade não têm o destino escrito na parte dianteira. Em vez disso, têm um mantra hindu, que funciona como uma oração. Face à taxa de acidentes de viação na Índia, é caso para dizer que é mesmo um acto de fé embarcar num autocarro indiano! Uma pessoa morre na Índia, em acidentes de viação, a cada cinco minutos. Eis um das curiosidades sobre a Índia e que lhe vai dar muito jeito para viajar no país.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura na estrada para o Vale de Spiti.
2. Há vendedores de refeições que alimentam a população trabalhadora
A Índia tem “vendedores de comida” que nas principais cidades do país, vendem marmitas de comida, que são levadas aos locais de trabalho da população. Esses trabalhadores deslocam-se na cidade com as “lunchboxes” típicas indianas, marmitas metálicas escalonadas. Os indianos chama-lhe dabbawalla, o sistema de distribuição de refeições. Mumbai é a melhor cidade para testemunhar estes rituais diários.
3. A Índia reconhece a existência de um terceiro sexo (género)
Na generalidade dos países do mundo, há dois sexos reconhecidos oficialmente, o masculino e o feminino. Na Índia existe o terceiro sexo, quando os indivíduos não se definem completamente nem como homem, nem como mulher. São as Hijras. As Hijras são transgéneros e fazem parte da cultura milenar indiana com um papel social importante. São chamadas quando há inaugurações e são presenteadas com oferendas nos lugares públicos, para dar sorte. No entanto, são frequentemente vitimas e abusos sexuais e prostituição nos bairros mais pobres das cidades. Em 2014, quando o governo indiano reconheceu legalmente o terceiro sexo fê-lo com a seguinte frase:
O reconhecimento das pessoas transgénero como um terceiro género não é uma questão médica ou legal, mas sim uma questão de direitos humanos.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Bhubaneshwar
4. O sistema de castas é a base da sociedade
A sociedade indiana assenta num forte sistema de castas, uma estratificação social feita com base na origem divina do indivíduo. O sistema de castas baseia-se na endogamia, ou seja, a casta é passada de pai para filho e não pode haver casamentos fora da mesma casta, já que não é permitida a mobilidade social. A cada uma das castas corresponde um grupo de profissões pré-estabelecidos, e como tal, um papel na sociedade indiana. Segundo a lenda, Purusha, um homem cósmico dos Vedas (escrituras sagradas do hinduísmo) terá sido desmembrado e do seu corpo saíram as quarto principais castas. Da boca saiu a sabedoria, que deu origem aos Bramas, a casta superior e aos quais competem as profissões intelectuais, nomeadamente professores, sacerdotes e médicos. O acesso à cabeça de Purusha dá aos Bramas autoridade intelectual sobre as restantes castas. Dos braços foram criados os Xátrias, que conservaram a força braçal do ser cósmico, tendo a função de defender o povo hindu, e conservando profissões de militares e guerreiros. Das pernas de Purusha saíram os Vaixás, os comerciantes. Dos pés, a parte menos nobre do ser cósmico, saíram os Sudras, aqueles a quem compete servir os outros, os trabalhadores, tais como os operários, camponeses e artesãos. Neste sistema, há seres que não descendem de Purusha, mas do pó da terra que Brama (Deus criador hindu) pisou, seres inferiores, que são considerados sem casta, seres desprezados pela sociedade indiana, conhecidos por Párias, Dalits ou Intocáveis. A estes competem as profissões, geralmente não remuneradas, mais sujas da sociedade, tais como varredores de lixo, limpeza de latrinas, etc. São indivíduos desprezados e excluídos na sociedade indiana. À medida que os séculos foram passando, as castas principais foram-se subdividindo e, na actualidade, há dezenas de subcastas. Até hoje pouco se tem feito para combater o sistema de castas, pelo menos do ponde vista prático, já que legalmente são proibidas desde 1950. No entanto, a recente introdução por parte do governo indiano de quotas para os “sem casta” e indivíduos de castas mais baixas aos empregos públicos e escolas, tem feito mudanças na sociedade indiana. Esperemos que o futuro seja promissor na igualdade social da população.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura Kaza, no vale de Spiti
