Yoga na Índia X Yoga no Ocidente
Depois de fazer meu curso de formação em Yoga na Índia e morar lá por um tempo, houve novas mudanças geográficas e pessoais na minha vida. Passei por 4 países, morando por diferentes temporadas, minhas raízes, minha base para estas constantes mudanças, chamou-se Yoga. Uma constante, porém com diferenças significativas.
Quando recém cheguei na Índia, meus motivos eram trabalhar na área de arquitetura, então, imediatamente para manter minha sanidade mental fui buscar aulas de Yoga ao redor do escritório onde trabalhava, na cidade de Hyderabad no estado de Andhra Pradesh.
Eu pensava ingenuinamente que em qualquer cidade da Índia teria yoga por qualquer canto, para minha surpresa foi totalmente o contrário, em uma cidade grande, mais de 15 milhões de habitantes na área metropolitana, dificilmente podia encontrar cinco estúdios que oferecessem Yoga formalmente.
O universo me ajudou e encontrei uma associação de vizinhos, onde o professor ia dar aula pras mulheres que moravam num condomínio perto da região empresarial onde trabalhava. As variantes de como eu conhecia Yoga no México, comparado com esta aula, foram impactantes:
Para o professor, Yoga era praticada (só) com uma espécie de fralda; enquanto para os praticantes, era praticada com roupas normais de vestir, que para meus olhos eram lindas demais como para talvez estragar com as posturas (sarees-vestidos indianos e kurtas-lindas, blusas tipo bata bordadas, etc) que não deixassem à imaginação ou evidentes as formas do corpo, claro. Mais ou menos como nas imagens abaixo…
Fonte: blogspot user
Fonte: restassurednursing
Outra, o professor era até certo ponto grosso com os praticantes, com um olhar sério e caráter estrito na hora dos ajustes (só verbais).
Em fim, uma experiência muito maluca, e minha busca por Yoga na Índia continuou com a abordagem da cidade espiritual ou cidade de Yoga por excelência: Rishikesh, depois passei por Dharamshala (lugar de exílio dos tibetanos e base do Dalai Lama), onde finalmente fiz a formação com os contrastes que eu precisava: A metade dos professores indianos e a outra metade dos professores europeus e canadenses. Este equilíbrio foi fundamental e me ajudou a posteriormente assim posso fazer as observações:
Observação #1:
Yoga no Ocidente é muito mais popular do que na Índia
No Ocidente, principalmente em países como Estados Unidos, México, Canadá e outros, Yoga virou febre. Nestes países é muito fácil achar um estúdio de Yoga com aulas de todo tipo a qualquer hora do dia. O ocidente comercializou Yoga com sucesso, enriqueceu as variedades e a metodologia de ensinamentos.
Na Índia, Yoga no dia-a-dia de um indiano é visto como exclusivamente um caminho espiritual.
No Ocidente, além de ser um caminho espiritual (para alguns, nem para todos os que praticam), é também uma ótima forma de se manter em forma.
Fonte: Pure Treatment Rooms UK
Observação #2:
A relação professor-aluno é completamente diferente
Como disse, no meu curso de formação tive professores indianos e ocidentais. Apesar do professor indiano encarregado da escola, ser uma pessoa com experiência nos Estados Unidos também, o estilo de ensino foi totalmente diferente comparado com o estilo dos demais.
O antigo conceito na Índia “Guru-shishya parampara” (tradição mestre-discípulo) é uma parte muito forte na cultura dentro e fora de Yoga. O mestre é reverenciado e respeitado, sendo a palavra dele considerada como -absoluta -. Isto, vem imerso a partir de coisas minuciosas, tais como o significado da palavra tão conhecida “Guru” – (quem te guia da escuridão à luz). Com este tipo de presença formal do mestre, existe um respeito dos alunos para com o mestre e, do mestre pros alunos, existe um senso de exigência maior.
Enquanto isso, no Ocidente o relacionamento aluno-professor é bem mais casual. A interação é informal e as vezes ocorre uma desatenção, alunos falando muito entre eles durante as aulas ou alunos em turma que não seguem as instruções.
Observação #3:
Os estilos de Yoga na Índia e no ocidente variam muito
Na Índia, se acredita que ser professor é a profissão mais nobre. Quando alguém passa algum conhecimento para você, é considerado uma honra. Há uma diferença muito grande em como os professores ensinam: Na Índia, as instruções são limitadas a alinhamento, respiração e atenção com linguagem simples.
No Ocidente, vários professores falam de relacionamentos, auto-cura, abertura do coração, dor, traumas, etc. Como o Bhagavad Gita diz: “There are as many yogas as there are people” – “Há tantos tipos de yoga quanto pessoas no mundo”
Fonte: Reflections Yoga
Observação #4:
Yoga e moda não se misturam na Índia
Como falei no começo do post, na Índia, se pratica com roupas normais, as que qualquer um usa para trabalhar ou sair de casa. No ocidente, foi criada uma indústria multi-milionária usando Yoga como veículo para vender produtos.
Na Índia as pessoas não se preocupam tanto com isto, não gastam muita grana para se parecerem alternativas nas aulas. Depois de tudo, Yoga é desapego do corpo e dos sentidos.
Yoga é uma parte do dia-a-dia do indiano praticante, seja homem ou mulher, podem ser vistos praticando um parado de cabeça super alinhado com as roupas tradicionais na rua.
Fonte: Buzzfeed
Na foto: Vitrine da polêmica marca de roupas esportivas “Lululemon“, que criou calças transparentes para praticar yoga.
Ainda assim, com estas diferenças, Yoga une as pessoas ao redor do mundo. Todos os que praticamos queremos alguma melhora na saúde e alguns também buscam esse caminho espiritual de libertação.
Eu acredito que nenhum caminho seja melhor ou pior. O que aprendi ao redor do mundo é que Yoga é universal. Tive a oportunidade de ver a evolução de pessoas de diferentes culturas através de diferentes caminhos dentro de Yoga, e isto é simplesmente a melhor prova de que Yoga nunca é exclusivo e separatista.
Por Carla Gonzalez
Fonte:http://yogui.co/yoga-na-india-vs-yoga-ocidente/
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