YOGANANDA - CONSCIÊNCIA CÓSMICA

Yogananda – Consciência Cósmica


O livro Autobiografia de um Iogue narra a crônica da vida de Paramahansa Yogananda, desde a sua infância na Índia, quando já buscava a orientação de um mestre espiritual auto-realizado que pudesse lhe mostrar o caminho para Deus; aponta a existência de muitos santos e sábios antes ocultos aos olhos do mundo; o período de formação no Eremitério de seu guru Swami Sri Yukteswar; e passa pelos trinta anos em que viveu nos Estados Unidos, consolidando sua mensagem ao Ocidente.
O livro é considerado um clássico espiritual moderno por editoras, livrarias e escritores de variadas nacionalidades, na virada do milênio a Autobiografia de um Iogue foi nomeada uma das “100 mais importantes obras espirituais do século XX.”


Vem integrando constantemente a lista de best-sellers e é usado como referência em universidades de todo o mundo, em cursos de filosofia, psicologia, literatura inglesa, educação, antropologia, história e até mesmo administração de empresas, demonstrando grande harmonia com paradigmas e tendências da presente era.

Em capítulos fascinantes, com requintado humor e calorosamente humanos, Paramahansa Yogananda explica com clareza científica, as leis sutis, mas definidas, por meio das quais os iogues fazem milagres e atingem o autodomínio. Ele descreve seus treinamentos espirituais e experiências com cientistas, santos hindus, muçulmanos e católicos, como Mahatma Ghandi, Teresa Neumann, Lutero Burbank, entre outros.


Um cativante relato de uma singular busca da Verdade e uma profunda introdução à toda ciência e filosofia da ioga, revelando a unidade subjacente às grandes religiões do Oriente e do Ocidente, encontrada nos ensinamentos de mestres da India, de Jesus Cristo e dos profetas da bíblia. Confira abaixo um trecho do livro, onde Yogananda revela uma experiência em Consciência Cósmica que atingiu durante seu treinamento espiritual:


– Aqui estou, gurují. – Meu semblante envergonhado falava mais eloqüentemente do que eu.

– Vamos à cozinha buscar algo para comer. – A atitude de Sri
Yuktéswar era tão natural como se apenas horas, e não dias, nos tivessem separado.

– Mestre, devo ter-lhe desapontado com minha brusca partida, abandonando meus deveres aqui; pensei que estaria zangado comigo.
– Não, é claro que não! A cólera nasce unicamente de desejos contrariados. Eu nada espero dos outros; logo, suas ações não se podem opor aos meus desejos. Não o usaria para meus próprios fins; somente me faz feliz a sua verdadeira felicidade.
– Senhor, ouve-se falar de amor divino em forma vaga, mas hoje estou recebendo um exemplo concreto dele através de seu angélico espírito! No mundo, até mesmo um pai não perdoa facilmente a seu filho, se este abandona os negócios paternos sem aviso prévio. O senhor, porém, não
demonstra o mais leve aborrecimento, apesar de minha partida lhe haver causado grandes inconvenientes pelas muitas tarefas inacabadas que deixei atrás de mim.


Nossos olhares, onde lágrimas cintilavam, engolfaram-se um no outro. Uma onda de beatitude me inundou; eu tinha consciência de que o Senhor, sob a forma de meu guru, expandia os pequenos ardores de meu coração até alcançar as vastidões do amor cósmico.
Poucas semanas haviam decorrido quando entrei na sala-de-estar do Mestre, vazia então. Eu planejara meditar, mas este louvável propósito não foi compartilhado por meus pensamentos desobedientes. Eles se dispersavam como pássaros diante do caçador.

– Mukunda! – A voz de Sri Yuktéswar soou, proveniente de um lugar distante.
Senti-me tão rebelde quanto meus pensamentos. – O Mestre está sempre me incitando a meditar – murmurei para mim mesmo. – Ele não deveria me perturbar quando sabe o motivo de minha vinda a esta sala.
Novamente me chamou; permaneci em obstinado silêncio. Na terceira vez, seu tom era ríspido.
Senhor, estou meditando – gritei, em protesto.
– Sei como está meditando – disse meu guru, em voz alta.
Com sua mente dispersa como folhas numa tempestade! Venha cá.

Contrariado e desmascarado, encaminhei-me tristemente para ele.
– Pobre rapaz, as montanhas não lhe podem dar o que deseja.
– O Mestre falou de maneira cariciosa, confortadora. Seu olhar tranqüilo
era insondável. – O desejo de seu coração se realizará.