5. “Hotel”, não significa hotel. Hotel é um local para comer
Sempre que se vê um cartaz com a designação “Hotel”, geralmente não se trata de um local para dormir. O termo “hotel” na Índia, especialmente no sul, designa local onde se pode comer e corresponde a “botecos de estrada”, que servem comida vegetariana ou não vegetariana e onde se pode comer uma refeição ligeira e rápida. Se procura um hotel, procure por “guesthouse”, “resort” ou “rooms”. Eis uma das curiosidades sobre a Índia e que lhe vai dar muito jeito para viajar no país.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Port Blair, nas ilhas Andaman
6. Os Sadhus são parte da Índia
A sociedade indiana tem um papel social atribuído aos chamados homens santos, sacerdotes ascetas hindus, que se concentram junto aos rios sagrados (especialmente nas margens do Ganges) ou na entradas dos templos. Os Sadhus abdicam de uma vida material e vivem das esmolas da população. Praticam Yoga e meditam nas ruas e templos. Os mais “radicais” andam nus com o corpo apenas coberto por cinzas dos mortos. O melhor local para os ver é ao longo do Ganges, especialmente em Varanasi. De quatro em quatro anos, os Shadus juntam-se no festival Kumbh Mela, em quatro cidades indianas alternadas.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Varanasi
7. A empresa TATA é a marca da Índia
A TATA é uma multinacional indiana que tem negócios em quase todas as áreas económicas da Índia, nomeadamente transportes, chá, industria química, hotelaria, energia, comunicação, etc. Viajar na Índia é ver a TATA em todo o lado.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Calcutá
8. A Índia está cheia de indianos
A Índia tem uma área 35 vezes a de Portugal mas a população é 130 vezes superior. Se pensarmos que uma parte significativa da Índia é ocupada pela cordilheira dos Himalaias é fácil perceber que a densidade populacional da Índia é esmagadora. E cidades como Mumbai têm uma densidade populacional de 31 mil hab./km². Na índia nunca se está sozinho, há sempre um indiano, literalmente, colado a nós.
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Calcutá
9. BLOW HORN
Viajar na Índia implica ouvir buzinas todos os dias. É aceite por todos os que andam na estrada que buzinar é imperativo para que todos saibam que andam na estrada. Assim, riquexós, autocarros, camiões, carrinhas e até alguns veículos privados têm pintado na parte trazeira “Blow Horn”, que significa BUZINE!
Esta fotografia foi tirada durante a nossa aventura em Manali
Fonte:https://www.viajarentreviagens.pt/india/10-curiosidades-sobre-a-india/
Bhopal e as memórias da Rota das Especiarias | Índia
Bhopal é o resultado urbano da Rota das Especiarias na Índia. Percorrer as ruas do bazar muçulmano é como viajar no tempo e ter sido tele-transportado para os tempos áureos da Rota das Especiarias e da Rota da Seda.
Quando se viaja para a Índia é fácil perceber que as especiarias fazem parte da vida das populações já que as utilizam (abundantemente) para cozinhar, para fazer medicamentos e até para aromatizar casas ou bebidas. Assim sendo, a Rota das Especiarias, que em tempos levaram as especiarias em direcção ao Médio Oriente ou à Europa, através da Rota da Seda, floresceu e deu origem ao crescimento de vários entrepostos comerciais, onde cresceram cidades com grandes mercados e baseadas na actividade comercial.
A maioria das especiarias transaccionadas na Rota das Especiarias eram produzidas no sul da Índia, especialmente no estado de Querala, daí que Vasco da Gama tenha assentado na região, nomeadamente em Cochim, para fazer as transacções comerciais com Portugal.
Mas ainda antes de Vasco da Gama chegar à Índia, as especiarias já viajavam pelo interior do país, em direcção ao Paquistão e ao Afeganistão, e até em direcção à China, através da estrada magnífica de Caracórum.
Estas trocas comerciais fizeram aparecer várias cidades na Índia, uma delas Bhopal, normalmente com um bairro muçulmano, onde se desenvolveu um bazar. Muitas das cidades perderam o carácter mercantil depois das rotas terrestres definharem, mas Bhopal não.
A cidade de Bhopal tem um bairro muçulmano incrivelmente preservado, com mesquitas, paredes meias com templos hindus, que parecem casar com as mil e uma lojas de especiarias e frutos exóticos.
