A força serpentina
Quando falamos docemente no horto puríssimo da Divina Linguagem, que como um rio de ouro corre sob a espessa selva ensolarada, torna-se para nós impossível esquecer a mágica sílaba “S”, a qual ressoa na relva como um silvo doce e suave.
Essa é a sutil voz, aquela que Elias ouviu no deserto. Apolônio de Tiana envolvia-se em seu famoso manto de lã para rogar aos deuses santos, pedindo o enigmático som.
A mística nota, a “S” mágica, conferia ao velho hierofante o poder para sair em astral conscientemente. A sílaba “S” tem certa semelhança com a letra hebraica “Tsad”, enquanto a sigma grega, triforme, relaciona-se com a primeira e com a Shin e a Samek. Esta última quer dizer “amparo” e tem o valor cabalístico de 60. Foi-nos dito, e isto qualquer cabalista sabe, que Shin tem o valor 300 e significa “dente”. A soma dessas duas letras equivale aos 360 graus do círculo e aos dias siderais do ano solar.
Porém, os gnósticos devem ir mais longe, inquirir, indagar, buscar, descobrir a íntima relação existente entre a serpente e a cruz. O “S” (serpente) e o “T” (cruz) são dois símbolos esotéricos que se complementam.
A letra “S” é uma verdade jeovística e vedantina ao mesmo tempo; o poder serpentino ou fogo místico; a energia primordial ou Shakti potencial que jaz adormecida no centro magnético do osso coccígeo. Muladhara é o nome sânscrito deste centro mágico; esta é a Igreja de Éfeso.
A Kundalini é a força primitiva do universo, o poder oculto, elétrico, que subsiste em toda matéria orgânica e inorgânica. A conexão sexual do Phalo e do Útero forma a cruz. A Kundalini, a letra “S” mágica, a cobra, encontra-se intimamente relacionada com essa Cruz ou Tau. O fogo serpentino desperta o poder da Santa Cruz.
Em hebraico, Tau tem, precisamente, o significado maravilhoso da Cruz, terminando como 22ª letra do alfabeto e com valor numérico de 400.
Torna-se fácil compreender que a vogal U é uma letra moderna, derivada de V; e a letra G, do C, pela urgente necessidade de se haver uma distinção clara entre os dois sons, adquirindo, naturalmente, uma forma prática, idêntica à grega.
Observe-se muito atentamente essa curva maravilhosa que desce e sobe. A humilhação ou descida aos mundos infernos; ou a Nona Esfera (o sexo), que se faz necessária da exaltação ou sublimação.
A descida à Nona Esfera (o sexo) foi, desde os tempos antigos, a prova máxima para a suprema dignidade do hierofante. Hermes, Buda, Jesus, Dante, Zoroastro, tiveram de passar por essa terrível prova. Quem quiser subir, primeiro deve descer. Esta é a Lei. Toda exaltação é precedida sempre por uma humilhação.
Na Nona Esfera, Marte desce para retemperar a espada e conquistar o coração de Vênus. Hércules desce para limpar os Estábulos de Áugias; e Perseu para cortar a cabeça da Medusa com a sua espada flamígera.
O círculo perfeito com o ponto mágico, símbolo sideral e hermético do Astro-Rei e do princípio substancial da Vida, da Luz e da Consciência Cósmica é, sem dúvida, um emblema fálico poderoso e maravilhoso.
Esse símbolo expressa claramente os princípios masculino e feminino da Nona Esfera.
O princípio ativo de irradiação e penetração complementa-se no nono círculo com o princípio passivo de recepção e absorção. A serpente bíblica nos apresenta a imagem do Logos Criador ou Força Sexual que começa sua manifestação desde o estado de potencialidade latente.
O Fogo Serpentino, a Víbora Sagrada, dorme enroscada três vezes e meia dentro da Igreja coccígea. Se refletirmos seriamente nessa íntima relação existente entre as letras S e a Tau, cruz, ou T, chegamos à conclusão lógica de que só mediante o Sahaja Maithuna (magia sexual) pode-se despertar a serpente criadora.
A chave, o segredo, tenho publicado em quase todos os meus anteriores livros e consiste em não derramar jamais o Vaso de Hermes durante o transe sexual. Conexão do Lingam-Yoni (Phalo-Útero) sem ejacular jamais a Ens Seminis (a entidade do sêmen), porque nessa citada substância se encontra latente toda a Ens Virtutis do fogo.
