O puro amor não exige objeto
Pergunta: Falais muito, no presente, da pura vida, do puro ser. Uma tal concepção parece moldar-se no que é metafísico. Podeis trazer essa concepção à uma forma mais relacionada com a conduta na experiência diária?
Krishnamurti: Perfeitamente. Tomai um exemplo — continuarei a falar sobre isto amanhã. O desejo pelo conforto; isto é, o que eu chamo reação. Não é puro ser, pura vida. O conforto implica medo, acalenta o temor. Conforto, seja físico, emocional ou mental; o conforto que depende, para vosso bem estar, da pessoa de outrem; que vos faz temer a solidão; um tal desejo de conforto, é sempre reação e não é a pura exteriorização do Ser. Pura ação, puro ser, pura vida, baseado na verdade, não dependem para sua felicidade, para sua integridade, para seu êxtase, de reações emitidas por objetos fora dela mesma. Olhai para dentro de vossos próprios corações e mentes e haveis de verificar como estais emocionalmente dependendo, para vosso crescimento, de alguma outra pessoa — dependeis de outrem para vosso conforto. Mais uma vez, achai-vos limitados pelo vosso amor à uma pessoa — e não ao Todo. Daí, um tal amor, posto que potencialmente seja ação pura acha-se ainda colhido pelas reações da tristeza, da dor e do prazer. Mais adiante, por meio do amor à uma pessoa, ampliareis o amor cada vez mais; e assim, desfazem-se as paredes da reação. Para chegar à esta Pura Vida, à este Puro Ser, (para isto inventaremos amanhã novos termos) precisais de amar a alguém; é preciso que haja este intenso desejo de afeto, de amor. O homem sábio porém, não se satisfaz somente com isto. O sábio, em sua luta para chegar à pureza, à incorruptibilidade do amor — do amor que é, ele mesmo, sua própria eternidade —, está a todo o momento crescendo por meio do sofrimento, acalentado por esse amor estreito. Seguramente é isto que está acontecendo a todos na vida? Assim, enquanto não chegardes a esse estado em que o amor não exige objeto, não tereis encontrado o puro amor que não tem reação. No fim de contas, amais a uma pessoa e depois multiplicais esse “eu sou” que existe nos muitos, até que os muitos tenhais incluído nele. Este é o amor ao qual eu chamo “pura ação”.
Krishnamurti em Reunião de Verão, Eerde, 19 de julho de 1930
Fonte:http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2016/07/o-puro-amor-nao-exige-objeto.html
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