HIMALAIAS INDIANOS - EXPLORANDO OS LIMITES E CONHECENDO A CULTURA TIBETANA NO VALE DO SPITI NA ÍNDIA
Explorar os Himalaias indianos e a cultura tibetana no Vale de Spiti | Índia
A Índia que eu mais gosto não é Índia. A Índia que mais gosto está no Vale de Spiti. Os Himalaias indianos fazem parte da Índia, mas não são Índia. A sua geografia, física e humana, a cultura, a religião, o clima, tudo é tão diferente do resto do território indiano, que nos sentimos noutro país. A Índia abraça os Himalaias de braços abertos, com os territórios do Nepal, Tibete e Butão pelo meio, tocando as majestosas montanhas a leste, nos estados de Jammu e Caxemira e de Himachal Pradesh, e a oeste, nos estados de Sikkim e de Arunachal Pradesh.
Em 2007, já tínhamos visitado visitámos Jammu e Caxemira, particularmente o distrito do Ladakh, e a sua capital, a cidade de Leh. Este ano, a nossa intenção era regressar, mas desta vez visitar os distritos de Lahaul e Spiti, no norte do estado de Himachal Pradesh, fazendo fronteira com o sul do Ladakh. Também queríamos visitar os estados do nordeste, em particular o Sikkim e Arunachal Pradesh, mas as monções severas deste ano frustraram os nossos planos.
O nosso objectivo era então cruzar o vale de Spiti de noroeste para sudeste, entrando por Manali, cidade que já tínhamos visitado em 2007, quando fizemos a estrada de Manali para Leh. Desta vez, iniciámos o nosso percurso pela mesma estrada mas, poucos quilómetros a norte de Manali, em vez de virarmos para oeste, em direcção a Keylong (e depois em direcção ao Ladakh e a Leh), virámos para leste, em direcção à cidade de Kaza e, posteriormente, Tabo, Nako e Rekong Peo, estas últimas já no distrito de Kinnaur, acabando o “circuito” na cidade de Shimla.
Devido à proximidade da fronteira chinesa numa região disputada, é necessário uma permissão para viajar entre as cidades de Sundo e Rekong Peo, a qual é possível obter na cidade de Kaza. O relato do nosso percurso pode ser lido aqui, em particular da viagem épica por “estrada” entre Manali e Kaza, por isso agora vamos focar-nos na descrição dos pontos fortes desta região remota e maravilhosa da Índia.
Clique em cada uma das seguintes fotos para conhecer melhor os diferentes troços desta magnífica viagem pelos Himalaias indianos e pelo vale de Spiti.
Os Himalaias indianos e o vale de Spiti, de Manali a Kaza | Índia
Depois de explorar Manali era hora de rumar ao Vale de Spiti. Apanhámos um táxi partilhado em frente ao Hotel Kiran eram 6 horas da manhã.
ESTRADA DE MANALI A KAZA
A estrada de Manali a Kaza é uma viagem épica numa estrada que é mantida em funcionamento pelo esforço das autoridades, e daqueles que a usam, todos os dias durante os três meses em que isso é possível.
À semelhança da estrada de Manali a Leh, manter esta estrada aberta durante três meses por ano é um objectivo nacional, e fulcral para a ligação do vale de Spiti ao resto do território indiano, ou ao resto do mundo.
Percorrê-la é, por si só, uma experiência inesquecível, pelas paisagens, pela aventura, mas principalmente pela coragem das gentes simples que percorrem aqueles projectos de estradas, muitas vezes arriscando a vida, para conseguirem apenas sobreviver e ajudar os seus a ter uma vida melhor.
Até chegar ao Passo de Kunzum, a 4551 m, ainda se percorre o vale de Chandra, muito rochoso, cheio de moreias glaciares e depósitos de vertente.
Antes de subir para o Passo de Kunzum, os carros param na aldeia de Batal, a última aldeia do vale de Chandra.
Depois é sempre a subir, serpenteando as montanhas cheias de glaciares e com vistas maravilhosas e de cortar a respiração.