Vende-se de tudo no bazar, tâmaras do Irão e Iraque, especiarias de Querala e até do Afeganistão e China, farinhas, bolachas e batatas da Ásia Central, chás e efusões da China e de toda a Índia. Caril, gengibre, açafrão, canela e cravinho são os réis do bazar.
Não é necessário passar muito tempo na cidade de Bhopal para se apaixonar por ela, até porque ela tem poucos locais verdadeiramente impressionantes para se conhecer. Mas vale, definitivamente, a pena parar ali e sentir o pulso da cidade e do seu bazar ao fim da tarde e à noite. Foi isso que nos fizemos durante a nossa viagem pela Índia e assim nos apaixonámos por Bhopal.
Dica
- Nós alojamo-nos no Hotel Ardash Palace, em Bhopal, bem no coração do bazar da cidade. Foi uma óptima escolha. Um hotel limpo e muito bem localizado no caos do bazar, mas ao mesmo tempo um hotel tranquilo e sossegado.
10 conselhos essenciais para quem vai viajar para a Índia
A Índia é um país que tem um mundo lá dentro. No entanto, a Índia tem um canto para todos. Mas nem todos gostam da Índia, porque a Índia não é para todos. Mas a Índia é, com certeza, o país mais genuíno de todos. Deixamos-vos aqui 10 conselhos que consideramos essenciais para quem vai viajar para a Índia pela primeira vez. Independentemente de ir em viagem organizada ou de forma independente, ninguém vem indiferente da Índia. Quem vai viajar para a Índia de forma independente terá que travar muitas mais lutas interiores, mas ninguém escapa delas. Se vai viajar para a Índia há coisas que precisa saber.
1. A Índia é um murro no estômago
A índia é um murro no estômago. Um murro que dói até deixarmos de sentir a dor. A Índia não é um país para principiantes. O choque cultural é imenso, talvez o maior que um ocidental possa ter. O calor e a humidade não ajudam. Os cheiros, omnipresentes, não dão descanso aos sentidos. A pressão das pessoas, aos milhões, de dia e de noite, em todos os lados. A falta de espaço privado e de noção de privacidade. As vacas. As frutas. O lixo. As flores. A miséria. Os sorrisos. A fome. A alegria das pessoas. As buzinas. A bondade. Os macacos. A hospitalidade. Os ratos. A generosidade. Tudo no mesmo país. Tudo ao mesmo tempo. Se vai viajar para a Índia, prepare-se.
2. A Índia precisa de tempo
Dê tempo à Índia. A Índia precisa de tempo para a conseguirmos ver e sentir. Não a julgue. Aprenda com ela. Não olhe a Índia com olhos de censura, de julgamento arbitrário. Procure perceber. Procure conhecer as causas. Procure as respostas. As perguntas todos as fazem; as respostas, essas, precisam de tempo. Viajar para a Índia durante uma ou duas semanas vai fazer-lhe detestar o país. Não terá tempo para o compreender.
3. Vai ver pobreza, miséria e fome todos os dias
As ruas das cidades indianas estão cheias de mendigos, crianças de rua, órfãs, que vivem o dia-à-dia em condições desumanas, algumas piores do que animais. Dormem nas estações de comboio, nas portas dos edifícios, nos caixotes do lixo. Dormem ao lado das vacas. Partilham comida com ratos e macacos. Esta visão da Índia é forte. Muito forte. Mas para além dos mendigos de rua, a maioria das pessoas que trabalha ganha tão pouco que não tem casa para dormir. Dormem no hotel, no restaurante, na loja. Dormem no corredor e na recepção do hotel onde reservou o quarto. Dormem na porta do restaurante onde vai tomar o pequeno-almoço. A Índia é pobre. Muito pobre. A fome é o dia-à-dia de muitos adultos e crianças que passam os dias à procura de arranjar algumas rupias para saciar a fome. Viajar para a Índia é testemunhar esta realidade.