IAO é o mantra fundamental do Sahaja Maithuna. Cante-se cada letra separadamente noLaboratorium Oratorium do Terceiro Logos (durante a cópula sagrada).
A transmutação sexual da Ens Seminis em energia criadora é um legítimo axioma da sabedoria hermética. A bipolarização desse tipo de energia cósmica no organismo humano foi, desde antigos tempos, analisada nos Colégios Iniciáticos do Egito, do México, da Grécia e da Índia.
A ascensão da energia seminal até o cérebro faz-se possível graças a certo par de cordões nervosos que, em forma de 8, desenvolvem-se à esquerda e à direita da espinha dorsal.
Chegamos, pois, ao Caduceu de Mercúrio, com as asas do espírito sempre abertas. O mencionado par de cordões nervosos jamais poderá ser encontrado com um bisturi, porque é de natureza etérica, tetradimensional.
Essas são as duas testemunhas do Apocalipse, as duas oliveiras, os dois candelabros que estão diante do Deus da Terra e se alguém os quiser danificar, “sai fogo da boca dos mesmos e devora os seus inimigos”.
Na sagrada terra dos Vedas, esse par de nervos é conhecido com os nomes de Idá e Píngala. O primeiro relaciona-se com a fossa nasal esquerda e o segundo, com a direita. O primeiro desses dois famosos nadis é de natureza lunar e o segundo, de tipo solar.
Alguns estudantes gnósticos surpreendem-se ao saber que Idá, sendo de natureza fria e lunar, tenha suas raízes no testículo direito; e que, sendo Píngala do tipo estritamente solar, parta, realmente, do testículo esquerdo. Não nos surpreendamos porque tudo na natureza baseia-se na Lei das Polaridades.
O testículo direito encontra seu antipolo exato na fossa nasal esquerda e o testículo esquerdo encontra o seu antipolo perfeito na fossa nasal direita.
A fisiologia esotérica ensina que no sexo feminino as duas testemunhas partem dos ovários. Nas mulheres, a ordem desse par de oliveiras do templo inverte-se harmoniosamente.
Velhas tradições que surgem da profunda noite dos séculos dizem que quando os átomos solares e lunares do sistema seminal fazem contato no Triveni, próximo ao cóccix, então, por indução elétrica, desperta-se uma terceira força mágica, a Kundalini, o fogo místico do arhat gnóstico.
Está escrito nos velhos textos da sabedoria antiga, que o orifício inferior do canal medular nas pessoas comuns e correntes encontra-se hermeticamente fechado. Os vapores seminais abrem-no para que a cobra sagrada penetre por ele.
Ao longo do canal medular processa-se um conjunto maravilhoso de variados canais: recordemos Sushumaná, o Vajra, o Chitra, o Centralis e o Brahmanadi. Por este último ascende a Kundalini.
É uma espantosa mentira afirmar-se que após haver encarnado o Jiva-Atma dentro do coração, a serpente sagrada empreenda a viagem de retorno até encerrar-se novamente no chacra Muladhara.
É uma horrível falsidade afirmar-se que a serpente ígnea de nossos mágicos poderes, depois de haver gozado de sua união com Paramashiva, separa-se, iniciando a viagem de retorno pelo caminho inicial.
Esse retorno fatal, essa queda até o cóccix, ocorre somente quando o iniciado derrama o sêmen. Aí, então, ele cai fulminado sob o raio terrível da Justiça Cósmica. A ascensão da Kundalini ao longo de seu canal espinhal realiza-se muito lentamente, de acordo com os méritos do coração. Os fogos do Cárdias controlam a ascensão milagrosa da serpente sagrada.
Devi Kundalini não é algo mecânico como muitos supõem. A serpente sagrada desperta com o verdadeiro amor entre homem e mulher e jamais sobe pela espinha dorsal dos adúlteros e perversos.
É bom sabermos que quando Hadith, a Serpente Alada de Luz, desperta para iniciar sua marcha ao longo do canal medular espinhal, emite um som misterioso muito similar ao de qualquer víbora, quando assustada com um pau, o que nos faz recordar a mágica letra S.
A Kundalini movimenta-se, revoluciona-se e ascende dentro da aura maravilhosa do Maha Chohan. O fogo sagrado, ao chegar à altura do coração, abrem-se as asas ígneas do Caduceu de Mercúrio e podemos penetrar em qualquer departamento do Reino instantaneamente.
A subida do fogo sagrado ao longo do canal espinhal, vértebra após vértebra, grau após grau, é muito lenta. Os 33 graus da Maçonaria Oculta de um Ragon ou de um Leadbeater correspondem a essa soma total de vértebras espinhais.