Veja o video com o episódio 1 desta nossa aventura!
Quando os carros chegam a Kunzum, onde se encontram várias stupas cheias de bandeiras de oração, os condutores circulam-nas pedindo bênção às montanhas para o resto da travessia. Aqui começa o vale de Spiti.
O vale de Spiti é maravilhoso, com montanhas cobertas de neve e gelo glaciar, ponteado, aqui e ali, por aldeias tibetanas.
Aldeias pequenas, com casas cobertas de vegetação seca e caiadas de branco. As aldeias de Losar, Pangmo e Morang são fabulosas.
A população com a pele curtida pelo sol e pela altitude, é a face dos Himalaias. Não há como enganar. Esta é outra Índia.
Dicas
- Há táxis partilhados de Manali para Kaza. Custam 1000 rupias por pessoa e demoram cerca de 10 horas, dependendo do estado da estrada. Os táxis devem ser reservados no dia anterior, em frente ao Hotel Kiran. Procure os rapazes tibetanos que andam por lá. Nós pagámos metade do bilhete adiantado. Pode confiar. Os táxis saem às 6 horas da manhã.
ALDEIA DE KAZA
A capital do distrito de Spiti tem uma população a rondar os 1700 habitantes, e é o maior núcleo habitacional desta região tão remota e tão pouco populosa.
A sua localização é espectacular, nas margens do rio Spiti, num vale deslumbrante e majestoso a uma altitude de mais de 3600 m, numa região desértica, com uma precipitação anual inferior a 170 mm.
Tal como no Ladakh, a presença de exilados e a cultura predominante tibetana fazem com que os visitantes se sintam mais no Tibete do que na Índia. Aliás, devido à perseguição sem tréguas das autoridades chinesas e ao processo de aculturação em curso, há quem diga que os Himalaias indianos já são mais Tibete do que o próprio.
Deambular pelas pequenas ruas, quase sem trânsito, de Kaza é uma experiência por si só.
À volta de Kaza é possível visitar uma série de pequenas aldeias, invariavelmente dominadas cultural e geograficamente pelos mosteiros tibetanos. Era para lá que nós íamos.
Dicas
- Não perca a stupa de Gompa, colorida, e bem no centro da cidade. Esta stupa fica na parte nova da cidade, logo ao lado do Mosteiro de Kaza, um conjunto de vários edifícios e que vale a pena visitar. Na parte velha da cidade, do outro lado do vale seco, há um bazar caótico, típico dos Himalaias, com bandeiras de oração, alguns artigos tradicionais, roupas e legumes. É também ali que existem alguns cafés e restaurantes.
- Não existe ligação à internet no Vale de Spiti. Mesmo que os hotéis onde se alojar digam que sim, não vai funcionar. A sua melhor opção é a internet satélite num micro internet-café, no bazar, em frente a Shambhala Homestay. Fora de Kaza, não há internet.
- Kaza é o melhor local para se fixar e a partir dali explorar o vale e as montanhas circundantes. Pernoite ali pelo menos duas ou três noites.
- O melhor alojamento em Kaza é o Hotel Deysor, uma espécie de instituição na cidade. Recebe viajantes de todo o mundo, tem quartos espaçosos, muito limpos e decorados de forma tradicional. Parece uma casa tibetana com muita comodidade. Tem um restaurante/bar com boa comida. É o melhor local para conhecer e conversar com os aventureiros que percorrem de carro, de mota ou de bicicleta o vale de Spiti.
- Para passar de Sundo a Rekong Peo, para sair do Vale de Spiti, é necessário ter uma permissão. Essa permissão só pode ser tirada em Kaza ou Rekong Peo. Nós tiramos em Kaza, no Assistant Deputy Commissioners Office (abre das 10h – 13h30 e das 14h – 17h, de segunda a sábado), bem perto do Hotel Deysor. A permissão é gratuita, e demora cerca de 30 minutos a tirar. No entanto, precisa de ter um impresso que se compra na drogaria Ashoka (Ashoka Stationers) (do outro lado da praça), três fotografias de passe, fotocópias do passaporte e da folha do visto. É fácil de obter.