4. A morte vai-lhe entrar pelos olhos dentro
A morte é uma fase da vida e na Índia isso é bem visível. É cada vez menos comum ver mortos nas ruas, alguns abandonados, outros a serem tratados pelos familiares. Mas se viajar em meios pequenos pode ver as famílias a despedirem-se dos cadáveres à porta de casa, a prepará-los para a cerimónia fúnebre, a preparar as cremações. Não acontece só em Varanasi. Acontece um pouco por toda a Índia. Se estiver atento, a morte anda nas ruas. Em Bikaner passávamos nas ruas da cidade velha quando vimos um jovem com o pai a preparar a padiola para colocar a mãe. Faziam-no na berma da estrada, pois não havia passeio. Em Puri, partilhámos a dor das famílias que ainda fazem a cremação tradicional dos corpos, sob o olhar reprovador dos mais jovens que prefeririam queimar os pais nos crematórios modernos e fechados. Em Varanasi a morte desfila pelas ruas. As padiolas saem dos templos e das casas e percorrem as ruas em direcção aos ghats crematórios, onde os filhos mais velhos rapam os cabelos. Os doentes e moribundos aglomeram-se nas ruas estreitas da cidade velha e esperam morrer nas margens do Ganges. Os mortos bóiam no rio. As cinzas dos cadáveres sujam as ruas e as águas, e voam com o vento. Mas a morte, na Índia, é uma fase transitória da vida. É assim que devemos entendê-la.
5. Pode saber o que vai ver, mas nunca saberá o que vai sentir quando o vir
O que custa na Índia não é não saber o que vamos ver. A maioria das pessoas sabe que vai ver grandes contrastes económicos, que na realidade não chocam assim tanto. O que choca é o extremo da pobreza, já que o extremo da riqueza é bem mais modesto que nos países ocidentais. O que custa na Índia é não conseguirmos lidar com aquilo que sentimos pelo que vemos. Os primeiros dias são muito difíceis. São uma luta interior, por muito preparado que se esteja.
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6. A Índia ganha sempre
Uma das situações que mais nos marcou foi presenciar uma criança de rua, provavelmente órfã, que pertencia a um grupo de homens que geria crianças-mendigos. Estávamos na estação de Varanasi e aproximou-se um miúdo pedindo dinheiro. Era natural. Éramos dois estrangeiros, brancos, sentados na estação. Era óbvio que éramos ricos, estávamos a viajar na Índia! Não démos. Antes de viajar para a Índia acordámos que nunca daríamos dinheiro aos pedintes. Para além de nos sentirmos mal, por recusar as rupias que podiam pagar o prato de comida à criança, que nos olhou com olhos que nos penetram a alma, oferecemos-lhes bolachas e convidámo-lo a sentar ao nosso lado. Não aceitou e foi-se embora. Um homem abordou-o e obrigou-o a voltar. A criança voltou. Não teria mais do que 8 ou 9 anos. Olhos negros penetrantes. Remelas secas. Voltou a pedir dinheiro. Os nossos corações gelavam. Voltámos a negar. Sabíamos que o dinheiro não era para ele. O dinheiro era para o “dono” das crianças. Passámos-lhe um pacote de bolachas para a mão. Desta vez, guardou-o. A criança voltou a ir embora. E regressou novamente. Regressou mais três ou quatro vezes, obrigado pelo adulto que estava encostado à parede. Voltou a ouvir “não”. E a cada não que lhe dizíamos era como se um punhal se cravasse no nosso coração. Se déssemos dinheiro aquela criança o ciclo de tráfico de crianças irá perpetuar-se. Não podíamos compactuar com isto. Seria muito mais fácil dar-lhe 10 rupias, afinal são cerca de 15 cêntimos. Mas o que conseguiríamos com isso? Iria esta criança comer? Se calhar as bolachas alimentam-lhe muito mais, já que as 10 rupias nunca ficariam com ele. Mas lhe déssemos o dinheiro, ele podia ir embora. Como não demos, a criança continuou ali. Mas se lhe déssemos o dinheiro apenas estávamos a pagar para nos livrarmos do problema. A maioria dos estrangeiros dá. Dá porque tenta de alguma forma “pagar a culpa do subdesenvolvimento” que todos sabemos é dos países desenvolvidos. Mas nós decidimos que não dávamos. Essa seria a forma fácil de lidar com a situação. Difícil e duro era dizer que não. Olhar a criança quase suplicar com os olhos, e recusar, com o coração a tremer e a sentir-se a pior pessoa do mundo. Aquela criança devia estar na escola. Mas enquanto estiver