AS CAVERNAS SAGRADAS DO HIMALAIA
Mustang, um antigo reino no centro-norte do Nepal, abriga um dos grandes mistérios arqueológicos do mundo.
Aninhado entre os picos do Himalaia, há um lugar com cerca de 10 mil grutas artificiais esculpidas nas rochas de 60 metros de altura, em um desfiladeiro tão grande a ponto de ser muito maior do que o Grand Canyon.
A mão humana abriu um extraordinário número de cavernas nesse lugar poeirento e varrido pelo vento, entranhado no Himalaia e profundamente fendido pelo rio Kali Gandaki .
Algumas são solitárias: uma boca aberta numa vasta face ondulada de rocha gasta. Outras estão agrupadas, um grande coro de covas, às vezes com oito ou nove andares — um verdadeiro bairro vertical.
Algumas foram escavadas na face de um penhasco, outras abertas a partir de um túnel vindo de cima. Muitas têm milhares de anos. O número total de cavernas em Mustang, em estimativa moderada, é 10.000.
Ninguém sabe quem as escavou. Ou por quê. E nem mesmo como as pessoas subiam até lá. (Cordas? Andaimes? Degraus esculpidos? Quase todos os indícios foram apagados.)
Setecentos anos atrás, Mustang era um lugar movimentado: centro de saber e arte budista e, possivelmente, a mais acessível ligação entre as jazidas de sal do Tibete e as cidades do subcontinente indiano. O sal era na época um dos produtos básicos mais valiosos do mundo. No apogeu de Mustang, diz Charles Ramble, antropólogo da Sorbonne em Paris, caravanas atravessavam as trilhas acidentadas da região transportando sal.
Tempos depois, no século 17, reinos vizinhos passaram a dominar Mustang, diz Ramble. Sobreveio o declínio econômico. A Índia passou a fornecer sal mais barato. As grandes estátuas e as mandalas coloridas dos templos de Mustang começaram a se esfarelar. Logo a região se viu quase esquecida, perdida além das grandes montanhas.
Em meados dos anos 1990, arqueólogos da Universidade de Colônia e o Nepal começaram a sondar algumas das cavernas mais acessíveis. Encontraram dezenas de corpos, todos com no mínimo 2.000 anos, alinhados em leitos de madeira e decorados com joias de cobre e contas de vidro, produtos que, por não serem fabricados na região, atestavam a condição de artéria comercial de Mustang.
Pete Athans teve seu primeiro vislumbre das cavernas de Mustang quando percorria trilhas nas montanhas em 1981. Muitas das cavernas pareciam inacessíveis — davam a impressão de que era preciso ser pássaro para chegar lá. E esse desafio instigou Athans, um talentoso alpinista que subiu ao cume do Everest sete vezes.
Mas só em 2007 ele conseguiu a indispensável autorização. Mustang, diz ele, tornou-se então “a maior expedição da minha vida”.
Em 2007 uma equipe co-liderada pelo investigador e perito no Himalaya, Broughton Coburn e veterano montanhista Pete Athans escalaram os penhascos para explorar as cavernas. Dentro das cavernas, a equipe encontrou antigos santuários budistas tibetanos requintadamente decorados com murais pintados, incluindo uma representação de 55 painéis da vida de Buda.
A segunda expedição, em 2008, descobriu vários esqueletos humanos de 2000 anos e recuperou maços de preciosos manuscritos, alguns com pequenas pinturas.
Saqueadores invadiram as cavernas ao longo dos séculos. Além disso peregrinos religiosos teriam danificado as paredes da caverna para coletar lembranças.
Ainda assim, os pesquisadores foram capazes de coletar e documentar os manuscritos de cerca de 30 volumes, que foram então transferidas para a custódia ao mosteiro central do Mustang.
Preservada pelo frio da região serrana e pelo o clima árido, os manuscritos antigos contêm uma mistura de textos do budismo e Bön, anterior a fé tibetana nativa, disse Coburn. Esta combinação sugere que as crenças Bön sobreviveram por pelo menos um século ou dois na região após a conversão ao budismo tibetano, que começou no século VIII, disse Coburn.
A equipe suspeita que os reis do Mustang abandonaram textos sagrados Bön nas cavernas, como uma alternativa respeitosa, para não destruí-los. Mark Turin, do Himalaya Digital Project da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, também pensa que esta era uma possibilidade.
Mas também é possível encontrar o laço com a tradição tibetana deliberadamente escondendo textos religiosos, disse Turim, que não foi envolvido na expedição da National Geographic Society. ”Há um sentido real de descoberta da tradição tibetanas”, disse ele. Hoje Mustang é descrita como “o fim do mundo” e é culturalmente isolada do Tibete ocupada pelos chineses, Turim acrescentou. As novas descobertas mostram agora que o Mustang foi “para muitos, por centenas de anos um lugar absolutamente central, uma cidade vibrante, dinâmica, culturalmente rica, e com diversidade religiosa”.
Desde então, grupos de pesquisadores continuaram a investigar as "Caves do Mustang". Aqueles que tiveram a sorte de visitar as grutas misteriosas disseram que tinham a impressão de estar na frente de um castelo de areia gigante.