- Para conhecer o vale de Spiti pode apanhar vários autocarros locais. Esta é a forma mais barata, mas muito lenta, porque geralmente só há um autocarro por dia. Para optimizar o seu tempo, o ideal é contratar um táxi em Kaza. Há uma União de Taxistas no bazar, pelo que os preços são fixos. Isto é muito bom para si e para a população. Pagará preço justo pelos serviços prestados.
Veja aqui o video da nossa aventura no Vale de Spiti.
Em Tabo encontra-se o mosteiro budista mais antigo da Índia, a funcionar continuamente, desde que foi fundado por Rinchen Zangpo em 996. Tabo é um mosteiro de adobe, que visto por fora não deixa antever as riquezas que esconde dentro.
O mosteiro de Tabo é um complexo de templos, também conhecido como a Ajanta dos Himalaias, e apresenta-nos uma oportunidade única de admirar murais únicos e estátuas ímpares na história do budismo na Índia.
O templo principal, Tsug la Khang, tem uma série de estátuas, em quase tamanho natural, de 32 bodhisattvas, penduradas nas paredes cheias de pinturas históricas e religiosas. Na parte traseira do templo, as paredes à volta do sanctum maravilham todos com os seus murais coloridos retratando a vida de Buda.
À volta do templo principal, pode visitar-se alguns templos mais pequenos (deve pedir-se que alguém abra as portas), cada um com um pequeno tesouro lá dentro. O templo do Bodhisattva Maitreya contém uma enorme estátua do bodhisattva futuro, com mais de seis metros de altura, enquanto o templo dourado tem murais fabulosos.
O mosteiro tem algumas dezenas de monges (nos edifícios mais novos), cuja juventude é o garante da transmissão da tradição e da sabedoria tibetana e budista. No pátio do mosteiro, os jovens monges discutem entre si as questões religiosas e filosóficas, batendo com as mãos e os pés para afirmarem os seus argumentos. O seu fervor faz-nos viajar no tempo. Viajar para um mundo longe daquele em que vivemos nos países ocidentais. Um mundo onde a espiritualidade ainda faz parte da vida quotidiana das populações.
Converso com um mestre, e sinto-me transportada para um outro mundo, um mundo onde a espiritualidade anda lado a lado com a materialidade, mas também um mundo em que a tradição milenar tem de lidar com os desafios da modernidade e do consumismo e materialismo dominante na sociedade actual.
Tabo tem um ambiente especial e o hotel em que estávamos alojados estava mesmo ao lado do complexo do mosteiro. À noite, quando a aldeia se cobria de negro, os monges passeavam silenciosos nas ruas. As velas iluminavam as residências e os locais de convívio, à porta dos edifícios. Não há luz eléctrica na aldeia. Só depois das 21h se liga o gerador. Deitamo-nos com a luz das velas, agradecendo o privilégio de conhecer este mundo. No dia seguinte, a nossa viagem tinha de continuar e estava na hora de seguir em direcção a Nako e Kalpa.
Dicas
- Tabo é uma pequena aldeia nos Himalaias mas tem uma mercearia e lojas de artigos tibetanos.
- Não se podem tirar fotografias no interior do mosteiro.
- Há vários santuários, visite-os todos.
- A entrada é grátis.
- Nós alojamo-nos na guesthouse Tiger Den em frente ao mosteiro. Pagamos 600 rupias por um quarto duplo com wc e varanda. Pode ficar a dormir no albergue do mosteiro, mas os casais não poderão dormir juntos.
- Há vários locais para comer comida típica tibetana. Vale a pena experimentar.
- Tabo é uma aldeia remota dos Himalaias. Só existe luz eléctrica de gerador depois das 21h.