ali e conseguir dinheiro nunca terá hipótese de ir à escola. Faça o que se fizer, dando-lhe dinheiro ou não, vamos sentir-nos sempre mal. Vamos sentir-nos cúmplices do “dono” se lhe dermos dinheiro. Vamos sentir-nos a pessoa mais desumana do mundo se lhe recusarmos as 10 rupias. Como se lida com isto? Como se sente isto? Cada um sente-o de forma diferente, mas todos sentem coisas que nunca sentiram. Todos travam batalhas interiores que nunca poderão ganhar porque, no fundo, a Índia ganha sempre. O visitante sai sempre a perder. A maior riqueza que podemos ter é aprender com estas situações. Aprender a compreender porque isto acontece. E independentemente da atitude que se tomar, dar ou não dar dinheiro, perceber que vamos sempre sentir-nos a pior pessoa do mundo. Será que devemos dar dinheiro? Por principio pensamos que não. E sempre que podemos, tentámos não o dar. Mas houve momentos em que demos. Não sabemos explicar porquê. Sabemos apenas que o fizemos. Um desses casos foi o de um menino de rua, em Delhi, que vendia canetas na zona mais elegante da cidade. Negociámos as canetas por um preço justo e, no final, depois de comprar as canelas, voltámos a dá-las de presente para que as pudesse vender outra vez. Sentimo-nos bem por ver os olhos da criança brilharem de alegria, que correu em direcção à mãe que estava estendida no chão com um bebé ao colo. Mas ao mesmo tempo, sentimo-nos as piores pessoas do mundo, porque aquela criança, por mais um dia, não vai precisar de ir à escola. Consegue na rua o dinheiro necessário para alimentar a família. A Índia ganhou. A Índia ganha sempre.
7. Faça o que fizer, sentir-se-á sempre impotente
Não há nada que possa fazer. Ou aliás, há muito, mas faça o que fizer vai sempre sentir-se impotente. Relembro aqui apenas duas das muitas situações que vivemos. Se vai viajar para a Índia prepare-se para isto. Uma das situações foi em Pushkar, quando uma menina com cerca de 13 anos e um bebé ao colo se aproximou a pedir dinheiro. Negámos. A menina pediu-nos então para ir com ela a uma loja comprar leite para alimentar o bebé. Fomos. Comprámos leite e bolachas. Pagámos. Saímos, nós e a menina. Despedimo-nos. Dei-lhe um abraço. Ela desenhou-me uma rosa em hena na palma da mão. Poucos minutos depois voltamos para trás, na mesma rua. A menina estava dentro da loja, a devolver o leite e a dividir o dinheiro com o lojista. Sentimo-nos mal. Tão mal. Tínhamos sido enganados. Mas o pior foi ter sentido vergonha de a confrontar com aquilo. Tivemos vergonha de confrontar a pobre menina com o “uso da pobreza”. É um conceito que não existe em Portugal. Podemos ter a melhor das intenções mas nem sempre elas servem os propósitos que nós pensamos. Outra das situações aconteceu-nos em Calcutá. Entramos no KFC para almoçar. Como tínhamos visto crianças de rua, optámos por comprar um balde de frango para dar aos miúdos. Quando saímos, oferecemos o balde a três ou quatro crianças que correram para nós. Mas enquanto as crianças começavam a tirar o frango, dezenas de outras corriam na nossa direcção. Olhámos um para o outro. Sentimo-nos impotentes. Podíamos entrar no KFC mais 10 vezes que não os íamos conseguir alimentar. Um deles olhava para nós e dizia “mas deste-lhe a ele”. O nosso coração gelou. Só queríamos fugir. E de alguma forma é isso que temos de fazer. Por muito desumano que parece e seja, temos que tentar fugir da sensação de querer mudar aquele mundo. Se não fugirmos, enlouquecemos. Naquele dia aprendemos que o nosso coração tem que se petrificar um pouco, caso contrário nunca sobrevivíamos à Índia. E petrificámos. Tentámos envolver-nos menos. Continuámos a dar beijos e abraços às crianças e mulheres de rua. Abraçámos os dalits e intocáveis, sob olhares de censura, brincámos com crianças órfãs e das favelas. Oferecemos-lhes fotografias da polaróide e carinhos no rosto. Alguns coravam de emoção. Houve mulheres que, quando abraçadas pela Carla, vinham-lhe as lágrimas aos olhos. Tentámos mudar alguma coisa no meio da impotência que sentimos todos os dias. Tentámos fazer a diferença, sabendo que o que fazíamos era muito pouco comparado com tudo o que a Índia nos estava a ensinar. Viajar para a Índia é isto.