Um deles é Cory Richards, fotógrafo, que, juntamente com o arqueólogo Mark Aldenderfer, participou da primeira expedição com alpinista Pete Athans e uma equipe de exploradores, visitou o local em busca de relíquias escondidas nas cavernas inexploradas. "Honestamente, quando cheguei percebi que o sitio é maior do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado", disse Richards.
Em algumas cavidades foram encontrados vários manuscritos e murais retratando a história do budismo. Os pesquisadores acreditam que o uso das cavernas de Mustang pode ser dividido em pelo menos três períodos.
As cavernas possivelmente foram usadas como salas funerárias a pelo menos 1000 aC. Mas é possível que as grutas foram depois utilizadas pela antiga população local como refúgio em caso de ataque.
A maioria das cavernas, de fato, parece estar vazia, entretanto em algumas delas foram encontrados sinais de vida doméstica: fogueiras, ferramentas e recipientes.
Richards ficou animado com a experiência. Como ele mesmo disse, tentou transmitir a beleza das Grutas de Mustang com o seu trabalho como fotógrafo: "Essencialmente, no final desta experiência, que tem sido esclarecedora para mim é a combinação de ciência, pesquisa e cultura", conclui.
IMAGENS DE BUDA:
Na expedição de 2007, imagens coloridas de Budas do século XII foram descobertas, nesse remoto complexo de 12 cavernas do Nepal, a 4.300m de altitude, na região norte central do país, pela equipe internacional de cientistas: cinco americanos, entre eles Peter Atheans, que escalou o Monte Everest sete vezes, italianos, como o especialista em arte Luigi Fieni. Eles acharam um mural com 55 painéis, 7,6m de largura, contando a história do Buda Sakiamuni.
As cavernas ficam em local de difícil acesso, 250km a nordeste da capital Katmandu, uma área que há séculos tem sido usada como passagem entre o Nepal e o Tibet. O terreno, extremamente íngreme, foi revelado por pastores da região e foram necessárias ferramentas de alpinismo no gelo para vencer o paredão de rochedos.
O lugar abriga muitos tesouros antigos. Além do mural e das outras pinturas, em muitas paredes, executadas em tinta, ouro e prata, de diferentes períodos históricos, também há manuscritos tibetanos, que foram fotografados para serem traduzidos por especialistas, cerâmica da era Pré-Cristã, estupas, arte decorativa e muitos Budas em diferentes atitudes. Algumas câmaras foram usadas como sepulcros.
Cada complexo possui cerca de 20 aberturas e seus múltiplos pisos são conectados por passagens verticais dotadas de precários degraus e corrimões. No mural de uma destas cavernas, uma representação de paisagem tropical: palmeiras, pássaros e outros animais.
O norte-americano Broughton Coburn pergunta: "Quem viveu nestas cavernas e por quê este lugar escavado no topo dos abismos, de tão difícil acesso?
A equipe se recusa a divulgar a exata localização das cavernas, temendo que visitantes possam vandalizar as peças centenárias. Se estiverem, no todo ou em parte em território tibetano as autoridades chinesas podem se sentir no direito de interferir na pesquisa.
SHANGRI-LA
Esse tesouro de arte tibetana e os manuscritos descobertos nas cavernas do Himalaia podem estar ligados ao livro “Paraíso Perdido”, que descreve o paraíso Shangri-La, diz a equipe que fez a descoberta.
O tesouro sagrado parece coincidir com as descrições de tesouros que seriam encontrados nos ”vales escondidos” budistas, que serviu de base para o Shangri-Lá, no romance do escritor britânico James Hilton, de 1930, o popular “Horizonte Perdido”.
Os tesouros incomuns levaram Coburn e sua equipe a sugir que as cavernas Mustang pode estar ligadas aos “vales escondidos” representando o paraíso espiritual budista conhecido como Shambhala. "Shambhala também é considerado por muitos estudiosos com paralelo geográfico que podem existir em vários ou muitos vales do Himalaia”, disse Coburn. ”Estes vales escondidos foram criados em momentos de lutas e quando as práticas budistas e os seus monges estavam ameaçados”, disse Coburn. ”Os vales escondiam os tesouros”.
Elaine Ribeiro, autora da pesquisa de Shambhala, disse que os vales escondidos de Mustang realmente “tem algumas das características da terra mítica de Shambhala”.
Para o seu romance de 1933, Hilton usou o conceito de Shambhala como base para seu vale perdido de Shangri-Lá, uma comunidade isolada na montanha, que foi um celeiro de sabedoria cultural. Mas Brook, assim como o Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos, acha que “hoje em dia, ninguém sabe onde é Shambhala”.
Shangri-La ou não, as cavernas Mustang precisam urgentemente de preservação, de acordo com Coburn, Athans, e seus colegas. Além de saqueadores, disse Coburn, as cavernas de 6.000 anos de idade, enfrentam ameaças de colecionadores de souvenirs, erosão, terremotos e chuvas torrenciais, mas pouco frequente.
Em Mustang, onde os séculos não destruíram o ritmo da vida tradicional, as cavernas permitem vislumbres do tempo em que o remoto reino himalaio foi um centro que ligava o Tibete ao resto do mundo.
Fonte:http://muitoalem2013.blogspot.com.br/2014/06/as-cavernas-sagradas-do-himalaia.html
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