Quando o Alquimista derrama o Vaso de Hermes – refiro-me à ejaculação seminal –, ocorre a perda de graus esotéricos, porque a Kundalini desce uma ou mais vértebras, de acordo com a magnitude da falta.
Amfortas, o venerável senhor do Santo Graal, entre os braços impudicos de Kundry, Gundrígia, Herodias, a Eva tentadora da mitologia hebraica, derrama o Mercúrio da Filosofia Secreta, caindo fulminado com o Arcano 16 da Cabala.
A queda dos anjos rebeldes a ninguém beneficiou e a todo o mundo prejudicou, infelizmente. Se eles não houvessem derramado o Vinho Sagrado, muito diferente seria seu Nêmesis. A lira de Orfeu jamais teria caído sobre o pavimento do templo feita em pedaços.
Baixar à Nona Esfera não é proibido, mas indispensável, para toda exaltação. Porém, cair é diferente, e Amfortas caiu, tu o sabes. Quando a Kundalini alcança o Sahasrara, o lótus de mil pétalas, situado na parte superior do cérebro, desposa-se com o Senhor Shiva, o Terceiro Logos, o Espírito Santo.
Está escrito com letras de ouro no livro do oculto mistério que o famoso Tatwa Shiva Sakti governa o Sahasrara (a Igreja de Laodiceia).
No Magistério do Fogo sempre somos assistidos, e assistimos periodicamente aos aspirantes. A Universidade Adhiátmica dos sábios examina-nos pelos Elohim. Eles nos aconselham e ajudam.
Na medula e no sêmen acha-se a chave da salvação humana, e tudo o que não for por ali é inútil perda de tempo.
Kundalini é a Deusa da Palavra adorada pelos sábios. Somente Ela pode conferir-nos a iluminação. Quando a Kundalini desperta e inicia sua ascensão sublime, para dentro e para cima, o Alquimista consegue seis experiências transcendentais, a saber:
Ananda, certa felicidade espiritual
Kampan, hipersensibilidade elétrica e psíquica
Utthan, aumento na porcentagem de consciência objetiva
Ghurni, intensos anseios místicos
Murcha, estados de lassidão ou relaxamentos espontâneos durante os exercícios esotéricos
Nidra, algum modo específico de sono que, combinado com a meditação, converte-se em Samadhi (êxtase).
Kampan, hipersensibilidade elétrica e psíquica
Utthan, aumento na porcentagem de consciência objetiva
Ghurni, intensos anseios místicos
Murcha, estados de lassidão ou relaxamentos espontâneos durante os exercícios esotéricos
Nidra, algum modo específico de sono que, combinado com a meditação, converte-se em Samadhi (êxtase).
Dar testemunho da verdade jamais poderá ser um delito. Em minha condição de Kalki Avatara, ou Sosiosh, da nova Era de Aquário, declaro o seguinte: “Com todos os múltiplos processos pseudoesotéricos em voga, ensinados em diversas escolas, não é possível o despertar da Kundalini”.
O sistema fole, com todos os seus variados pranayamas; as diversas Asanas e formas do Hatha Yoga; os Mudras, Bhaktis, Bandhas, jamais poderão manter em atividade o fogo serpentino.
As ígneas partículas que escapam da flama sagrada durante certas práticas yogues não significam o despertar da Kundalini, porém, muitos confundem as Chispas com as Chamas.
O fogo serpentino somente pode despertar e ascender com a magia sexual (Sahaja Maithuna). O advento do fogo é o evento cósmico mais extraordinário. O ígneo elemento vem a transformar-se radicalmente, transformando-nos.
No instante em que escrevo estas linhas ardentes, vem-me à memória certa lembrança transcendental: uma vez, durante uma viagem incorpórea, em estado de Êxtase, ou Samadhi, atrevi-me a interrogar minha Mãe Divina Kundalini sobre o seguinte: “É possível que alguém no mundo físico possa se autorrealizar sem a necessidade da magia sexual?” A resposta foi terrível: “Impossível, filho meu!” “Isso não é possível!”, disse-me com tanta veemência que, francamente, senti-me comovido.
O fogo serpentino é a “Díada” mística, o desdobramento da unidade da Mônada, o feminino aspecto eternal de Brahma, “Deus Mãe”. A serpente ígnea nos confere infinitos poderes, entre eles o Mukti da beatitude final e o Jnana da libertação.
Fonte:http://www.gnosisonline.org/tantrismo/a-forca-serpentina/
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