- Há um autocarro directo de Tabo para Rekong Peo todos os dias às 5h da manhã (pára em Nako). Há um autocarro que sai de Kaza e passa por Tabo, por volta das 9h da manhã, e que também vai para Rekong Peo. Não se esqueça que para fazer esta viagem precisa de permissão. Deve tirá-la em Kaza. Pode ver mais aqui.
Veja aqui o video da nossa aventura no Vale de Spiti.
Os Himalaias indianos e o vale de Spiti, de Tabo a Kalpa | Índia
Tabo ficaria para trás e o vale de Spiti também estava quase a ficar. Era hora de seguir viagem pelos Himalaias indianos. E que viagem. Esta Índia estava a ser muito mais do que poderíamos sequer imaginar. No fundo, é para isso que viajamos. Viajámos para ser surpreendidos.
1. Estrada entre Tabo a Nako
Da cidade de Tabo, apanhámos um autocarro que nos levaria a Nako, e daí outro que nos deixaria no nosso destino, a aldeia de Kalpa, ainda nos Himalaias indianos.
A estrada é um assombro aos sentidos e um teste às nossas vertigens. Quem as tem, ou as perder, ou vai sofrer muito. O autocarro atravessa estradas de montanha vertiginosas dos Himalaias indianos, onde o motorista tem de fazer manobras para conseguir passar com os dois rodados. Por vezes, o autocarro circula com apenas três rodas assentes na estrada. Não é fácil lidar com as emoções de perigo constante.
Segurávamo-nos ao banco do autocarro, escondíamos a cara e colávamo-nos aos bancos. Arrepiava. Mas havia que confiar no motorista. Aqueles motoristas fazem esta estrada todos os dias. Conduzem devagar e com muita cautela. Eram de confiança e nós confiamos-lhes a nossa vida. A determinada altura até conseguimos adormecer. Para acordar momentos depois com verticalidades ainda maiores. Que loucura! Mas uma loucura boa, muito boa. Uma viagem que jamais esqueceremos pelos Himalaias indianos.
Dicas
- Há um autocarro directo de Tabo para Rekong Peo (230 rupias) todos os dias às 5h da manhã (pára em Nako). Há um autocarro que sai de Kaza e passa por Tabo, por volta das 9h da manhã, e que também vai para Rekong Peo e que também param em Nako. Não se esqueça que para fazer esta viagem precisa de permissão. Deve tirá-la em Kaza. Pode ver mais aqui.
- Escolha sentar-se do lado direito do autocarro para desfrutar da viagem em toda a sua plenitude. Vertigens, sim, muitas. Mas é a experiência de uma vida nos Himalaias indianos.
- Para passar de Sumdo a Rekong Peo, para sair do Vale de Spiti, é necessário ter uma permissão. Essa permissão só pode ser tirada em Kaza ou Rekong Peo. Nós tiramos em Kaza, no Assistant Deputy Commissioners Office (abre das 10h – 13h30 e das 14h – 17h, de segunda a sábado), bem perto do Hotel Deysor. A permissão é gratuita, e demora cerca de 30 minutos a tirar. No entanto, precisa de ter um impresso que se compra na drogaria Ashoka (Ashoka Stationers) (do outro lado da praça), três fotografias de passe, fotocópias do passaporte e da folha do visto. É fácil de obter.
2. Sumdo
A 27 km de Tabo, a aldeia de Sumdo é um dos pontos de entrada na área de acesso restrito, para a qual se tem de ter uma permissão tirada em Kaza, ou em Rekong Peo (se fizéssemos o percurso no sentido contrário). A partir dali, deixámos o vale de Spiti para trás, entrando no distrito de Kinnaur e no vale de Hangrang, seguindo o percurso do rio Sutlej.
A poucos quilómetros da fronteira com o Tibete (sob ocupação chinesa), o cenário muda, tornando-se menos aberto e não tão luminoso. Quando chegámos a Sumdo, uma aldeia que mais parece um interposto militar e posto de controle fronteiriço, parámos para mostrar os documentos e as permissões. Todos saem do autocarro, entrando no edifício oficial do exercito indiano. Há casas de banho, felizmente, porque já ando mal dos intestinos há alguns dias. O controle é rápido e a viagem prossegue por um vale igualmente memorável e vertiginoso. Esta aldeia marca o fim do Vale de Spiti.