Raras vezes Srí Yuktéswar expressava-se por enigmas; eu estava surpreendido. Ele golpeou meu peito levemente, acima do coração.

Meu corpo tornou-se imóvel como se tivesse raízes; o alento saiu de meus pulmões como se um imã enorme o extraísse. Instantaneamente o espírito e a mente romperam com sua escravidão ao físico e jorraram de cada um de meus poros como luz perfurante e fluida. A carne parecia morta e, contudo, em minha intensa lucidez, eu percebia que nunca antes estivera tão plenamente vivo. Meu senso de identidade já não se achava confinado à estreiteza de um corpo, mas abarcava os átomos circundantes. Pessoas em ruas distantes pareciam mover-se suavemente em minha própria e remota
periferia. Raízes de plantas e árvores eram percebidas através de uma tênue transparência do solo; e eu distinguia a interna circulação da seiva.


A vizinhança inteira surgia desnuda diante de mim. Minha visão frontal comum havia se transformado em vasto olhar esférico que percebia tudo simultaneamente. Através de minha nuca, vi homens caminhando além da distante viela de Rai Ghat e também notei uma vaca branca aproximando-se
preguiçosamente. Quando ela chegou à porta aberta do ashram, observei-a como se o fizesse com meus dois olhos físicos. Depois que passou para trás do muro de tijolos do pátio, continuei a vê-la, claramente.


Todos os objetos dentro de meu olhar panorâmico tremiam e vibravam como rápidos filmes cinematográficos. Meu corpo, o corpo de meu Mestre, o pátio com suas colunas, a mobília, o assoalho, as árvores e a luz do sol, tornavam-se, de vez em quanto, violentamente agitados até que tudo se fundia num mar luminescente, assim como os cristais de açúcar, mergulhados num copo de água, diluem-se depois de serem sacudidos. A luz unificadora alternava-se com materializações de forma e as metamorfoses revelavam a lei de causa e efeito na criação.

Uma alegria oceânica rebentava nas praias serenamente intermináveis de minha alma. Atingi a realização de que o Espírito de Deus é Beatitude inesgotável; Seu corpo compreende incontáveis tecidos de luz. Um sentimento de glória crescente dentro de mim começou a envolver cidades,
continentes, o planeta, os sistemas solares e as constelações, as tênues nebulosas e os universos flutuantes. O cosmo inteiro, suavemente luminoso, semelhante a uma cidade vista de alguma distância à noite, cintilava dentro da infinidade de meu ser, para além de seus contornos definidos, a luz ofuscante empalidecia ligeiramente nos confins mais longínquos; ali eu via uma radiação branda, nunca diminuía. Era indescritivelmente sutil; as figuras dos planetas constituíam-se de uma luz mais densa.


Os raios luminosos dispersavam-se oriundos de uma Fonte Perpétua, resplandecendo em galáxias, transfiguradas com auras inefáveis, Vi, repetidas vezes, os fachos criadores condensarem-se em constelações e depois dissolverem-se em lençóis de transparente chama. Por reversão rítmica, sextilhões de mundos transformavam-se em brilho diáfano e, em seguida, o fogo se convertia em firmamento.

Conheci o centro do empíreo como um ponto de percepção intuitiva em meu coração. Esplendor irradiante partia de meu núcleo para cada parte da estrutura universal. O beatífico amrita, néctar da imortalidade, corria através de mim, com fluidez de mercúrio. Ouvi ressoar a voz criadora de
Deus, AUM, a vibração do Motor Cósmico.


De súbito, a respiração voltou aos seus pulmões. Com desapontamento quase insuportável, constatei que havia perdido minha infinita vastidão. Mais uma vez me limitava à jaula humilhante do corpo, tão desconfortável para o Espírito. Como filho pródigo, eu fugira de meu lar macrocósmico e me encarcerara em um estreito microcosmo.

Meu guru continuava de pé, imóvel diante de mim; inclinei-me, no intento de me prostrar a seus santos pés em gratidão por me haver concedido a experiência da Consciência Cósmica que tão apaixonadamente eu buscara. Mas ele me impediu e, retendo-me de pé, disse com
tranqüilidade:

Você não deve se embriagar com o êxtase. Muito trabalho ainda resta para você fazer no mundo. Venha, vamos varrer o chão da sacada; depois caminharemos ao longo do Ganges.

Fui buscar a vassoura; o Mestre, eu sabia, estava me ensinando o segredo da vida equilibrada. A alma deve alargar-se sobre os abismos cosmogônicos, enquanto o corpo executa seus deveres diários. 

Fonte:

http://verdademundial.com.br/2016/05/yogananda-consciencia-cosmica/

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