A filosofia de 'não-violência' do ícone Gandhi
da independência da Índia continua desafiadora
Quase 60 anos após a morte de Mahatma Gandhi, seu princípio de "não-violência" continua a desafiar espíritos em todo o mundo. Preso, humilhado e subjugado várias vezes em vida devido à cor, origem, nacionalidade, ele respondeu a seus agressores de muitas maneiras apresentando a lei, jejuando, liderando boicotes econômicos. Nenhuma de suas respostas, porém, continha qualquer ato de agressão. Absorvendo conceitos do hinduísmo, do islamismo e até do cristianismo, abandonou todos os requintes da vida e escolheu o caminho da simplicidade. E ainda conduziu uma nação, a Índia, à independência.
Mohandas Gandhi (seu verdadeiro nome)
Nasceu no dia 3 de outubro de 1869, na cidade de Porbandar. Seus pais eram descendentes de mercadores a palavra gandhi, aliás, identifica os vendedores de alimentos e a casta à qual a família pertencia. Aos 13 anos, casou-se com Kasturbai, de mesma idade, numa união acertada entre as famílias. Aos 19, partiu para Londres para estudar Direito. Formado, transferiu-se para Durban, na África do Sul, onde verdadeiramente começou sua jornada política, pacifista e espiritual.
A jornada.
Certa vez, quando viajava na primeira classe de um trem, foi informado de que teria que se transferir para a terceira classe devido à cor de sua pele morena, tipicamente hindu. Gandhi se recusou a obedecer a ordem e foi atirado para fora da composição. O incidente, dizem os biógrafos, deram e ele a consciência das desigualdades de cor e poder. Logo em seguida, ele iniciou a trajetória como advogado, militando contra leis discriminatórias. Já em 1913, foi preso pela primeira vez, ao liderar uma marcha de mineiros indianos em greve.
Ao voltar à Índia natal, adotou um novo modo de vida. Iniciou a prática de jejuar freqüentemente e meditar, além de se manter em silêncio durante um dia inteiro, uma vez por semana. Também adotou os trajes simples de fazendas típicas de seu país: deixava, assim, de lado qualquer ostentação ou conforto material.
Desobediência civil.
As ações pela independência da Índia, então ligada ao Império Britânico, intensificaram-se após o término da I Guerra Mundial, em 1918. Então, Gandhi se filiou ao Congresso Nacional Indiano, cuja atuação seria decisiva no processo de separação. Porém, a autonomia ainda estava distante, e muitas vidas se perderiam até a independência. Cedo, Gandhi ganhou notoriedade por suas posições, como a política de desobediência civil e o jejum como forma de protesto. Por isso, foi preso várias vezes pelas autoridades inglesas, que o viam como uma ameaça ao poder estabelecido.
Estrategista, Gandhi detonou a política conhecida comoswadeshi, um boicote por parte dos indianos a todos os produtos importados da Grã-Bretanha. Era a sua forma de provocar prejuízos aos britânicos com o objetivo de tornar a Índia um negócio pouco rentável à Coroa. Para colocar a idéia em prática, estimulou os indianos a vestir o khadi, traje caseiro, interrompendo a compra dos têxteis britânicos. Outra ação eficiente que feriu os cofres da rainha foi a chamada Marcha do Sal, ocorrida entre 12 de março e 5 de abril de 1930. Gandhi conduziu milhares de indianos ao mar, a fim de coletarem seu próprio sal de cozinha, deixando de adquirir o produto industrializado dos britânicos � além de não pagar impostos.
Partilha.
Em maio de 1933, iniciou uma greve de fome de 21 dias em protesto contra a "opressão" colonialista. Seis anos depois, voltou a protestar da mesma forma. Cada vez que iniciava o jejum, seguia-se uma comoção nacional que alimentava o desejo de libertação. Aliados propuseram várias vezes que Gandhi apoiasse um levante armado para expulsar os britânicos, mas o líder nunca permitiu. Nem mesmo em situações radicais com a do Massacre de Amritsar, em 1920: soldados britânicos abriram fogo contra uma multidão, matando centenas de pessoas que protestavam pacificamente contra a prisão de líderes nacionalistas indianos.
Encerrada a II Guerra Mundial, os britânicos não tinham mais condições de manter o domínio sobre um território tão grande como a Índia. Em sua terra, Gandhi era uma liderança quase incontestável. Assim, em 1947, britânicos, hindus e muçulmanos se sentaram para discutir a partilha do território. Optou-se pela criação de duas nações: o Paquistão, uma República muçulmana, e a Índia, República laica de maioria hinduísta. Gandhi não comemorou a partilha, à qual se opunha.
Para a formação dos dois Estados, milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas e rumar para o novo país. Muçulmanos foram para o Oeste e hinduístas marcharam para o Oriente. Durante o êxodo, houve inúmeros confrontos e milhares de mortes. Em janeiro de 1948, Gandhi iniciou outro jejum o último , desta vez visando a pacificação dos povos que até ali haviam dividido uma única nação. No dia 30, foi assassinado por Nathuram Godse, um hindu radical que acreditava que o líder pacifista havia feito muitas concessões ao Paquistão: Gandhi havia, por exemplo, concordado em honrar dívidas durante a criação dos dois Estados. O assassino, um ex-admirador de Gandhi, não fora capaz de seguir o principal ensinamento do líder: o da não-violência.
Fonte:http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/india/personagem.html
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