3. Nako
A nossa paragem seguinte, a aldeia de Nako, é uma das mais belas da região, com uma perspectiva fabulosa sobre as montanhas vizinhas dos Himalaias indianos.
O lago, as construções tradicionais, o mosteiro de Gompa, tudo aliado à envolvência, fazem desta aldeia uma paragem obrigatória, mas tínhamos traçado o nosso itinerário de outra forma.
Se tivéssemos mais tempo, teríamos ficado ali a dormir uma noite, mas resolvemos seguir caminho. A paragem foi curta mas deu para um passeio pela aldeia e para contemplar as magníficas vistas sobre o vale e sobre a aldeia de Leo no fundo do vale dos Himalaias indianos.
4. Pela estrada até Rekong Peo
A partir dali, a estrada transforma-se numa das mais espectaculares do mundo (se é que ainda podia melhorar), com precipícios e paredes verticais que nos levam a olhar para o rio que flui centenas de metros abaixo, e nos deixam a pensar como foi possível construir esta via de comunicação, e mantê-la em funcionamento, e como é possível por vezes o cruzamento de veículos.
Um percurso pelos Himalaias indianos não aconselhável a pessoas com problemas cardíacos!
5. Rekong Peo
Rekong Peo é o centro administrativo do distrito de Kinnaur, e ali já estamos definitivamente longe de Spiti e da sua tranquilidade. Ali já impera o ritmo indiano, com as suas multidões e o barulho daí resultante. A cidade em si não tem grande interesse, aparte para quem tira lá as permissões para seguir caminho.
Nós resolvemos acabar o dia em Kalpa, uma pequena aldeia a 7 km de Rekong Peo, percorridos num autocarro que não poderia ter sido mais antagónico em comparação com os nossos dias passados em Spiti. Parecíamos sardinhas em lata, com música aos berros, e o autocarro parecia ter sempre espaço para mais passageiros. Demorou 40 minutos a percorrer a pequena distância, mas finalmente chegámos. Já não estávamos em Spiti, mas ainda estávamos nos Himalaias indianos.
Dicas
- Há alguns autocarros por dia de Rekong Peo para Kalpa (15 rupias), geralmente de duas em duas horas. Estes autocarros apanham os viajantes em frente aos correios, do lado oposto da Estação de Autocarros de Rekong Peo. Geralmente já vêm cheios. É a Índia. Felizmente há sempre espaço para mais um!
- Há alojamentos em Rekong Peo ao lado da estação de autocarro. Podem ser uma boa opção no caso de chegarem já noite à cidade. Caso contrário, Kalpa é muito mais interessante.
Veja aqui o video da nossa aventura no Vale de Spiti.
Percorrer o Himachal Pradesh de Kalpa a Shimla, passando por Sarahan | Índia
Estávamos prestes a iniciar o último troço do circuito Spiti-Kinnaur, que nos levou por algumas das mais belas paisagens dos Himalaias indianos. Bem cedo, deixámos a aldeia de Kalpa, e dissemos adeus ao maciço de Kinnaur Kailash, escondido por trás das nuvens da manhã. Íamos a caminho de Shimla.
O nosso destino final nesse dia era a cidade de Shimla, antiga capital de verão dos ingleses, assim escolhida devido ao seu clima montanhoso mais fresco. Apanhámos um autocarro em direcção a Sarahan, onde visitaríamos o templo de Bhimakali, um templo dedicado à deusa Kali.
A estrada continua a ser espectacular, embora num grau diferente da estrada entre Nako e Rekong Peo. Para chegar a Sarahan, saímos do autocarro na cidade de Jeori, e dali apanhámos um táxi que nos levou a Sarahan, por uma estrada improvisada, pois a principal ligação tinha sido cortada por um deslizamento de terras. As monções faziam-se sentir.