8. Ninguém fica indiferente à Índia
Ninguém vê o que vê na Índia e lhe fica indiferente. É impossível viajar para a Índia e vir de lá igual. A Índia testa os nossos limites da humanidade. No final, ou se ama, ou se detesta. Como é possível amar um país destes? Um país que nos choca todos os dias com casos de desumanidade? É assim que a Índia se mostra. A Índia é um país dos tempos modernos mas continua a não usar filtros. Ela mostra-se crua. Tal e qual como é. Mostra-se feia, suja e desumana. Mostra-se bela, extraordinária e resiliente. Como é possível detestar um país em que a população luta todos os dias pela vida? Luta por um prato de comida para sobreviver. Nós só conseguimos adorar a Índia porque sabemos que ela é a prova inequívoca do que é a essência humana. Ela é bonita e feia ao mesmo tempo. Ela é boa e má, ao mesmo tempo. Ela é retrato da sociedade humana, cada vez mais desumana. E no entanto, ao longo dos milénios, a Índia sobreviveu a isto tudo. Como se pode não amá-la?
9. Há lixo por todo o lado
A questão dos lixos na Índia é algo que salta à vista. As ruas estão cheias de lixo, as estações e zonas mais povoadas das cidades têm montanhas de resíduos que apodrecem e conspurcam o ar. A questão dos lixos na índia é muito social. A população cresceu de forma exponencial e com ela o consumo. Uma sociedade predominantemente rural, que comia em folhas de bananeira, atirava-as para o chão. As folhas degradavam-se com o tempo. Mas a sociedade mudou. As pessoas deixaram as aldeias e vieram para as cidades em busca de melhores condições de vida. Mumbai, Delhi, Bangalore, Chennai e Calcutá são o símbolo do sonho indiano. A população que deitava folhas de bananeira para o chão tem agora pratos e talheres de plástico, que seguem o mesmo destino. As roupas também. As batatas fritas substituíram o milho cozido, acrescentando as embalagens ao panorama. Os lixos aglomeram-se por todo o lado. Há toneladas de lixo espalhadas pelas cidades. O cheiro é nauseabundo. Mas a Índia está a mudar. Já há sinais nas estações que proíbem que se deite lixo para o chão e inclusive com multas para quem o fizer. A sociedade indiana mudou e com tempo, a Índia adaptar-se-á aos novos desafios. Quem vai viajar para a Índia deve estar consciente disto.
10. Não julgue a índia, respeite-a
A Índia não é para todos. Há muita gente que viaja para a Índia e não gosta. Está no seu direito. Isto acontece porque a Índia não é fácil. Lidar com um misto de emoções, todas ao mesmo tempo, é muito difícil. São batalhas constantes. A maioria das pessoas começa por julgar a Índia. “Na Índia as vacas valem mais do que as mulheres”, dizem. Na Índia as vacas valem mais do que todos os seres humanos. Na Índia as vacas são sagradas. São deuses. Os deuses não valem mais do que os homens também nos outros lugares do mundo? “Na Índia há fortes violações dos Direitos Humanos”. Verdade e nada o justifica. Mas também não os há no nosso país e noutros ditos desenvolvidos? Na Índia a pobreza é crônica e o sistema de castas castrador. Mas a Índia está a lutar muito por tentar mudar. A Índia tem milênios de história. As primeiras civilizações mundiais floresceram ali. As castas existem há mais de três mil anos, tempo esse em que nunca foram questionadas. Nem Gandhi ousou pô-las em causa, aliás defendia-as como forma de perpetuar a hierarquia na sociedade. Gandhi defendia apenas a integração dos “sem casta”, os chamados intocáveis ou dalits, na sociedade indiana. Será a Índia capaz de mudar em algumas décadas o que já dura há milénios? As mudanças precisam de tempo. Elas estão acontecer, mas demoram tempo. Devemos dar tempo à Índia.
Se vai viajar para a Índia, prepare-se, mas os melhores conselhos que temos para si são estes.
Fonte:https://www.viajarentreviagens.pt/india/conselhos-para-viajar-para-a-india/
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