SARAHAN
Em Sarahan, embora ainda no distrito de Kinnaur, já estamos definitivamente longe do panorama cultural e religioso de Spiti. A influência tibetana continua a fazer-se sentir, por exemplo na arquitectura dos templos hindus, e estamos em plena região montanhosa mas a uma altitude significativamente menos elevada (2165 m).
A estrada principal que liga Jeori a Sarahan estava intransitável devido à queda de uma ponte com as chuvas da monção. Sem possibilidade de apanhar autocarro ou riquexó, restou-nos o táxi. Atravessámos assim o vale das Maças e alcançámos o templo magnífico.
O templo de Sarahan é uma reconstrução das torres originais do século XII, usando uma técnica antiga, alternando camadas de madeira e de pedra, de forma a tornar os edifícios mais resistentes a sismos.
As restrições de entrada são rigorosamente implementadas, como por exemplo a proibição da entrada de qualquer artigo em pele de animal. Não obstante, num pequeno templo ao lado fizeram-se sacrifícios humanos até ao século XVIII…
O Complexo do Templo de Bhimakali tem as suas origens no palácio dos reis Bushahr de Rampur, e é um complexo de pátios separados por edifícios em madeira, que levam ao pátio principal e às duas torres gémeas, edifícios que albergam a divindade ali adorada, uma representação de Bhimakali, uma das muitas formas da deusa Kali.
As portas que separam os pátios são extremamente decoradas, sendo as portas do segundo pátio de prata finamente trabalhada com representações de deuses hindus. No pátio principal acede-se à plataforma elevada onde se situa as torres gémeas. Uma delas, ligeiramente inclinada, era o templo principal até ao início do século XX, quando um terramoto a danificou.
A outra tornou-se desde então o santuário da divindade de Bhimakali, onde se pode entrar, mas não pudemos tirar fotos, pois as restrições na entrada são rigidamente implementadas por um guarda à entrada do pátio. Tivemos de colocar num cacifo tudo o que trazíamos, incluindo as meias que trazíamos nos pés!
As varandas esculpidas, no andar superior da torre principal, são lindíssimas, e o complexo forma um conjunto harmonioso, mas as nuvens e neblina não ajudavam a enquadrar o templo no contexto das montanhas que o rodeiam, pois só tivemos alguns momentos de sol envergonhado durante a nossa visita.
Depois de sair do templo, voltamos a cruzar o Vale das Maças de regresso a Jeori. Aí, e de volta à estrada principal, apanhámos outro autocarro, desta vez em direcção a Shimla.
Dicas
- Há vários autocarros por dia de Rekong Peo para Shimla. Os autocarros começam às 5h da manhã e seguem-se a todas as horas. Todos os autocarros param em Jeori (3h30 de viagem).
- Qualquer autocarro que faça a ligação entre Shimla e Rekong Peo pára em Jeori. Pode apanhar esses autocarros na estrada no centro da cidade.
- Para chegar de Jeori a Sarahan é necessário apanhar um autocarro, riquexó ou táxi para fazer os 17 km que as separam. O táxi, ida e volta, com tempo de espera no templo, custou-nos 1000 rupias.
ESTRADA ENTRE SARAHAN E SHIMLA
A viagem era longa e a chuva não deu tréguas. Durante o percurso abateu-se sobre nós uma chuva intensa. Eram as monções a chegar com toda a força. Foram quase oito horas de viagem, ao contrário das cinco que estavam previstas. A estrada encheu-se de terra, lama e água. As árvores esvoaçavam ao sabor do vento.
O autocarro onde seguíamos nem sequer tinha pára-brisas! Que loucura! Água, lama, terra, pedras, tudo escorria vertente abaixo e estávamos mesmo a ver quando éramos os seguintes.
O nosso motorista usava e abusava da buzina, que emitia uma longa série de sons estridentes. Estávamos definitivamente de volta à Índia. A viagem foi longa, muito longa, e só chegámos a Shimla já de noite. Chovia torrencialmente, e só descansámos quando o táxi que apanhámos nos deixou à porta do hotel Gulmag Regency. No dia seguinte, exploraríamos esta cidade emblemática criada pelos ingleses para fugir ao calor das planícies indianas.
SHIMLA
O tempo em Shimla estava extremamente chuvoso, com uma neblina constante que não deixava entrever quase nada da paisagem circundante. Aproveitámos os intervalos entre a chuva para visitar as principais atracções da cidade, nomeadamente os seus mercados e o centro histórico, onde se destaca a Christ Church, de 1846.
A principal via nesta zona é o “The Mall”, uma avenida pedonal de 7 km de comprimento, onde se distribuem as lojas e os edifícios mais emblemáticos, como a Câmara Municipal (Town Hall), o Posto de Correios (Post Office) e o edifício da administração dos caminhos-de-ferro (Railway Board Building).
Podíamos ter feito mais umas caminhadas (por exemplo, até ao templo Jakhu, em honra do deus Hanuman), mas o tempo não estava propício. Acabámos por recolher ao hotel, até porque nesse mesmo dia tínhamos marcada uma das viagens míticas de comboio na Índia, o “Toy Train”, entre Shimla e Kalka.
Dicas
- Ficamos alojados no Hotel Gulmag Regency, no centro de Shimla. O hotel fica a poucos metros a pé do The Mall mas tem a vantagem do táxi nos poder levar lá, já que nos 7 km do The Mall o trânsito não passa. O hotel tem restaurante e a comida é maravilhosa. Pedimos um “butter chicken” com “naan” para o quarto e lambuzámo-nos.
TOY TRAIN
Apanhámos o Toy Train, um pequeno comboio que liga Shimla a Kalka, num trajecto de 96 km, que atravessa 102 túneis e 988 pontes. Saímos de Shimla da parte da tarde e, embora tivessemos feito parte da viagem já de noite, a chuva de monção tornou a paisagem extremamente bela ao atravessarmos a floresta verdejante.
Dicas
- Os bilhetes do Toy Train estão incluídos no India Rail Pass.
- Não há classes no Toy Train, só uma mini carruagem.
- Há vários Toy Trains por dia de Shimla em direcção a Kalka.
Número do comboio | Nome do comboio | Hora de partida | Hora de chegada |
52456 | Himalayan Queen | 10:30 AM | 4:05 PM |
52458 | KLK SML | 2:25 PM | 8:10 PM |
52452 | Shivalik Dlx Exp | 5:40 PM | 10:20 PM |
52454 | Kalka Shimla Exp | 6:15 PM | 11:15 PM |
72452 | Rail Motor | 11:30 AM | 4:25 PM |
- De Kalpa a Shimla também há vários Toy Trains por dia.
Número do comboio | Nome do comboio | Hora de partida | Hora de chegada |
52457 | KLK SML Pass | 4:00 AM | 9:15 AM |
52451 | Shivalik Dix Exp | 5:30 AM | 10:15 AM |
52453 | Kalka Shimla Exp | 6:00 AM | 11:00 AM |
52455 | Himalayan Queen | 12:10 PM | 5:20 PM |
72451 | Rail Motor | 11:35 AM | 3:40 PM |
A nossa viagem pelos Himalaias indianos tinha chegado ao fim. Iniciava-se uma nova fase da nossa viagem pela Índia, explorando a parte central do subcontinente, nos estados de Maharashtra e Karnataka, visitando locais como Sanchi, Gwalior, Badami e Hampi. Novas aventuras nos esperavam, mas os Himalaias ficaram, novamente, dez anos depois, marcados indelevelmente nos nossos corações. Não sabemos quando, mas um dia voltaremos.
Pode ver o video desta aventura aqui
Fonte:https://www.viajarentreviagens.pt/india/himalaias-indianos-vale-spiti-shimla/
Comentários
Postar um comentário